domingo, 18 de julho de 2010

Shadowlord (SERIES FINALE!)

-Inferno.-disse eu.

Conhecimento sorriu.

-Onde mais estaria o Orgulho se não nas terras de Lucifer, seu ícone?-disse ele.

Um grito de agonia ecoou de algum lugar. Anunciava a chegada de Mágoa.

-Orgulho.-disse ele.-O que aconteceu com você? Você está... diferente...

-Eu estou incompleto, Mágoa, e sei que é por isso que vieste. É uma honra poder contar com tua ajuda.-respondi.-Estamos indo para o Inferno. Acho que vais querer carona.

-Certamente.-disse ele.

Cravei minha Lâmina no chão e sussurrei algumas palavras. Ihr aven sehrk moarath. "Abram, portas do submundo".

Um enorme buraco abriu-se e nós todos caímos. Por alguns segundos, estivemos em queda livre, mas todos voávamos, então conseguimos estabilizar a queda. Um enorme rio fluía abaixo de nós. Nenhum mortal conseguiria atravessá-lo sem a ajuda do barqueiro, mas ignoramos aquilo. Seguimos voando, indiferentes.

Não demorou muito para que víssemos a margem oposta. Terras desoladas, algumas almas desesperadas atirando-se no rio. Nunca atravessariam, seriam devoradas pelas bestas do Aqueronte. Nossa presença desesperou alguns deles, outros ajoelharam-se como se pensassem que éramos anjos. Ignoramos. O Inferno era um lugar que nem mesmo nós gostávamos de visitar.

Senti Orgulho próximo. Ele sentiu-me, também, e estava tentando romper o vínculo que existia entre nós. Ele sabia que eu estava vindo até ele. Senti Desespero também. E vi que eles estavam em frente aos portões gigantescos do Inferno. Mas Orgulho lembrava das palavras de Lucifer. Ele estava proibido de entrar lá.

Eu, no entanto, não estava. Afinal, Lucifer proibiu apenas o Orgulho de adentrar o Inferno.

Aproximamos-nos deles.

-Você veio, Senhor das Sombras. Acho que é hora de dar um jeito em você.-disse Desespero.

-Deixe-me apresentá-lo ao meu aliado, Desespero. Ele chama-se Conhecimento... talvez você já tenha ouvido falar dele.-disse eu, sarcasticamente.

Conhecimento avançou na direção dele. Senti um tom de pânico no rosto de Desespero. Nenhum Eterno tinha conseguido vencer Conhecimento.

Meus olhos voltaram-se para Orgulho. Fúria moveu-se até os portões e bloqueou-o. Mágoa olhou para mim.

-Você consegue pegá-lo sozinho.-disse ele.

-Consigo, mas preciso que você mantenha os Cérberos afastados.-respondi.

Investi, de Lâmina em punho, contra minha antiga contraparte. Ele tinha forjado uma lâmina nova. É a primeira coisa que um Eterno faz quando perde sua arma definitivamente. A luta seguiu-se encarniçada, com sangue voando para todos os lados. Ouvi Desespero gritar. Conhecimento tinha vencido.

Com um golpe forte em sua mão, fiz Orgulho soltar a Lâmina e então segurei-o pelo pescoço. Impiedosamente, cortei seus dois braços. O ferimento iria demorar para fechar.

-Idiota, você não é mais o que você era, Senhor das Sombras. Perdeu seu poder para mim ao longo dessa eternidade em que você foi apenas uma vozinha insuportável no fundo de minha cabeça. É hora de voltar a ser o que era antes.

Minha mão enterrou-se no peito dele e então arranquei sua essência. A seguir, depositei-a em minha lâmina e atravessei minha fiel arma em meu peito. Um jorro intenso de luz emanou de mim enquanto eu sentia meu poder voltar. Quando tudo terminou, eu estava caído, de joelhos, vestindo minha velha armadura.

-Você está bem, Senhor das Sombras?-perguntou-me Mágoa.

Olhei para ele.

-Daqui em diante, chamem-me apenas de Orgulho.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Shadowlord (Series Finale, Parte 2)

Eu, Fúria e Revés seguimos o caminho até o templo onde habitava meu trunfo nessa luta.

A indiscreta visão de uma montanha voando chocou a todos. Seguimos, indiferentes. Era esse o efeito que eu queria para aquela cena. Algo épico, fantástico.

Encontrei meu aliado sentado, ao lado de uma conhecida moça que, ao me ver, desapareceu.

-Você espantou minha companhia, Orgulho. Posso chamá-lo assim, ainda que não mais o sejas?-perguntou ele.

-Pode. Mas eu não espantei ninguém. A Felicidade nunca gostou de estar próxima a mim.-respondi e então ajoelhei-me. Ele sabia o quanto aquilo significava para mim, mas ele é a única entidade que reconheço como superior.

-Erga-te, Orgulho. Não gosto que faças isso.-disse ele.

-Permita-me, Conhecimento. Preciso de vossa ajuda.-respondi.-Parte de mim foi arrancada e somente vós podeis enfrentar o Desespero que a cerca. Peço que o faças, em nome de nossa antiga amizade.

Ele caminhou até mim.

-Tu podes sentir onde está a outra parte de ti, Orgulho. Recuso-me a chamar-te por tua atual alcunha, pois sei quem ainda és e nunca deixaste de ser. Agora concentra-te. Encontre a ti mesmo e então ajudar-te-ei a enfrentar Desespero.

Fechei meus olhos. Concentrei-me.

As seguintes palavras ecoaram em minha mente.

"Vai-se por mim à cidade dolente
Vai-se por mim à eterna dor
Vai-se por mim entre a perdida gente

A Justiça moveu meu alto feitor
Cumpriram-me poderes divinais
A suma sapiência, o primo amor

Antes de mim, não foi criado jamais
o que não fosse eterno - e eterno eu perduro
Deixai toda a esperança, vós que entrais"

Um sorriso cínico correu meus lábios.

De volta para o Inferno.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Shadowlord (Series Finale, Parte 1)

(As próximas postagens marcarão o fim dessa série, Shadowlord)

Ergui-me. Ouvi um farfalhar de asas e então fui golpeado. Minha Lâmina voou de minha mão.

Revés.

-Você sentiu, não sentiu?-perguntei.

-Sim.-respondeu ele.

-Para bem ou para mal, preciso recuperar aquela parte de mim. Independente do meu futuro. E, para isso, vou precisar de alguém forte. Alguém que luta ao meu lado há tanto quanto você, meu irmão. Eu vou precisar de Fúria. E de alguém capaz de enfrentar Desespero.

Sorri. Eu sabia quem era esse alguém.

Minhas asas abriram-se. Eram pequenas, fracas. Por um momento, senti-me ofendido. Onde estava a imponência de outrora? Estava perdida. Peguei minha Lâmina que estava no chão e então bati as asas.

Voei durante muito tempo. Cada segundo era um passo em direção ao abismo. Desespero e Orgulho estavam juntos, eu sabia. Eles queriam certificar-se de que eu não iria recuperar meu aspecto. O Tempo era meu inimigo. Faltava tempo, faltava tudo. Era simplesmente impossível manter aquela situação.

E então avistei a caverna onde habitava Fúria. No topo das montanhas, onde ninguém poderia perturbá-lo. Era a hora de pedir seu apoio.

-Revés, fique por aqui. Não importa o que aconteça, não entre lá. Fúria me conhece, mas não gosta de estranhos, mesmo quando acompanhados por mim.-disse eu.

-Certo, meu irmão.-respondeu ele.

E então voei até a caverna. Estava guardada por homens armados.

-Quem é você, Eterno? O que fazes aqui?-disseram eles.

-Não nos exaltemos...-disse eu.

As sombras da caverna formaram uma onda massiva e então atiraram aqueles homens de cima da montanha.

-Idiotas...-disse eu.

-Orgulho?-ouvi uma voz grave.

-Mais ou menos, meu bravo amigo. Preciso de sua ajuda. Desespero separou-me de minha contraparte. Preciso pegá-la de volta.

A montanha se mexeu.

-Conte comigo.-disse a montanha, abrindo as asas.

Sorri. Agora só faltava um.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Shadowlord (Interlúdio Pré-Series Finale)

Encarei a areia.

Parte de mim era Orgulho. Parte de mim, Senhor das Sombras. E no entanto, nesse momento, eu era somente o Senhor das Sombras. Contemplei minha Lâmina.

Era do Orgulho. Diabos, quem sou eu agora?

Sou eu o Orgulho de outrora ou as Sombras do presente? Eu sou quem lutou a Grande Guerra na qual metade de nós fomos condenados ou eu sou aquele que absorveu o aspecto do vencido Senhor das Sombras e fez seu nome inspirar o temor que ele inspira hoje?

A minha aparência diz quem eu sou? Sou eu aquela velha armadura sem elmo com cabelos esvoaçantes ao vento ou a capa de sombras e escuridão que envolve completamente meu corpo e revela apenas meus olhos? Meu corpo todo, minhas capacidades... elas todas são do Senhor das Sombras. Mas minha Lâmina, parte de mim e de minha alma, ela é do Orgulho.

Não consigo responder. Falta alguma coisa em mim para responder.

Falta o Orgulho. E eu vou pegá-lo de volta.

domingo, 11 de julho de 2010

Shadowlord

Os corpos estavam espalhados pelo chão. Milhões deles.

Meu olhar percorreu aquela sombria carnificina, enquanto meus ferimentos cicatrizavam lentamente. Minha Lâmina Eterna, a parte de mim responsável por enfrentar meus inimigos, estava saciada. Era hora de continuar meu caminho.

No entanto, algo chamou minha atenção. Uma daquelas criaturas era diferente das outras. Eu não tinha notado isso durante a batalha, mas agora eu via com clareza. Ela era um Eterno.

Como um de nós poderia estar lutando ao lado daquelas criaturas? Eu não conseguia reconhecê-lo a essa distância. Por um momento, temi: talvez fosse alguém mais poderoso que eu. Confiei nas minhas capacidades e segui em frente.

Erro que talvez eu não vá viver para me arrepender.

Desespero agarrou-me pelo pescoço. Desgraçado. Minha Lâmina voou para longe enquanto eu me debatia futilmente tentando livrar-me daquelas garras amaldiçoadas. O rosto perturbado deu um sorriso.

-Orgulho.-disse ele.-Não me admira que não tenhas me reconhecido. Sua arrogância lhe cega.

Ele sacou sua própria lâmina.

-Termine com isso, Desespero. Vingue sua amada Esperança, pois eu matei-a de novo.

Por um momento, eu vi a ira queimá-lo por dentro. Desespero e Esperança sempre dependeram um do outro.

-Não vou matá-lo. Vou fazer pior.-disse ele.

E então eu vi um tentáculo apanhar minha Lâmina ao longe. Me debati enfurecidamente. Eu sabia o que ele iria fazer. Não poderia deixar. Lutei com todas as minhas forças, mas o Desespero é um dos mais poderosos dentre nós. Minha luta foi em vão.

E então eu senti a ponta etérea de minha própria Lâmina atravessar minhas vísceras. Senti parte de meu poder fluindo para dentro dela, enquanto o corpo que eu habitava foi ficando cada vez mais vazio. E então, eu estava completamente contido dentro daquela lâmina. Ele atirou a espada no chão.

-Erga-se Orgulho. E você também, Senhor das Sombras.

E foi com espanto que eu me vi não mais como o Orgulho, mas como o Senhor das Sombras. Por tanto tempo foi essa minha alcunha que entrelacei-me mais a esse aspecto do que ao meu aspecto de origem. Contemplei o Orgulho: aquela minha velha armadura. Era uma questão de honra, eu iria pegá-la de volta.

Com um sorriso de desprezo, o atual Orgulho desapareceu de minha frente.

-Até mais, Orgulho... ou devo chamá-lo de Senhor das Sombras?-disse Desespero, com um sorriso.-E tente enfrentar minha irmã, Esperança, agora.

Maldito seja ele.
Maldito seja.
Maldito.

All bridges... on fire!

Eu não canso de repetir que cada passo adiante fecha as portas do nosso passado.

Cada segundo é um passo irreversível em uma via de mão única, na qual não sabemos o que vem pela frente e sabemos só um pedaço do que ficou pra trás. Não importa se lembramos do caminho: ele simplesmente não existe mais. Certamente os caminhos das pessoas podem se cruzar mais de uma vez: no entanto, nada é o que um dia foi.

As memórias são nosso único guia. Algumas vezes, elas simplesmente nos fazem desistir de tudo. Em outras, é a memória que nos faz erguer a cabeça e continuar caminhando.

Há muito tempo atrás, em uma carta de Magic chamada "Entregar-se às Reminiscências" (muito boa por sinal, é um feitiço que custa duas quaisquer e uma azul e faz tu embaralhar cemitério com deck... duas dessas num baralho e tá decretada a reciclagem absoluta), eu vi uma frase que, sem dúvida, me marcou muito. Eu anoto ela sempre que posso (ela tá na minha parede), porque ela me lembra do quanto nossas memórias são importantes.

"Deixe a porta para o passado levemente entreaberta e ela poderá ser arrancada de suas dobradiças."

Chama-se "nostalgia" e começa com aquela sensação de "porra que pariu essa merda do caralho, que diabos tá acontecendo comigo?"

Pronto. Parabéns. Agora o Tiririca te despreza... e você, meu filho, você está a ponto de ir pra vala.

See you around, guys...
"My freakshow will start TONIGHT
Don't miss the right time."

sábado, 10 de julho de 2010

Shadowlord

Mágoa estava desesperado e distante.

Revés estava se recuperando.

Esperança morreu.

E eu me vi cercado. Aquelas malditas criaturas. Eu estava em outro plano, muito maior que a Terra. Saquei minha lâmina. Desgraçados. Vou fazer com que eles paguem. Por um momento, aquilo me parecia o fim. Sozinho, como sempre estamos no fim das contas. Tenho aliados com os quais posso contar, mas nem sempre eles estão em condições de me ajudar. Minhas asas abriram-se, como um alerta para aqueles que ousassem avançar. Posso não ser a Morte em si, mas certamente quem permanecer em meu caminho há de encontrá-la.

As sombras ao meu redor solidificaram-se e formaram uma armadura. Há milhões de anos, a mesma armadura se formava antes de minhas batalhas. O peitoral tinha meu símbolo inscrito e em relevo. As ombreiras sustentavam uma longa capa, também feita de sombras. O cinturão tinha a face de um lobo de perfil. O elmo era ausente: não quero que meus inimigos esqueçam a face de seu nêmesis.

A boa e velha armadura.

O bom e velho Orgulho, com um toque de sombras.

Quando a primeira daquelas bestas avançou em minha direção, um sorriso formou-se em meu rosto.

Eu estava em um lugar pior que o Inferno. E era hora de abrir a golpes de espada o meu caminho de volta.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Just close your eyes...

Diabos.

Eu vejo pessoas fazendo as mais diversas coisas pensando no que vem pela frente. Olhar sempre longe, o futuro. Eu também faço isso. É até meio contraditório, algumas vezes, ver pessoas que acreditam em destino se preocuparem com o futuro. Afinal de contas, se está no seu destino, não interessa o que você quer ou o que você faz. VAI acontecer.

E no entanto, eu passei muito tempo da minha vida vivendo em apenas um tempo: o futuro. Era o futuro que me interessava, "quem eu serei e o que eu farei". O olhar fixo na distância, "existe glória na distância para todos aqueles que pagarem o preço".

Depois de algum tempo, pensei nos 3 tempos fundamentais de existência. Passado, presente e futuro. E comecei a valorizar os 3. Quem eu fui, quem eu sou e quem eu serei. Mire alto, sempre. O teu limite são os teus objetivos: se mirares o Sol, então é até lá que poderás tentar ir. Nosso futuro é construído pelas nossas mãos e blablabla...

Bobagem, pelo menos uma parte disso.

Afinal de contas, que são esses tempos? Formas de percepção? Não se pode perceber o passado pois ele não existe mais. Não se pode perceber o presente pois ele é tão efêmero que nossa capacidade jamais nos permitiria entendê-lo. Não se pode perceber o futuro pois ele ainda não existe (a menos que tu acredites em destino, mas daí não muda nada, porque a tua vida já tá determinada, mesmo).

Nenhum dos 3 tempos existe para nós. Nós não os percebemos. O passado são nossas memórias, e elas mudam e desaparecem. O presente passa tão rápido que não temos tempo de percebê-lo. O futuro são probabilidades, quase infinitas. Podemos tentar prevê-lo, mas não existe certeza onde existem chances. Não se pode confiar no futuro.

A melhor forma de viver não é manter os olhos onde a estrada termina.

É simplesmente fechar os malditos olhos, pressionar com toda a força a merda do acelerador, deixar o vento bater no capacete e seguir a porra da estrada.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Shadowlord (Interlúdio)

Ao voltar para a caverna, encontrei Revés já recuperado.

-Aqui está, meu irmão... vossa lâmina.-e atirei a arma para ele.

Revés pegou-a.

-Não consigo acreditar que a derrotaste de novo.-disse Revés.-Você me surpreende algumas vezes.

Sorriso besta no rosto. Não tinha vencido a guerra. Nunca venceria, mesmo que eu vencesse todas as batalhas. Esperança pode estar enfraquecida, mas ela nunca finda. E, enquanto isso, o resto da Legião ainda me preocupava. Minhas notícias deles eram escassas. Fora isso, eu sentia que algo ameaçava, embora não pudesse notar direito o que era. A aparição de Pureza era inesperada, bem como a de Esperança. Algo estava errado. Muito errado.

E era hora de começar a investigar.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Shadowlord

-Senti seu aspecto enfraquecendo. Vim ajudá-lo, mas cheguei tarde.-respondeu ela.

As árvores saíam de cima de meu corpo e eu me sentia recarregado. Os cortes fechavam-se conforme eu ia me levantando, mas as cicatrizes ficavam.

As marcas sempre ficam.

-Ainda não entendo porque você faz isso, Senhor das Sombras.-disse ela, com uma voz de violino.- O que tanto você tem contra a Esperança?

-Tudo que eu poderia ter contra alguém desprezível como ela.-disse eu, guardando a lâmina de Revés.-Consegui de volta o que eu queria.

-Você subestima a força dos outros aspectos, Senhor das Sombras. Não existem somente sombras no mundo.

Olhei fundo para os olhos dela. Eles brilhavam com inocência.

-Pureza, o que vossos olhos não veem é a sombras que são reveladas na noite, sob o brilho das estrelas. A luz que emana de ti apaga os tons de cinza e reflete de forma diferente nas diferentes coisas, mas a verdade é que o mundo é em preto e branco. E, portanto, é feito de diferentes tonalidades de cinza. As cores são uma forma apenas de tornar menos desagradável o que existe ao nosso redor.

Ela me encarou, com uma nítida confusão no olhar.

-Como você pode aguentar sua existência?-perguntou ela.

-Eu não aguento, mas não tenho outra opção. Alguns Eternos precisam de mim.-disse eu.-E nesse momento, Revés é um deles.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Shadowlord

A batalha encarniçada tinha começado, uma batalha que eu não sabia se venceria.

Atacávamos um ao outro como lobos, ursos, serpentes e qualquer outra fera da Terra. Nossas Lâminas Eternas ansiavam pelo sangue. Essa era a única mácula das armas dos Eternos.

Elas sempre ansiavam pela batalha.

A lâmina da Esperança era em forma de sabre, mais afiado do que qualquer coisa, pois quando a esperança toca em algo, ela arrebata. O simples toque de sua arma seria capaz de me derrubar. Mas ignoro isso. Acumulei raiva e desprezo por ela durante toda a existência do universo. E agora ela ousava mexer com um de meus irmãos.

Minha lâmina é irregular, como se a fosse a sombra bruxuleante criada pela luz de uma vela. Era afiadíssima, também, porque as sombras conquistam tudo em que encostam.

-Você é estúpido, Orgulho. Eu serei a última a morrer dentre os Eternos. Você sabe que eu existo enquanto meu aspecto existir.

Fiquei quieto. Eu estava encharcado em sangue, destruído. Mas ainda não derrotado.

Ataquei com toda a fúria que eu tinha guardado.

-Então quero vê-la daqui mil anos, sua idiota. Ninguém precisa de você enquanto o Orgulho puder mantê-lo caminhando.-disse eu, com a Lâmina atravessando o coração dela.

A Morte de um Eterno abala as fundações do Universo. Um jorro de luz seguido de uma onda de choque emanou do cadáver da Esperança. O parque de sequoias gigantes desabou sobre mim.

Faltava força para arrancar as árvores de cima de mim. Eu sentia que a Esperança estava certa: ela ainda não estava morta. Mas pensaria duas vezes antes de aparecer de novo. A Lâmina de Revés estava em minha mão esquerda. Mas não mudaria nada.

Ouvi árvores sendo atiradas longe e o peso sobre mim diminuiu.

Um rosto conhecido apareceu dentre as copas misturadas das árvores.

-Pureza... achei que tivesse me esquecido.