quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Interlude III: Twelve Tolls to Midnight

Sempre no fim do ano bate aquela nostalgia.

Não sei se com vocês é assim também, mas sempre que o ano chega ao fim, eu faço uma retrospectiva e vejo o que aconteceu de bom e de ruim. Na maioria das vezes, eu noto que estive feliz durante o ano inteiro, mas que o saldo de coisas negativas foi maior. E então nasce aquela coisa de "que o ano que vem seja melhor".

Mas, sinceramente, eu nunca realmente acho que vá ser.

Porque trocar de ano não significa nada além de acordar de um dia MUITO longo. Em pouco tempo, a rotina volta. Faculdade, estágio, fins de semana com os amigos: esses são meus anos, sempre. As coisas, no fim das contas, tem a tendência de se manterem iguais. Podem mudar as pessoas, mudar os fatos, mas a verdade é que sempre parece que as coisas não foram tão boas como poderiam ter sido.

E isso pra mim é bobagem.

Diabos, a gente erra, e vai errar pra sempre. Ninguém vai passar um ano inteiro tomando decisões corretas. Aliás, é difícil passar UM DIA sem fazer uma besteira. Lógico que as coisas nunca vão ser tão boas quanto poderiam ter sido. Não tem como.

Esse ano, pra mim, foi complicado. Sei que outras pessoas também acharam isso. Não foi meu melhor ano, talvez figurando entre um dos mais difíceis. Cheguei ao fim dele exausto, querendo descansar e sem aguentar mais o que acontecia. As coisas não se ajeitaram, mas eu me acostumei ao peso.

Foi um ano onde eu aprendi muita coisa sobre eu mesmo... e sobre como eu, às vezes, preciso seguir minha vida contando somente comigo mesmo.

Aos que acham que muda alguma coisa, desejo um Feliz Ano Novo.
Aos que, como eu, não dão a mínima... até a próxima postagem.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Lost and Found 16 (Final): Angel of Babylon

A espada colidiu contra minha Lâmina, enquanto eu desviei a lança de meu corpo com a mão livre. Colidi contra o desgraçado e ambos caímos no chão.

-Ius egit vi.-repetiu ele. (A justiça precisa de força)

-Soberbia aegis est!- foi minha resposta. (O orgulho é um escudo)

Uma enorme onda de energia saiu das mãos de Justiça, mas colidiu com uma pesada barreira espiritual. Chutei, novamente, as armas de Justiça para longe.

-Ius et potestas in...-gritou ele, em desespero, mas eu fui mais rápido. (Justiça e poder na ...)

-Silence de mort!-gritei. (Silêncio da morte...)

A boca de Justiça parou de emitir som. Ele tentou rastejar para longe, mas eu segurei-o pelo pé. Agachei-me ao seu lado e então falei:

-Nex Sacramentum, meu caro. Eu não vou matá-lo.

Os olhos de Justiça arregalaram-se. Estalei meus dedos e a voz voltou ao Eterno.

-Porque?

-Poruqe você não fez nada contra mim além do que achou que deveria fazer. Eu nunca matei sem motivo; exceto, talvez, Esperança. Você me enfrentou não porque queria, mas porque decidiram que VOCÊ deveria fazê-lo. Você é como eu, um pouco mais poderoso, mas eu sou menos prudente. E é isso que nos levou a essa situação. Levante-se, Justiça, eu não tenho intenção de matá-lo.

Estendi minha mão para que ele levantasse. Ele ainda parecia incrédulo. Ouvi alguém batendo palmas.

-Que bonitinho, Orgulho. Você amoleceu seu coração malvado de pedra. Poupou alguém de sua própria raça. Interessante. Patético.-disse uma voz.

Olhei para a origem da voz. Era uma criatura alta, com quatro asas plumosas cinzentas e um par de chifres surgindo da testa. Seu rosto era cadavérico, um pouco esquelético, e seus olhos eram duas orbes verdes brilhantes. Garras saíam de suas mãos que seguravam uma espada feita de ossos. Seus pés estavam descalços, mas o resto das partes visíveis do seu corpo eram cobertas com escamas.

-Samael.-disse Justiça.-O que você quer?

-Daemon Daemone Pellitur.-disse ele.

Ouvi Justiça gritar e então desaparecer.

-Pelo visto, seu assunto é comigo.-falei.

-Não. Meu assunto é com seu irmão, Revés. Mas eu acho que posso chegar nele através de você.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Lost and Found 15; ... and Justice For All

Justiça atacou-me com as duas armas. Esquivei-me de seus golpes, bloqueei como podia suas investidas. Ira avançou contra meu inimigo, também. Ele não gostava de mim, mas ainda preferia que eu sobrevivesse. Se Justiça fosse derrotado, certamente pensariam duas vezes antes de atacar a mim ou a qualquer um de meus aliados. Mas aquela não era uma batalha para mim.

Muito menos para Ira.

Justiça acertou-me um chute no peito que me fez cair de costas no chão. Apenas um pacote de sombras colidiu com o chão e então se desfez. Eu apareci alguns metros para trás. Ira, por outro lado, não teve a mesma sorte. A lança de Justiça veio em sua direção e ele bloqueou o golpe com o cabo de seu machado. No entanto, a segunda arma do Eterno fez um arco ascendente diagonal e então cortou o Pecado ao meio.

Nova explosão de luz. Novo Eterno morto.

-Ele não era parte de minha sentença, Justiça.

-O amigo de meu inimigo também é meu inimigo, Orgulho.

-Bastardo.

Avancei na direção do adversário, minha Lâmina ansiando pelo sangue dele. O infeliz arremessou a lança em minha direção, mas consegui esquivar-me dela. A arma apareceu na mão de Justiça de novo e ele tentou uma estocada, mas eu desviei a arma. A outra arma veio em minha direção, mas bloqueei-a com minha Lâmina. Nossos corpos colidiram.

Ele caiu no chão, eu não. Chutei sua lança para longe e então chutei a outra arma. Ergui minha Lâmina para golpeá-lo.

-Ius egit vi.-disse Justiça.

Senti como se uma enorme mão tivesse me dado um soco no peito. Fui atirado a talvez trinta ou quarenta metros de altura e uns cem de distância. O desgraçado era forte.

Mas eu ainda o enxergava.

Voltei-me de frente para o chão e então teletransportei-me. Apareci no ar, caindo sobre as costas do já erguido Eterno. Ele nem iria ver daonde veio o golpe.

E então, quando eu estava a quase dois metros dele, vi sua espada vindo em minha direção.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Lost and Found 14: Scales of Justice

Eu tinha esquecido como era a sensação de absorver outro Eterno.

Como Convicção tinha sido "tirada de circulação" há milhares de anos, ninguém poderia reclamar dela. Além disso, eu tinha conquistado o direito de absorvê-la. Agora era só esperar até que Justiça me encontrasse. Não iria demorar muito.

Senti Eternos se aproximando de mim. Abri minhas asas, um sinal de alerta. Voltei-me para o grupo que se aproximava, mas logo os reconheci.

Os Seis Pecados.

-Orgulho. Onde você esteve... e porque está tão diferente?-perguntou Avareza.

-No Pesadelo.-respondi.

Todos se espantaram. Eu sabia que seria esse o efeito. Nenhum deles teria coragem de por um pé naquele plano amaldiçoado. Fracos. Mas eram meus aliados, era o que eu tinha na hora. Eu só esperava que Revés sentisse meu poder renovado. Seria uma boa ideia ter a sua ajuda.

-Mas o que você foi faz...-começou Gula, mas foi interrompido.

Senti uma lança aproximando-se de mim. Desfiz-me em sombras, como de costume, e reapareci ao lado de onde estava. A arma acertou o peito de Inveja, que gritou e então desapareceu com uma explosão de energia. A lança sumiu e reapareceu nas mãos de seu dono.

Voltado para nós, estava um dos Eternos mais poderosos que existia. Uma pesada armadura cobria todo o seu corpo, incluindo o rosto. Em uma de suas mãos, uma lança. Na outra, uma espada. Era um dos poucos Eternos que utilizava duas Lâminas. Mesmo agora, depois de absorver Convicção, eu tinha poucas chances. Mas eu tinha um plano caso as coisas dessem errado.

-Vocês. Saiam daqui. AGORA!-ordenei as outros.

-Eles ficam, Orgulho.-disse Justiça.

-Cuide dos seus lacaios, Justiça. Eu digo que eles vão.-desafiei.-E vão agora.

Quatro dos sobreviventes foram embora. Ira ficou.

-Eu fico. Você não me dá ordens, Orgulho.-disse ele.

-Idiota, você está cavando sua sepultura.-respondi.

Justiça deu um passo a frente e cravou a espada no chão.

-Orgulho. Como agente e personificação da Justiça, eu o julgarei pelas mortes dos Eternos a seguir: Dor, Esperança, Revés, Senhor das Sombras, Verdade, Inveja, Ciúmes, Fanatismo, Serenidade e Perseverança. Você nega ter matado algum desses Eternos?

-Não. Não nego.-respondi.

-Você admite-se, portanto, como executor dos Eternos citados?-perguntou de novo.

-Sim.

-A sua pena é a morte. Você a considera JUSTA?

-Sim, mas recuso qualquer proposta de rendição. Serei abatido em combate e somente em combate. Meus termos são aceitos?

-Condição aceita, Orgulho.-disse ele, retirando a espada do chão.-Agora você está com problemas sérios.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Lost and Found 13: The Essence of Conviction

-Você é ousado, Orgulho. Por outro lado, você detém o poder nessa situação. As convocarei e deixarei que escolha.

Algumas palavras ecoaram em um idioma que eu sequer conhecia. Cinco crânios coloridos surgiram voando. Azul, verde, branco, preto e vermelho. Cada uma delas gritou e então seus corpos se formaram. Pesadelo era casado com as cinco e, como "presente de casamento", amarrou-as nas entranhas do plano. Elas eram criaturas poderosíssimas, mas estavam presas por um tipo de magia tão ancestral que o próprio Tempo provavelmente esqueceu que existia. Mas o Rei do Pesadelo lembrou e rastreou aqueles traços até encontrar a fonte de tal poder. Nesse aspecto, ninguém poderia criticá-lo. Ele era um gênio.

-Elas estão aqui, Orgulho. Escolha a sua.

Familiaridade, Devoção, Convicção, Companheirismo e Verdade. Cinco Eternas conhecidas em nosso mundo como os Cinco Mitos da Realidade, porque elas desapareceram tão cedo na nossa história que eram tidas como mitos. Um outro Eterno, Mentira, utilizava o título de Verdade em nosso mundo. Nada mais irônico.

Pensei bastante. Todas eram muito poderosas, mas cada uma tinha suas particularidades. Eu precisava escolher com calma. Justiça estava atrás de mim, e para detê-lo eu precisava de algo acima de seu entendimento.

Eu preciso de...

-Convicção. É a minha escolha.

Outra sequência de vozes. Convicção caminhou até mim e ajoelhou-se. Arrogância ainda estava sob custódia. O Rei dos Pesadelos esperava que eu o largasse antes de segurar Convicção, mas logicamente ele iria me matar se eu fizesse isso.

Meus olhos se fecharam e então houve um estrondo. Um enorme portal abriu-se atrás de mim.

-Convicção, entre no portal. Eu vou levar Arrogância como garantia: atiro-o de volta quando estiver seguro.

A Eterna entrou no portal e eu a segui. Uma vez fora do Pesadelo, chutei Arrogância de volta para dentro e fechei o portal.

-Como posso agradecê-lo por salvar-me, Orgulho?-perguntou Convicção.

Minha Lâmina atravessou seu coração.

-Você já está agradecendo, querida.-respondi. E então absorvi sua essência e seu aspecto.

Senti uma torrente de poder emanando de mim. Justiça que viesse me pegar, agora. Eu sabia que ele iria me encontrar.

Agora é só esperar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Lost and Found 12: Down in the Dark

Entramos em um enorme saguão, iluminado por almas que gritavam e brilhavam. Anjos, capturados pelo Rei dos Pesadelos e mantidos como troféus, lembranças...

... e lamparinas.

O Rei dos Pesadelos encontrava-se de pé, do outro lado da câmara. Suas asas feitas de ossos espalhavam-se por toda a sala, e seus tentáculos rastejam como serpentes no chão, cobrindo todo o piso. Era, sem dúvida, uma entidade muito poderosa. Não vestia armadura e seu rosto não tinha boca. Seus olhos eram opacos

-Embaixador.-disse uma voz, surgindo do nada.-Bom vê-lo.

-Majestade, digo o mesmo.-respondi.

-Meus servos lhe trouxeram aqui a meu pedido. Peço desculpas se eles foram rudes, mas tenho plena consciência de seus poderes, Senhor das Sombras.

-Chame-me de Orgulho, Rei.

-Chamo você como eu quiser, Embaixador. Você está em meu território e só sairá daqui se eu o deixar, e no momento não me sinto inclinado a fazê-lo. Você invadiu minha biblioteca, Orgulho. Invadiu meu centro de conhecimento e desafiou meus súditos. Dê-me um motivo para deixá-lo sair vivo daqui...-disse ele.

Olhei para meus lados. Asas e um Eterno de cada lado. Dei alguns passos a frente. Eles não me seguiram.

Hora de agir.

-Tenebrum flammae ex nihilo!-berrei, apontando para Lamento.

Chamas negras queimaram todo o corpo da criatura, que saiu berrando da sala. Era uma magia antiga e poderosa, mas nada comparado ao que era realmente obscuro dentre o conhecimento arcano.

A seguir, voltei-me para Arrogância. Vários tentáculos saíram do chão e então agarram-o e carregaram o Eterno até meus braços.

Pus minha Lâmina em seu pescoço.

-O motivo é: eu vou matá-lo se você não me deixar sair.-eu disse para o Rei.

-E porque você acha que eu salvaria ele? Eu posso esperar você matá-lo e então matar você depois.-respondeu a criatura.

-Mesmo? Então você REALMENTE não tem medo que esse plano colapse caso uma entidade vinculada às entranhas da realidade morra nele? Você não hesitaria em me matar, mesmo sabendo que o poder investido para criar esse seu plano é muito inferior ao necessário para que se crie um plano estável como Terra, Céu, Inferno e Animus? Você SÓ não me matou ainda porque teme que isso aconteça! O que aconteceria com todos que estão aqui dentro? Morreriam? Desapareceriam? Voltariam para a Terra? Bom, ouse erguer uma arma contra mim e nós vamos descobrir.

O Rei dos Pesadelos gargalhou.

-Orgulho. Muito bem. Você descobriu meu segredo e compartilhou-o com um de meus súditos. Terei que tomar providências para resolver isso. Pode ir embora, se quiser.

-Antes, tem eu algo que eu quero.

-Nomeie.

-Eu quero uma parte da essência do plano. Eu quero uma de suas cinco Noivas.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Lost and Found 11: The Secret

-O que você acha que eu procuro?-perguntei.

-Você não vem ao Pesadelo sem motivo. Você quer refúgio.-disse ele.

Gargalhei.

-Não seja patético, Arrogância. Se eu quisesse refúgio, esse seria o último lugar que eu procuraria. Agora saia da minha frente, tenho contas a acertar.-disse eu.

Continuei caminhando, mas ele não se mexeu.

-Você tem muita sorte de nossa Majestade proibir confrontos entre Eternos dentro dos limites do plano.-desafiou ele.-Caso contrário, meus servos estariam limpando seu sangue de nosso chão.

-Bom, convido-o para sair daqui quando eu o fizer.-respondi.- Você não é nada, verme. Eu consigo matá-lo sem sequer sacar minha Lâmina. Não me faça perder tempo ou eu vou esquecer temporariamente que estamos em outro plano e transformá-lo no monte de poeira que você é de verdade.

Contornei-o e segui meu caminho. Meus guarda-costas me conduziram até a biblioteca onde eram guardados alguns dos mais tenebrosos segredos de todos os mundos. Comecei a ler aqueles livros, um por um.

Não sei quanto tempo passou, pois o tempo fluía diferente, mas adquiri muito conhecimento naquele intervalo. Minha loucura trouxe-me respostas. Trouxe-me o que eu queria. E para isso eu precisava...

A porta escancarou-se e Arrogância entrou, acompanhado por pelo menos cem guarda-costas e um outro Eterno que não reconheci. As criaturas cercaram-me, mas não reagi: minha Lâmina continuou onde estava, meus braços também. Agora eu sabia que eles não iriam me matar.

-Siga-nos, Orgulho. E não faça nada estúpido: agora você está sob custódia e nós temos permissão para matá-lo. O Imperador deseja falar com você-disse Arrogância.

-Seu cachorro não latiu para mim. Apresente-o, por favor.-impliquei.

-Eu sou Lamento. É um desprazer imenso conhecê-lo, falso Senhor das Sombras.-respondeu o outro.

-Bom, já que estou sendo convidado por duas amebas para fazer o que venho esperando desde o início. Eu sigo. Vocês não podem me matar por tratá-los como vocês merecem, podem?-perguntei.

-Eu não preciso de um motivo para matá-lo, Orgulho, e posso fazê-lo agora se você faz questão.- disse Lamento.

-Não seja ridículo, Lamento, eu posso ver daqui que você sequer está com vontade de me atacar. Eu não sei a que tipo de castração mental você foi submetido, mas eu poderia espancá-lo agora e você sequer reagiria. Você tem ordens explícitas de não me matar, do contrário não viria com mais cem soldados. Não desperdice o tempo de seu Imperador: leve-me até ele.

E segui caminhando.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Lost and Found 10: Shadowed

Então, o miserável Senhor das Sombras era embaixador do Pesadelo. Divertido.

Seguimos por muito tempo em direção ao tal palácio. As criaturas eram a minha escolta: não que eu precisasse, mas simbolizava que eu era parte daquilo. Pude sentir o Senhor das Sombras tornando-se mais forte. Não o suficiente, mas eu sentia seu poder crescendo, sentia ele lutando pelo controle. Mas ele ainda é fraco. Demais.

O palácio começou a ficar próximo. Era um misto de torres que cúpulas e ocupava centenas de quilômetros. Eu sabia quem era seu regente, e sabia que era um de nós, mas não sabia quem fazia parte de toda a estrutura. Se o Senhor das Sombras era o Embaixador, então não sei quem diabos estava abaixo dele na hierarquia. Quando eu o absorvi, ele não era muito poderoso. O que fez com que ele fosse promovido a tão importante cargo?

Eu só podia especular.

Continuamos caminhando, os gritos horríveis ecoando ao nosso redor. Uma visão semelhante ao inferno, mas um pouco mais brutal. Alguns humanos corriam, mas eram abatidos por horrores voadores com cinco asas ou coisas aberrativas do tipo. As criaturas abriram os portões e então adentraram.

-Levem-me para a biblioteca. É uma ordem.-disse à eles.

-Ora, ora, Embaixador, que falta de polidez a sua. Deixem-nos a sós.-disse uma voz surgindo de dentro do Palácio.

Aquela voz... eu sabia que conhecia. Não sei daonde, mas eu sabia que a conhecia.

-Bom vê-lo de novo, Senhor das Sombras. Ops, desculpe-me... Orgulho, não?-disse a voz.

-Estás desculpado, eu também não lembro quem és... sua voz, no entanto, me soa familiar.

-Ah, é lógico que eu lhe sou familiar. Andamos juntos, meu bom amigo.

Maldição, é lógico que eu conheço essa voz.

-Arrogância. Eles aceitam qualquer um aqui, nesses tempos, não é?-disse eu.

-Se deixaram você entrar, devem estar aceitando, mesmo.-respondeu ele.

-Como se eu precisasse pedir. Você, aparentemente, é abaixo de mim na hierarquia... podemos resolver isso agora, se quiser.-repliquei.

-Adoraria, mas combates entre os membros da realeza são proibidos aqui dentro. Precisamos evitar motins... não fosse isso, e o Embaixador já estaria morto.

-O Embaixador é fraco, gostaria de ver você ME enfrentando, Arrogância. Eu tenho poder aqui dentro e fora. O que você tem?

Ele sorriu.

-Eu tenho o que você procura.-disse ele.-E isso é muito mais do que você tem.

sábado, 4 de dezembro de 2010

The Blackest of My Hearts, the Sweetest of My Words

Tempos que eu não vinha aqui, segurando um demônio novo pelo pescoço e jogando ele junto ao resto da sua espécie.

E então, eu finalmente estou aqui de novo. Confuso, exausto, perdido. Não sozinho - nunca sozinho - mas solitário, sempre. Tenho bons amigos que, felizmente, estão sempre dispostos a me ajudar, mas nem sempre eles podem ou conseguem. Existem coisas que ocorrem dentro da minha cabeça e que só eu posso entrar e resolver. E é isso que eu acho que tenho que fazer.

Eu sinto falta da paz. A paz que eu sentia às vezes quando me deitava e não precisava pensar no dia seguinte e nos seguintes a ele. A sensação de "não ter no que pensar": despreocupação. Todo dia é um caos novo, diferente e imprevisível: eu sou aceito em um estágio, mas no mesmo dia perco meu cartão de ônibus e trinta reais. Eu me ferro numa prova e, na mesma semana, eu me ferro em outra. Eu tenho uma noite completamente de merda até as 4 da manhã que, de repente, se transforma numa noite ótima e numa manhã ótima. Caos. Aleatoriedade.

Exaustão é aquela coisa de cada dia ser inaguentável. Detesto isso, até porque não acredito em eternidade, o que significa que cada dia perdido é um dia perdido. Frase fantástica, essa, mas a verdade é que deixar as coisas passarem é horrível quando você não sabe quanto tempo você tem. Eu sou intenso tanto no calor quanto na frieza, e isso torna as coisas difíceis. Minhas emoções são um estímulo secundário: quem coordena as coisas, nesse reino, é a Razão, e ela toma muito tempo até se decidir.

Estar perdido, na realidade, é consequência de estar confuso e estar sem saco pra aguentar as coisas que eu tenho que aguentar. É acordar e pensar "Porque diabos eu tô acordando a essa hora?". Sair de casa e pensar "o que vai mudar na minha vida?". Estar preocupado com a faculdade, mas não conseguir estudar porque falta paciência pra essa porra. É ir fazer a prova de botânica III e sair de lá de dentro com vontade de quebrar o recorde mundial de engolimento de ouriços gigantes da Nova Zelândia. É saber o que eu quero, mas não saber porque. É saber porque, mas não achar suficiente. É não achar suficiente, mas não ter escolha.

É deixar que as coisas sejam decididas pelo "mais sombrio de meus corações": a Razão. É como eu sempre fiz, é como eu sei fazer as coisas.

É guardar para mim mesmo "a mais doce de minhas palavras" porque simplesmente não consigo mais dizê-la.

Sinto-me um anjo caído. Saí da frigideira e pulei no fogo. Tive que pegar cada pedaço do que sobrou do meu momento derradeiro no Paraíso e então ver o que eu podia fazer com isso...

... e agora eu achei minha resposta.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Lost and Found 9: This Nightmare Will Never End

Pestifera.

O plano dos pesadelos era uma área gigantesca de noite eterna e gritos constantes. Entrar de propósito era insano; entrar sem querer era torturante. Criaturas amaldiçoadas, erros grotescos dos deuses, perambulavam pelas planícies. Um erro, um único, e você se veria lutando pela própria existência...

... e perdendo.

Saquei minha Lâmina. Qualquer um que quisesse me enfrentar, me encontraria preparado. Eu lutava por minha existência, e quando o Orgulho luta para não cair, erros são fatais. Mas eu, ainda assim, estava em desvantagem. Aquelas vastidões eram quase infinitas, e eu não tinha a menor ideia do que poderia encontrar por lá. A insanidade que recebi de presente de Loucura protege minha mente dos horrores dessa terra amaldiçoada. Agora eu entendo a verdadeira intenção dela: ela nunca quis que eu pudesse fazer planos ou prever reações. Ela queria que eu mantivesse a minha consciência plena, não importasse qual a situação que eu estivesse.

E eu devo isso a ela, agora.

Caminhei durante o que pareceu ser dias. O tempo passa diferente aqui: quanto mais horrível a condição, mais tempo ela demora para passar. Por isso, cada segundo aqui parecia durar uma eternidade.

E então avistei duas criaturas gigantescas movendo-se na minha direção. Elas pareciam tentar agir de forma discreta, mas tão logo eu as percebi, elas investiram. Somente então eu percebi que estava cercado por pelo menos dez dessas criaturas. Ergui minha Lâmina.

-Eu lhes previno, criaturas: nenhuma de vocês há de sobreviver.-disse eu.

-Nós somos parte desse mundo, Eterno. Você não é, mas em pouco tempo isso deixará de ser um problema.-berrou um dos monstros.

Um tentáculo de sombras ergueu-se do chão e então derrubou-o. Investi com a minha Lâmina, mas então notei algo estranho.

Todos eles estavam parados, me encarando. Parei também, e então algo estranho aconteceu.

Todos se ajoelharam.

-Perdoe-nos, Embaixador. Confundimos você com outro Eterno. Você mudou muito, pedimos perdão. Imploramos misericórdia.-disse o mesmo que respondeu minha bravata, que eu presumo que seja o alfa do grupo.

Embaixador? Mas o que diabos está acontecendo aqui? Eu nunca pus um pé nesse mundo escuro e sombrio...

Confesso que, tão logo minha insana mente percebeu o que estava acontecendo, tive vontade de gargalhar até a morte.

-Ah, Senhor das Sombras... bela surpresa que guardaste para mim.-disse eu, em voz baixa.-Muito bem, leve-me até seu palácio.