terça-feira, 29 de junho de 2010

Shadowlord

-Esperança.- deu pra sentir o desprezo em minha voz. -Você tem algo que pertence a meu irmão.

-Você não acha que deveria ser menos hostil comigo... um mínimo de respeito depois de ter tentado me matar.-disse a garota.

-Eu não tentei. Eu consegui.-respondi.

-E no entanto, cá estou eu.-disse ela.

-Os humanos costumam dizer que "vasos ruins não quebram".

Ela me olhou com esgar. Um toque de ira surgiu em seus olhos claros, avermelhando-os por um instante.

-Eu não entendo o que eu fiz contra você. Todos os outros me adoram, me idolatram. Rezam para os anjos para que eu apareça diante deles. E você, no entanto, convoca aos Cavaleiros para que requisitem minha presença?

Olhei para ela, com calma. Seus olhos fitavam os meus, e enxergavam as estrelas ao fundo. Eu via aquele brilho irritante no fundo de seus olhos, como se no fim de toda a escuridão, houvesse luz. Mentira.

-Você é um monstro. Carrega o que resta das pessoas por caminhos que elas nunca seguiriam por elas mesmas. Arrasta seus corpos por cima de espinhos e rochas. E você fez isso comigo. Agora devolva-me a Lâmina de Revés ou eu irei arrancá-la de você.-respondi.

-Oh, querido. Você não entende, não é? Revés é uma ameaça para mim. Eu simplesmente não posso...-dizia Esperança, mas foi interrompida...

... por um chute na cara.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Shadowlord

-Onde ela está, agora? - perguntei.

-Ela deixou o Inferno. - respondeu Revés. - Não sei onde pode estar.

Não precisa saber. Se eu chamá-la, ela irá atender.

Deixei Revés no topo de uma montanha no meio do nada e então abri minhas asas e voei para longe. Muito longe. Longe o suficiente para manter meu irmão a salvo. Não temo perder tempo, muito menos tenho pressa, pois tenho a eternidade ao meu dispor.

Encontrei uma clareira no meio de uma extensa floresta. Hemisfério Norte, a julgar pelas sequoias gigantescas. Parei. Ali era um bom lugar.

Saquei minha Lâmina Eterna, criada a partir de minha própria essência e designada a servir meu propósito. As inscrições ao longo de seu comprimento eram nítidas, apesar de bilhões de anos terem se passado desde sua confecção:

"Sou a montanha que nunca desaba
Sou o vento que sempre sopra
Sou o tempo que não acaba

Da Vida, o amor desvanecerá
Da Morte, a tristeza irá findar
E no fim da eternidade
Somente o Orgulho irá restar"

Cortei minha mão e deixei o sangue verter.

"Além dos ventos do Norte,
Onde no frio, reside a Morte.

Venha, do Sul, a Terra
Tal como a glória vem da Guerra

Que venham as nuvens do Oeste
E em sua soleira, tragam a Peste

E ao Leste, ecoa e some
O uivo mórbido da Fome.

Com dor, invoco os 4 Cavaleiros
Deem-me o que quero: vingança
E tragam-me, agora, a Esperança."

-Você poderia ter sido mais discreto, docinho... eu estive aqui todo o tempo.-disse uma voz suave e melosa.

domingo, 27 de junho de 2010

Shadowlord

Saímos do Inferno.

-Revés... o que aconteceu com você?-perguntei.

-Não lembro, irmão. Algo a ver com...-ele começou, mas terminei a frase dele.

-Intriga. Eu lembro.-disse.- Sua lâmina ficou com ela?

-Não, perdi-a no caminho. Ela atirou-me no Inferno e fugiu. Vaguei durante dias, ferido, tentando desesperadamente sair daquelas terras infernais.

-Você está a salvo agora, irmão.

-Não, não estou. Nem você está. Encontrei alguém no Inferno... alguém que nenhum de nós dois gostaria de encontrar de novo... jaz com ela a minha lâmina.

Tremi. Era impossível, não poderia ser verdade. Eu a tinha matado, eu sabia disso. Me lembrava claramente da ocasião. Uma batalha encarniçada, na qual minha existência quase foi terminada. Mas ergui-me, vitorioso.

-Quem encontraste, irmão?-perguntei, sabendo a resposta.

-Encontrei Esperança.

Que os Deuses me protejam.
Pois nada mais no mundo pode.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Shadowlord

Senti meu nome sendo chamado. Meu verdadeiro nome e não esta alcunha que me foi dada, Senhor das Sombras. Falam isso de mim pois, há muitas eras, eu derrotei e absorvi o aspecto do antigo Senhor das Sombras. Na época, a Legião dos Eternos não existia e nós caçávamos uns aos outros, incessantemente, nossa fome por poder rugindo dentro de nossas existências. Mas eu nunca fui o Senhor das Sombras.

Poucos sabem disso.

E eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar da existência.

-Revés!!!- berrei. Empunhei minha Lâmina Eterna. Uma matilha de Cérberos o envolvia, prestes a banquetear-se no seu sangue eterno.

Mas aquele sangue também era meu, pois somos Irmãos em Sangue.

Tão logo aproximei-me dele, porém, ouvi outra criatura chamando meu nome.

-Afasta-te dele, Senhor das Sombras, pois ele é minha propriedade desde que o capturei.-disse uma voz andrógina.

Virei-me para encarar o outro ser, que eu sabia muito bem quem era.

-Lucifer. Não precisamos fazer isso. Você certamente não precisa dele.-disse eu, com minha lâmina em punho.

-Não ouse desafiar minha ordem em meu território, Eterno.-respondeu o anjo.

Sorri.

-Lucifer. Você sabe muito bem quem eu sou. Sabe muito bem que, enquanto você existir, eu existo. Enquanto a luz existir, vai existir a sombra. E enquanto você for quem você é, eu existirei. Eu sou Eterno, anjo.

A ira que ele sentiu tornou a luz que emanava dele avermelhada. Os cérberos explodiram. Senti a energia que emanava dele tentando me eliminar. Tentativa em vão.

-Pegue o seu irmão e desapareça de minhas terras. Não apareça aqui pelos próximos cem anos.-disse ele, com um arfar entre cada palavra.

Segurei Revés pelo braço e ajudei a erguê-lo. Estava desarmado. Depois recuperaríamos sua Lâmina.

-Até mais, Lucifer, e obrigado pelos peixes.

-Desapareça de minhas terras, Revés... e você também, Orgulho.

Pequena Reforma

O design do Harlequin Tales tava muito simples, muito sem emoção... Além disso, ele refletia uma etapa diferente da minha intenção como pessoa.

Além disso, ele ficou mais parecido com um inferno... porque inferno sem fogo não existe...

Shadowlord

Andei durante incontáveis dias.

A eternidade, para mim, passa como um dia de trabalho dos mortais, mas minha vida é muito mais longa.

Ou pelo menos parece ser.

As criaturas do Inferno observam-me, mas o próprio Lucifer deixou-me passar e ninguém questiona sua autoridade aqui. Caminho indiferente à dor e ao sofrimento, sigo meu caminho diante dos pedidos de ajuda. Ninguém aqui significa mais que Revés.

As palavras "o Amor mandou-lhe lembranças" ecoam em minha mente. Lucifer não mente. Ele não precisa. A verdade sempre doeu muito mais. Meus sentimentos confundem-se: estaria Amor me pedindo ajuda ou simplesmente lembrando-me do quanto significou para mim? Do quanto fomos próximos?

Não me interessa. Não mais. Aquilo foi há uma eternidade.

Que passou como se fosse um dia.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Shadowlord

-Não que eu não esteja admirando a vista, Senhor das Sombras, mas eu acho que você deveria se levantar daí.

Palhaço. Se o orgulho de Lucifer tentasse ocupar o mesmo espaço do Inferno, provavelmente este último explodiria.

Ergui-me. Sou alguns centímetros mais alto que ele, o que claramente o irrita. Ele detesta ter que olhar os outros de baixo.

-Você sabe o que me traz aos teus domínios, Estrela da Manhã. Vim buscar meu irmão, Revés.

-Creio que ele esteja aqui, sim.- respondeu o anjo, aumentando a intensidade da luz que emana de seu corpo. Ele quer compensar o fato de que sou mais alto me provando que consegue "dissipar-me".

-Em que círculo?- perguntei.

-Neste mesmo, as estepes de entrada.-respondeu ele.

-Permita que eu me retire.-disse eu, passando por ele.

-O Amor manda-lhe lembranças, Senhor das Sombras.-disse o anjo caído, com um sorriso.

-Lembre-o de que já o mandei para o Inferno.- respondi rispidamente e segui meu caminho.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

There's a Wide Open Road...

Eu não me pergunto sobre, e nem procuro, o fim da minha estrada. Já sei tudo que preciso sobre ela. Sei que é de mão única e que explode assim que eu passo, de forma que tudo que faço é irreversível. Sei que existem pessoas no acostamento, me observando: algumas próximas, outras distantes. Sei que a estrada diverge no início e converge no único final.

Sei que ela é feita de brasas e espinhos.

E que eu estou de pés descalços.

Shadowlord

Corri desesperadamente.

Minhas asas são inúteis aqui, pois eu não tenho para onde ir. Arremesso para longe as criaturas abissais que me perseguem, enquanto minha fiel lâmina trilha o caminho do sangue e da raiva. O calor da batalha podia ser sentido de longe e mantinha afastado os mais fracos. Mas não a mim.

Cada passo a frente só faz custar-me uma eternidade, mas não posso desistir. Coisas muito acima da minha importância estão em jogo. Novamente, com uma palavra, retiro centenas de criaturas de meu caminho, mas milhões seguem na esteira destas, tal como as cabeças de uma hidra, que assim que arrancadas dão origem a mais duas.

Ergo um de meus braços e então deixo a energia fluir de meu corpo para as cercanias. Um manto gigantesco de sombras cai sobre meus adversários e sufoca aqueles que são fracos demais para aguentar o peso da escuridão. Minhas pernas começam a tremer. Os milhares de cortes em meu corpo finalmente me desgastam. Com um último esforço, libero de mim uma explosão de sombras e fogo, que consome aqueles ao meu redor.

Caio com o rosto no chão e então ouço passos que se aproximam. Uma voz magnífica, seguida de um jato de luz intensa aparece em minha frente.

-Ah, Senhor das Sombras. É tão bom recebê-lo de volta em meus domínios. Confesso que senti sua falta.

Sorrio.

-Lucifer... quem melhor para se encontrar no Inferno?

domingo, 20 de junho de 2010

Shadowlord

Mas antes de buscar meu irmão, eu tenho que resolver meus problemas.

A situação estava caótica. A Legião dos Eternos estava tão fragmentada e ferida, pela primeira vez desde sua criação, que era impossível até a comunicação entre os membros. E todos, TODOS, estavam encrencados.

Revés estava sumido há algum tempo, mas recebi dele uma convocação urgente.
Mágoa está enrolado em seus próprios problemas.
Conhecimento estava longe demais, distante... parece finalmente ter encontrado paz.
Desprezo é quase incomunicável, não posso contar com ele agora.

Diabos, não posso dizer que estou sozinho...
... mas posso dizer que sou solitário.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Shadowlord

Um par de asas, negras como o vazio do universo, abriram-se no meio do nada.

Onde a luz encosta, há de formar-se a sombra. O mal é um anátema necessário do bem, uma consequência. Pois há sempre de se estabelecer o equilíbrio no universo, conforme a entropia aumenta, até que finde-se a existência.

Pois bem. Essas mesmas asas abriram-se, milhares de anos depois, em cima de um prédio.

O caos da cidade grande escondia muito mais do que simplesmente um vórtice de infinitas probabilidades. Escondia também coisas antigas, que superavam em idade o próprio mundo e, talvez, o próprio Universo. Essas entidades fizeram parte da gênese de tudo e, ao mesmo tempo, foram geradas por esse mesmo tudo. O velho paradoxo do ovo e da galinha.

Não importa. Pois uma dessas entidades estava em perigo. O Revés.

E era hora de ir resgatá-lo.

sábado, 12 de junho de 2010

Darkness, come tonight! I have no fear of what you hold!

A certeza de se estar fazendo a coisa certa nem sempre é o suficiente.

Entre névoas e brumas, nada pode ser visto com certeza. É por isso que eu temo, que eu penso, que eu me esforço. Cada passo, pode ser em falso. Cada passo em falso, pode ser o último. Não há lugar para fracos ou sensíveis. Os cipós chicoteiam as tuas costas e o vento corta teu rosto. Mesmo assim, eu sigo, solitário. É o meu caminho.

É a minha maldição.

E eu estou pegando ela de volta.

sábado, 5 de junho de 2010

Betrayer? In truth I am who has been betrayed...

Faltam palavras.

Faltam palavras, elas fogem de mim.

Raiva, fúria, ódio, desprezo... sutis demais. Indignação, ira, cólera...

Todas são vazias quando ser tratam de descrever como eu me sinto nesse exato momento. Tremo de rancor, de ira. Mal consigo escrever. Fui traído. Violado. Por alguém de minha confiança. Alguém que eu respeitava. Confiava.

AMAVA.

Nem uma naja seria capaz de tal traição. Nem um escorpião.

Somente um humano.

Pois é assim que são: sussurram elogios nos teus ouvidos, colocam joias em teus dedos...

... e cravam facas em tuas costas.