quinta-feira, 24 de maio de 2012

"Quando eu percebi, eu estava coberto de sangue..."

Não me recordo exatamente como tudo se sucedeu. Lembro que eles apareceram e me cercaram... deveriam ser uns cinquenta ou sessenta. Apontavam para mim, parte me acusando, parte zombando de mim. Eu não nasci para aguentar isso.

As emoções toscas e sem contrapontos rodopiavam dentro de mim, urrando para serem liberadas. Mas não, não era isso que eu queria. Minha vida inteira eu fui preparado para enfrentar situações como essa... entretanto, teoria é teoria e prática é prática. E, na prática, tudo é bem mais complicado.

Meu sangue fervia de raiva, toda a raiva do mundo. A primeira pedra que me acertou foi um incentivo a jogarem outras. Os bastardos riam de mim. Eu era uma aberração, um monstro. Adultos, velhos, crianças: eu era uma piada universal. Meu espírito sussurrava docemente "libere suas emoções, somente por um segundo...". Não, não, não...

Antigamente, eram multidões enlouquecidas com tochas e foices. Agora, são pessoas com as câmeras de seus celulares e seus olhares maldosos. Sempre foi assim: nunca tive um amigo de verdade. Tive algumas pessoas que tinham pena de mim, mas ninguém nunca sentiu compaixão. Tudo é muito intenso e eu resolvi deixar a fúria escoar, só por um segundo...

Quando eu percebi, eu já estava coberto de sangue.

Mas daí eu não podia mais parar."