quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Interlude III: Twelve Tolls to Midnight

Sempre no fim do ano bate aquela nostalgia.

Não sei se com vocês é assim também, mas sempre que o ano chega ao fim, eu faço uma retrospectiva e vejo o que aconteceu de bom e de ruim. Na maioria das vezes, eu noto que estive feliz durante o ano inteiro, mas que o saldo de coisas negativas foi maior. E então nasce aquela coisa de "que o ano que vem seja melhor".

Mas, sinceramente, eu nunca realmente acho que vá ser.

Porque trocar de ano não significa nada além de acordar de um dia MUITO longo. Em pouco tempo, a rotina volta. Faculdade, estágio, fins de semana com os amigos: esses são meus anos, sempre. As coisas, no fim das contas, tem a tendência de se manterem iguais. Podem mudar as pessoas, mudar os fatos, mas a verdade é que sempre parece que as coisas não foram tão boas como poderiam ter sido.

E isso pra mim é bobagem.

Diabos, a gente erra, e vai errar pra sempre. Ninguém vai passar um ano inteiro tomando decisões corretas. Aliás, é difícil passar UM DIA sem fazer uma besteira. Lógico que as coisas nunca vão ser tão boas quanto poderiam ter sido. Não tem como.

Esse ano, pra mim, foi complicado. Sei que outras pessoas também acharam isso. Não foi meu melhor ano, talvez figurando entre um dos mais difíceis. Cheguei ao fim dele exausto, querendo descansar e sem aguentar mais o que acontecia. As coisas não se ajeitaram, mas eu me acostumei ao peso.

Foi um ano onde eu aprendi muita coisa sobre eu mesmo... e sobre como eu, às vezes, preciso seguir minha vida contando somente comigo mesmo.

Aos que acham que muda alguma coisa, desejo um Feliz Ano Novo.
Aos que, como eu, não dão a mínima... até a próxima postagem.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Lost and Found 16 (Final): Angel of Babylon

A espada colidiu contra minha Lâmina, enquanto eu desviei a lança de meu corpo com a mão livre. Colidi contra o desgraçado e ambos caímos no chão.

-Ius egit vi.-repetiu ele. (A justiça precisa de força)

-Soberbia aegis est!- foi minha resposta. (O orgulho é um escudo)

Uma enorme onda de energia saiu das mãos de Justiça, mas colidiu com uma pesada barreira espiritual. Chutei, novamente, as armas de Justiça para longe.

-Ius et potestas in...-gritou ele, em desespero, mas eu fui mais rápido. (Justiça e poder na ...)

-Silence de mort!-gritei. (Silêncio da morte...)

A boca de Justiça parou de emitir som. Ele tentou rastejar para longe, mas eu segurei-o pelo pé. Agachei-me ao seu lado e então falei:

-Nex Sacramentum, meu caro. Eu não vou matá-lo.

Os olhos de Justiça arregalaram-se. Estalei meus dedos e a voz voltou ao Eterno.

-Porque?

-Poruqe você não fez nada contra mim além do que achou que deveria fazer. Eu nunca matei sem motivo; exceto, talvez, Esperança. Você me enfrentou não porque queria, mas porque decidiram que VOCÊ deveria fazê-lo. Você é como eu, um pouco mais poderoso, mas eu sou menos prudente. E é isso que nos levou a essa situação. Levante-se, Justiça, eu não tenho intenção de matá-lo.

Estendi minha mão para que ele levantasse. Ele ainda parecia incrédulo. Ouvi alguém batendo palmas.

-Que bonitinho, Orgulho. Você amoleceu seu coração malvado de pedra. Poupou alguém de sua própria raça. Interessante. Patético.-disse uma voz.

Olhei para a origem da voz. Era uma criatura alta, com quatro asas plumosas cinzentas e um par de chifres surgindo da testa. Seu rosto era cadavérico, um pouco esquelético, e seus olhos eram duas orbes verdes brilhantes. Garras saíam de suas mãos que seguravam uma espada feita de ossos. Seus pés estavam descalços, mas o resto das partes visíveis do seu corpo eram cobertas com escamas.

-Samael.-disse Justiça.-O que você quer?

-Daemon Daemone Pellitur.-disse ele.

Ouvi Justiça gritar e então desaparecer.

-Pelo visto, seu assunto é comigo.-falei.

-Não. Meu assunto é com seu irmão, Revés. Mas eu acho que posso chegar nele através de você.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Lost and Found 15; ... and Justice For All

Justiça atacou-me com as duas armas. Esquivei-me de seus golpes, bloqueei como podia suas investidas. Ira avançou contra meu inimigo, também. Ele não gostava de mim, mas ainda preferia que eu sobrevivesse. Se Justiça fosse derrotado, certamente pensariam duas vezes antes de atacar a mim ou a qualquer um de meus aliados. Mas aquela não era uma batalha para mim.

Muito menos para Ira.

Justiça acertou-me um chute no peito que me fez cair de costas no chão. Apenas um pacote de sombras colidiu com o chão e então se desfez. Eu apareci alguns metros para trás. Ira, por outro lado, não teve a mesma sorte. A lança de Justiça veio em sua direção e ele bloqueou o golpe com o cabo de seu machado. No entanto, a segunda arma do Eterno fez um arco ascendente diagonal e então cortou o Pecado ao meio.

Nova explosão de luz. Novo Eterno morto.

-Ele não era parte de minha sentença, Justiça.

-O amigo de meu inimigo também é meu inimigo, Orgulho.

-Bastardo.

Avancei na direção do adversário, minha Lâmina ansiando pelo sangue dele. O infeliz arremessou a lança em minha direção, mas consegui esquivar-me dela. A arma apareceu na mão de Justiça de novo e ele tentou uma estocada, mas eu desviei a arma. A outra arma veio em minha direção, mas bloqueei-a com minha Lâmina. Nossos corpos colidiram.

Ele caiu no chão, eu não. Chutei sua lança para longe e então chutei a outra arma. Ergui minha Lâmina para golpeá-lo.

-Ius egit vi.-disse Justiça.

Senti como se uma enorme mão tivesse me dado um soco no peito. Fui atirado a talvez trinta ou quarenta metros de altura e uns cem de distância. O desgraçado era forte.

Mas eu ainda o enxergava.

Voltei-me de frente para o chão e então teletransportei-me. Apareci no ar, caindo sobre as costas do já erguido Eterno. Ele nem iria ver daonde veio o golpe.

E então, quando eu estava a quase dois metros dele, vi sua espada vindo em minha direção.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Lost and Found 14: Scales of Justice

Eu tinha esquecido como era a sensação de absorver outro Eterno.

Como Convicção tinha sido "tirada de circulação" há milhares de anos, ninguém poderia reclamar dela. Além disso, eu tinha conquistado o direito de absorvê-la. Agora era só esperar até que Justiça me encontrasse. Não iria demorar muito.

Senti Eternos se aproximando de mim. Abri minhas asas, um sinal de alerta. Voltei-me para o grupo que se aproximava, mas logo os reconheci.

Os Seis Pecados.

-Orgulho. Onde você esteve... e porque está tão diferente?-perguntou Avareza.

-No Pesadelo.-respondi.

Todos se espantaram. Eu sabia que seria esse o efeito. Nenhum deles teria coragem de por um pé naquele plano amaldiçoado. Fracos. Mas eram meus aliados, era o que eu tinha na hora. Eu só esperava que Revés sentisse meu poder renovado. Seria uma boa ideia ter a sua ajuda.

-Mas o que você foi faz...-começou Gula, mas foi interrompido.

Senti uma lança aproximando-se de mim. Desfiz-me em sombras, como de costume, e reapareci ao lado de onde estava. A arma acertou o peito de Inveja, que gritou e então desapareceu com uma explosão de energia. A lança sumiu e reapareceu nas mãos de seu dono.

Voltado para nós, estava um dos Eternos mais poderosos que existia. Uma pesada armadura cobria todo o seu corpo, incluindo o rosto. Em uma de suas mãos, uma lança. Na outra, uma espada. Era um dos poucos Eternos que utilizava duas Lâminas. Mesmo agora, depois de absorver Convicção, eu tinha poucas chances. Mas eu tinha um plano caso as coisas dessem errado.

-Vocês. Saiam daqui. AGORA!-ordenei as outros.

-Eles ficam, Orgulho.-disse Justiça.

-Cuide dos seus lacaios, Justiça. Eu digo que eles vão.-desafiei.-E vão agora.

Quatro dos sobreviventes foram embora. Ira ficou.

-Eu fico. Você não me dá ordens, Orgulho.-disse ele.

-Idiota, você está cavando sua sepultura.-respondi.

Justiça deu um passo a frente e cravou a espada no chão.

-Orgulho. Como agente e personificação da Justiça, eu o julgarei pelas mortes dos Eternos a seguir: Dor, Esperança, Revés, Senhor das Sombras, Verdade, Inveja, Ciúmes, Fanatismo, Serenidade e Perseverança. Você nega ter matado algum desses Eternos?

-Não. Não nego.-respondi.

-Você admite-se, portanto, como executor dos Eternos citados?-perguntou de novo.

-Sim.

-A sua pena é a morte. Você a considera JUSTA?

-Sim, mas recuso qualquer proposta de rendição. Serei abatido em combate e somente em combate. Meus termos são aceitos?

-Condição aceita, Orgulho.-disse ele, retirando a espada do chão.-Agora você está com problemas sérios.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Lost and Found 13: The Essence of Conviction

-Você é ousado, Orgulho. Por outro lado, você detém o poder nessa situação. As convocarei e deixarei que escolha.

Algumas palavras ecoaram em um idioma que eu sequer conhecia. Cinco crânios coloridos surgiram voando. Azul, verde, branco, preto e vermelho. Cada uma delas gritou e então seus corpos se formaram. Pesadelo era casado com as cinco e, como "presente de casamento", amarrou-as nas entranhas do plano. Elas eram criaturas poderosíssimas, mas estavam presas por um tipo de magia tão ancestral que o próprio Tempo provavelmente esqueceu que existia. Mas o Rei do Pesadelo lembrou e rastreou aqueles traços até encontrar a fonte de tal poder. Nesse aspecto, ninguém poderia criticá-lo. Ele era um gênio.

-Elas estão aqui, Orgulho. Escolha a sua.

Familiaridade, Devoção, Convicção, Companheirismo e Verdade. Cinco Eternas conhecidas em nosso mundo como os Cinco Mitos da Realidade, porque elas desapareceram tão cedo na nossa história que eram tidas como mitos. Um outro Eterno, Mentira, utilizava o título de Verdade em nosso mundo. Nada mais irônico.

Pensei bastante. Todas eram muito poderosas, mas cada uma tinha suas particularidades. Eu precisava escolher com calma. Justiça estava atrás de mim, e para detê-lo eu precisava de algo acima de seu entendimento.

Eu preciso de...

-Convicção. É a minha escolha.

Outra sequência de vozes. Convicção caminhou até mim e ajoelhou-se. Arrogância ainda estava sob custódia. O Rei dos Pesadelos esperava que eu o largasse antes de segurar Convicção, mas logicamente ele iria me matar se eu fizesse isso.

Meus olhos se fecharam e então houve um estrondo. Um enorme portal abriu-se atrás de mim.

-Convicção, entre no portal. Eu vou levar Arrogância como garantia: atiro-o de volta quando estiver seguro.

A Eterna entrou no portal e eu a segui. Uma vez fora do Pesadelo, chutei Arrogância de volta para dentro e fechei o portal.

-Como posso agradecê-lo por salvar-me, Orgulho?-perguntou Convicção.

Minha Lâmina atravessou seu coração.

-Você já está agradecendo, querida.-respondi. E então absorvi sua essência e seu aspecto.

Senti uma torrente de poder emanando de mim. Justiça que viesse me pegar, agora. Eu sabia que ele iria me encontrar.

Agora é só esperar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Lost and Found 12: Down in the Dark

Entramos em um enorme saguão, iluminado por almas que gritavam e brilhavam. Anjos, capturados pelo Rei dos Pesadelos e mantidos como troféus, lembranças...

... e lamparinas.

O Rei dos Pesadelos encontrava-se de pé, do outro lado da câmara. Suas asas feitas de ossos espalhavam-se por toda a sala, e seus tentáculos rastejam como serpentes no chão, cobrindo todo o piso. Era, sem dúvida, uma entidade muito poderosa. Não vestia armadura e seu rosto não tinha boca. Seus olhos eram opacos

-Embaixador.-disse uma voz, surgindo do nada.-Bom vê-lo.

-Majestade, digo o mesmo.-respondi.

-Meus servos lhe trouxeram aqui a meu pedido. Peço desculpas se eles foram rudes, mas tenho plena consciência de seus poderes, Senhor das Sombras.

-Chame-me de Orgulho, Rei.

-Chamo você como eu quiser, Embaixador. Você está em meu território e só sairá daqui se eu o deixar, e no momento não me sinto inclinado a fazê-lo. Você invadiu minha biblioteca, Orgulho. Invadiu meu centro de conhecimento e desafiou meus súditos. Dê-me um motivo para deixá-lo sair vivo daqui...-disse ele.

Olhei para meus lados. Asas e um Eterno de cada lado. Dei alguns passos a frente. Eles não me seguiram.

Hora de agir.

-Tenebrum flammae ex nihilo!-berrei, apontando para Lamento.

Chamas negras queimaram todo o corpo da criatura, que saiu berrando da sala. Era uma magia antiga e poderosa, mas nada comparado ao que era realmente obscuro dentre o conhecimento arcano.

A seguir, voltei-me para Arrogância. Vários tentáculos saíram do chão e então agarram-o e carregaram o Eterno até meus braços.

Pus minha Lâmina em seu pescoço.

-O motivo é: eu vou matá-lo se você não me deixar sair.-eu disse para o Rei.

-E porque você acha que eu salvaria ele? Eu posso esperar você matá-lo e então matar você depois.-respondeu a criatura.

-Mesmo? Então você REALMENTE não tem medo que esse plano colapse caso uma entidade vinculada às entranhas da realidade morra nele? Você não hesitaria em me matar, mesmo sabendo que o poder investido para criar esse seu plano é muito inferior ao necessário para que se crie um plano estável como Terra, Céu, Inferno e Animus? Você SÓ não me matou ainda porque teme que isso aconteça! O que aconteceria com todos que estão aqui dentro? Morreriam? Desapareceriam? Voltariam para a Terra? Bom, ouse erguer uma arma contra mim e nós vamos descobrir.

O Rei dos Pesadelos gargalhou.

-Orgulho. Muito bem. Você descobriu meu segredo e compartilhou-o com um de meus súditos. Terei que tomar providências para resolver isso. Pode ir embora, se quiser.

-Antes, tem eu algo que eu quero.

-Nomeie.

-Eu quero uma parte da essência do plano. Eu quero uma de suas cinco Noivas.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Lost and Found 11: The Secret

-O que você acha que eu procuro?-perguntei.

-Você não vem ao Pesadelo sem motivo. Você quer refúgio.-disse ele.

Gargalhei.

-Não seja patético, Arrogância. Se eu quisesse refúgio, esse seria o último lugar que eu procuraria. Agora saia da minha frente, tenho contas a acertar.-disse eu.

Continuei caminhando, mas ele não se mexeu.

-Você tem muita sorte de nossa Majestade proibir confrontos entre Eternos dentro dos limites do plano.-desafiou ele.-Caso contrário, meus servos estariam limpando seu sangue de nosso chão.

-Bom, convido-o para sair daqui quando eu o fizer.-respondi.- Você não é nada, verme. Eu consigo matá-lo sem sequer sacar minha Lâmina. Não me faça perder tempo ou eu vou esquecer temporariamente que estamos em outro plano e transformá-lo no monte de poeira que você é de verdade.

Contornei-o e segui meu caminho. Meus guarda-costas me conduziram até a biblioteca onde eram guardados alguns dos mais tenebrosos segredos de todos os mundos. Comecei a ler aqueles livros, um por um.

Não sei quanto tempo passou, pois o tempo fluía diferente, mas adquiri muito conhecimento naquele intervalo. Minha loucura trouxe-me respostas. Trouxe-me o que eu queria. E para isso eu precisava...

A porta escancarou-se e Arrogância entrou, acompanhado por pelo menos cem guarda-costas e um outro Eterno que não reconheci. As criaturas cercaram-me, mas não reagi: minha Lâmina continuou onde estava, meus braços também. Agora eu sabia que eles não iriam me matar.

-Siga-nos, Orgulho. E não faça nada estúpido: agora você está sob custódia e nós temos permissão para matá-lo. O Imperador deseja falar com você-disse Arrogância.

-Seu cachorro não latiu para mim. Apresente-o, por favor.-impliquei.

-Eu sou Lamento. É um desprazer imenso conhecê-lo, falso Senhor das Sombras.-respondeu o outro.

-Bom, já que estou sendo convidado por duas amebas para fazer o que venho esperando desde o início. Eu sigo. Vocês não podem me matar por tratá-los como vocês merecem, podem?-perguntei.

-Eu não preciso de um motivo para matá-lo, Orgulho, e posso fazê-lo agora se você faz questão.- disse Lamento.

-Não seja ridículo, Lamento, eu posso ver daqui que você sequer está com vontade de me atacar. Eu não sei a que tipo de castração mental você foi submetido, mas eu poderia espancá-lo agora e você sequer reagiria. Você tem ordens explícitas de não me matar, do contrário não viria com mais cem soldados. Não desperdice o tempo de seu Imperador: leve-me até ele.

E segui caminhando.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Lost and Found 10: Shadowed

Então, o miserável Senhor das Sombras era embaixador do Pesadelo. Divertido.

Seguimos por muito tempo em direção ao tal palácio. As criaturas eram a minha escolta: não que eu precisasse, mas simbolizava que eu era parte daquilo. Pude sentir o Senhor das Sombras tornando-se mais forte. Não o suficiente, mas eu sentia seu poder crescendo, sentia ele lutando pelo controle. Mas ele ainda é fraco. Demais.

O palácio começou a ficar próximo. Era um misto de torres que cúpulas e ocupava centenas de quilômetros. Eu sabia quem era seu regente, e sabia que era um de nós, mas não sabia quem fazia parte de toda a estrutura. Se o Senhor das Sombras era o Embaixador, então não sei quem diabos estava abaixo dele na hierarquia. Quando eu o absorvi, ele não era muito poderoso. O que fez com que ele fosse promovido a tão importante cargo?

Eu só podia especular.

Continuamos caminhando, os gritos horríveis ecoando ao nosso redor. Uma visão semelhante ao inferno, mas um pouco mais brutal. Alguns humanos corriam, mas eram abatidos por horrores voadores com cinco asas ou coisas aberrativas do tipo. As criaturas abriram os portões e então adentraram.

-Levem-me para a biblioteca. É uma ordem.-disse à eles.

-Ora, ora, Embaixador, que falta de polidez a sua. Deixem-nos a sós.-disse uma voz surgindo de dentro do Palácio.

Aquela voz... eu sabia que conhecia. Não sei daonde, mas eu sabia que a conhecia.

-Bom vê-lo de novo, Senhor das Sombras. Ops, desculpe-me... Orgulho, não?-disse a voz.

-Estás desculpado, eu também não lembro quem és... sua voz, no entanto, me soa familiar.

-Ah, é lógico que eu lhe sou familiar. Andamos juntos, meu bom amigo.

Maldição, é lógico que eu conheço essa voz.

-Arrogância. Eles aceitam qualquer um aqui, nesses tempos, não é?-disse eu.

-Se deixaram você entrar, devem estar aceitando, mesmo.-respondeu ele.

-Como se eu precisasse pedir. Você, aparentemente, é abaixo de mim na hierarquia... podemos resolver isso agora, se quiser.-repliquei.

-Adoraria, mas combates entre os membros da realeza são proibidos aqui dentro. Precisamos evitar motins... não fosse isso, e o Embaixador já estaria morto.

-O Embaixador é fraco, gostaria de ver você ME enfrentando, Arrogância. Eu tenho poder aqui dentro e fora. O que você tem?

Ele sorriu.

-Eu tenho o que você procura.-disse ele.-E isso é muito mais do que você tem.

sábado, 4 de dezembro de 2010

The Blackest of My Hearts, the Sweetest of My Words

Tempos que eu não vinha aqui, segurando um demônio novo pelo pescoço e jogando ele junto ao resto da sua espécie.

E então, eu finalmente estou aqui de novo. Confuso, exausto, perdido. Não sozinho - nunca sozinho - mas solitário, sempre. Tenho bons amigos que, felizmente, estão sempre dispostos a me ajudar, mas nem sempre eles podem ou conseguem. Existem coisas que ocorrem dentro da minha cabeça e que só eu posso entrar e resolver. E é isso que eu acho que tenho que fazer.

Eu sinto falta da paz. A paz que eu sentia às vezes quando me deitava e não precisava pensar no dia seguinte e nos seguintes a ele. A sensação de "não ter no que pensar": despreocupação. Todo dia é um caos novo, diferente e imprevisível: eu sou aceito em um estágio, mas no mesmo dia perco meu cartão de ônibus e trinta reais. Eu me ferro numa prova e, na mesma semana, eu me ferro em outra. Eu tenho uma noite completamente de merda até as 4 da manhã que, de repente, se transforma numa noite ótima e numa manhã ótima. Caos. Aleatoriedade.

Exaustão é aquela coisa de cada dia ser inaguentável. Detesto isso, até porque não acredito em eternidade, o que significa que cada dia perdido é um dia perdido. Frase fantástica, essa, mas a verdade é que deixar as coisas passarem é horrível quando você não sabe quanto tempo você tem. Eu sou intenso tanto no calor quanto na frieza, e isso torna as coisas difíceis. Minhas emoções são um estímulo secundário: quem coordena as coisas, nesse reino, é a Razão, e ela toma muito tempo até se decidir.

Estar perdido, na realidade, é consequência de estar confuso e estar sem saco pra aguentar as coisas que eu tenho que aguentar. É acordar e pensar "Porque diabos eu tô acordando a essa hora?". Sair de casa e pensar "o que vai mudar na minha vida?". Estar preocupado com a faculdade, mas não conseguir estudar porque falta paciência pra essa porra. É ir fazer a prova de botânica III e sair de lá de dentro com vontade de quebrar o recorde mundial de engolimento de ouriços gigantes da Nova Zelândia. É saber o que eu quero, mas não saber porque. É saber porque, mas não achar suficiente. É não achar suficiente, mas não ter escolha.

É deixar que as coisas sejam decididas pelo "mais sombrio de meus corações": a Razão. É como eu sempre fiz, é como eu sei fazer as coisas.

É guardar para mim mesmo "a mais doce de minhas palavras" porque simplesmente não consigo mais dizê-la.

Sinto-me um anjo caído. Saí da frigideira e pulei no fogo. Tive que pegar cada pedaço do que sobrou do meu momento derradeiro no Paraíso e então ver o que eu podia fazer com isso...

... e agora eu achei minha resposta.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Lost and Found 9: This Nightmare Will Never End

Pestifera.

O plano dos pesadelos era uma área gigantesca de noite eterna e gritos constantes. Entrar de propósito era insano; entrar sem querer era torturante. Criaturas amaldiçoadas, erros grotescos dos deuses, perambulavam pelas planícies. Um erro, um único, e você se veria lutando pela própria existência...

... e perdendo.

Saquei minha Lâmina. Qualquer um que quisesse me enfrentar, me encontraria preparado. Eu lutava por minha existência, e quando o Orgulho luta para não cair, erros são fatais. Mas eu, ainda assim, estava em desvantagem. Aquelas vastidões eram quase infinitas, e eu não tinha a menor ideia do que poderia encontrar por lá. A insanidade que recebi de presente de Loucura protege minha mente dos horrores dessa terra amaldiçoada. Agora eu entendo a verdadeira intenção dela: ela nunca quis que eu pudesse fazer planos ou prever reações. Ela queria que eu mantivesse a minha consciência plena, não importasse qual a situação que eu estivesse.

E eu devo isso a ela, agora.

Caminhei durante o que pareceu ser dias. O tempo passa diferente aqui: quanto mais horrível a condição, mais tempo ela demora para passar. Por isso, cada segundo aqui parecia durar uma eternidade.

E então avistei duas criaturas gigantescas movendo-se na minha direção. Elas pareciam tentar agir de forma discreta, mas tão logo eu as percebi, elas investiram. Somente então eu percebi que estava cercado por pelo menos dez dessas criaturas. Ergui minha Lâmina.

-Eu lhes previno, criaturas: nenhuma de vocês há de sobreviver.-disse eu.

-Nós somos parte desse mundo, Eterno. Você não é, mas em pouco tempo isso deixará de ser um problema.-berrou um dos monstros.

Um tentáculo de sombras ergueu-se do chão e então derrubou-o. Investi com a minha Lâmina, mas então notei algo estranho.

Todos eles estavam parados, me encarando. Parei também, e então algo estranho aconteceu.

Todos se ajoelharam.

-Perdoe-nos, Embaixador. Confundimos você com outro Eterno. Você mudou muito, pedimos perdão. Imploramos misericórdia.-disse o mesmo que respondeu minha bravata, que eu presumo que seja o alfa do grupo.

Embaixador? Mas o que diabos está acontecendo aqui? Eu nunca pus um pé nesse mundo escuro e sombrio...

Confesso que, tão logo minha insana mente percebeu o que estava acontecendo, tive vontade de gargalhar até a morte.

-Ah, Senhor das Sombras... bela surpresa que guardaste para mim.-disse eu, em voz baixa.-Muito bem, leve-me até seu palácio.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Lost and Found 8: Dreamweaver

-Certo. Mas desde que matei minha esposa, tenho dificuldades para dormir... Vou ver se tenho algo que possa me ajudar com isso.-disse ele.

Ele pegou alguma coisa naquele baú e então foi para a cozinha. Vi ele enchendo uma chaleira de água e colocando para ferver junto com o que quer que fosse aquilo que ele pegou. Depois, serviu duas xícaras e bebeu. Fez uma careta e então voltou-se para mim.

-Depois disso, vou dormir como nunca. Você vai ficar me observando?

-Sim, preciso sentir o exato momento que você ruma para Oneiros

-Que seja... fui.

O humano deitou-se. Eu fiquei parado, concentrado. Eu precisava me sintonizar com sua alma no exato momento que ele fosse para o mundo dos sonhos, ou "perderia a viagem". Senti a alma dele deixando o corpo depois de alguns minutos. Era a hora.

Cheguei próximo ao seu corpo e toquei em sua testa.

Encontrei-me em uma enorme antecâmara. Era a mente do tal Stride. Caminhei e o encontrei encostado em uma coluna.

-Você vai achar um pouco esquisito, no início, mas depois você vai se acostumar... eu vou precisar segurar em sua perna... mas vai ser rápido.-eu disse.

-Eu tenho certeza que vai. Mas eu mudei de ideia quanto a isso, decidi que não quero mais levá-lo.

Um tentáculo de sombras formou-se do nada e foi na direção do humano...

... que segurou-o.

O que diabos estava acontecendo?

-O que é isso, mortal?-perguntei.

-Orgulho. Você é poderoso, mas cego. Você ACHA que eu tenho alguma intenção de ajudá-lo? Poderoso ou não, você é tão arrogante quanto todos os outros. Mas agora eu vou lhe mostrar o porque vocês, criaturas "superiores", são só um bando de idiotas.

Ele moveu sua mão e eu fui arremessado longe.

-Humano! Você me desafia?-perguntei, furioso.

-Não, mas você não poderia me derrotar aqui. Estamos em minha mente e, aqui, eu posso derrotá-lo. Eu sei o que você é, na verdade. Nem anjo, nem demônio: você é um espírito. E eu sei como lidar com você.

Ele estendeu a mão:

Spiritvm, exorcizo te. In nomine patris, filivm et spiritvs sanctvs, in dei nomine.Malleficvs spiritvs: vade retro!

Senti uma força impossível de deter arrancando-me da mente daquele humano. Maldito seja, eu vou dar um jeito nele um dia. As portas da mente dele se abriram para me expelir. Nessa hora, eu sorri.

-Do que você está rindo, Orgulho?- perguntou ele.

-Estou rindo de você, que acaba de me dar o que quero-disse eu.

Tão logo fui arremessado para fora, usei toda minha força para desviar-me do caminho... e fui arremessado dentro de meu objetivo.

Ah, Pestifera.

Eu estou ansioso para explorar seus infinitos e malditos cantos.

domingo, 28 de novembro de 2010

Lost and Found 7: Hunting High and Low

Hoje eu acordei com uma sensação estranha, como se alguém tivesse passado a noite inteira me observando. Sei lá, talvez seja uma maldita paranoia. Quando você faz inimigos diariamente e amigos uma vez por década, é comum perder um pouco da sensação de segurança.

Enfim, levantei da cama achando meu dia meio esquisito. Mexi no meu baú de armas, peguei meia dúzia de livros de magia e comecei a recitar uns versos, só por precaução. Hoje eu ia tirar o dia de folga, estava decidido. Era tão melhor antes de minha esposa morrer. Agora, minha folga resumia-se a encher a cara o dia inteiro, me sentir na fossa e torcer para que algum demônio revoltado estourasse a porta da minha casa e tentasse me matar.

Passei o dia inteiro com a sensação desgraçada que tinha algo me observando. Inferno, eu odeio meu trabalho. Meu dia foi uma bosta, como todos os outros, mas sem previsão de ação durante a noite. A maldita TV não tinha um programa que prestasse e, na minha última folga, eu dei com um taco de beisebol no meu rádio, então ele estava estragado. Era somente tédio, hoje.

Anoiteceu depois de uma eternidade, e eu fiquei com fome. Decidi comprar alguma coisa para comer e, porra, lá vinha eu sentindo que alguém 'tava me seguindo. Eu não sobrevivi tanto tempo sem dar bola pros meus instintos, mas não tinha ninguém mesmo e eu estava armado. Isso é paranoia, loucura...

... ou algum filho da puta realmente esquivo.

Comi uns dois cheeseburgers e voltei pr'aquela espelunca que eu chamo de casa. Abri a porta e entrei.

E tinha um desgraçado de pé no meio da minha maldita sala.

Não quis saber de palhaçada. Saquei as duas pistolas com silenciador e enfiei bala no desgraçado antes mesmo de ligar a luz.

-Impressionante.-respondeu ele.-Você não achou que fosse me ferir realmente, achou?

Otário. Puxei a faca e fui pra cima dele, mas o infeliz me deu um soco e me atirou do outro lado da sala.

-Senhor Stride.-disse ele.-Creio que esse seja seu nome, não?

-É, isso mesmo. Quem diabos é tu, porque tu tá me seguindo e, mais importante: como tu não tá morto?-retruquei.

-Eu sou mais do que você caça normalmente, humano. Não sou vampiro, lobisomem, anjo ou demônio. Eu sou um Eterno.

Caralho, eu tô fodido. Eu sempre achei que eles fossem lendas (todo mundo acha, na realidade). Só conheço de nome e sei que anjos e demônios MORREM de medo deles.

-Qual é seu nome, Eterno?-perguntei.

-Orgulho.-respondeu ele.

Maravilha, me sinto como se estivesse falando com um espelho megalomaníaco.

-Considerando que eu ainda estou vivo, você quer minha ajuda. O que eu posso fazer que o grande Orgulho não pode?

-Oneiros.

-Ah, o mundo dos sonhos. Porque diabos você quer ir lá?

-Não é pra lá que quero ir e não é da sua conta.

-Bom, vai ter que procurar outro idiota, eu não vou...

Um tentáculo de sombras surgiu do nada e me levantou pelo pescoço. Filho da puta, eu achei que ele só pudesse fazer coisas relativas ao Orgulho.

-Talvez eu tenha esquecido de citar que também sou conhecido como Senhor das Sombras. Agora ouça bem, mortal: eu não preciso matá-lo, mas não vai mudar nada na minha vida fazer isso, invadir o céu, pegar sua alma e entregar pro Lucifer. Por outro lado, se você for bonzinho comigo, eu posso deixá-lo vivo.

Maldito.

-Acordo feito.

-Ótimo. Agora vá dormir.

sábado, 27 de novembro de 2010

Pesquisas com animais

Ok.

Acho que tá na hora de por lenha na fogueira.

Acabei de ler um texto sobre testes e pesquisas em animais. O cara, que tava defendendo as pesquisas em animais, falou alguns absurdos como "produção de novos DNAs". Acredito que ele quis se referir à transgenia, uma outra situação passível de discussão. Não vem ao caso.

Eu vim aqui falar sobre pesquisas em animais, evidenciar os prós e contras... e dizer porque eu sou a favor.

Primeiramente, as pesquisas com animais são utilizadas há muito tempo. Segundo esse texto (http://www.ufrgs.br/bioetica/animhist.htm), escrito por um membro da UFRGS que trabalha com éticas em pesquisa animal, são utilizadas desde a antiguidade. Atualmente, existem numerosos estágios de pesquisa antes da pesquisa com animais: ninguém desenvolve uma droga nova e sai injetando ela em filhotes de coelhinhos branquinhos indefesos. Isso é recente: provavelmente, as drogas antigamente fossem testadas em loucos ou coisas assim. Considerando que o inventor da Lobotomia ganhou um prêmio Nobel pela ideia imbecil, eu não duvido de nada.

Droga é qualquer substância que induza mudanças somáticas ou funcionais. Medicamento é qualquer substância que, administrado no organismo vivo, tenha efeitos benéficos.

A questão do sofrimento dos animais é abordada há muito tempo dentro da própria ciência, mas ganhou força na população ultimamente com o crescimento do vegetarianismo. De fato, animais sentem dor, todos sabem disso. Pise no rabo do gato e ele mia, dê com uma cadeira no cachorro e ele late. Não é coincidência, ele não gostou disso. A ideia de "animais sofrem e plantas não" já não pode mais ser considerada válida: não se pode usar o termo "dor", mas as plantas tem formas de se comunicar umas com as outras e, principalmente, de avisar que "tem um desgraçado me mordendo e eu não estou me divertindo com isso". Nós não percebemos... mas as outras plantas da mesma espécie, percebem. Segundo um professor meu de Bioquímica, "se as pessoas pudessem ouvir os sinais químicos que uma folha de alface libera quando você atira vinagre nela, ninguém comeria alface".

Existe um grande princípio envolvido que é o bom e velho "a natureza NÃO EXISTE para nos servir". Isso é correto. Aliás, não acho que haja um "motivo" para a existência da natureza. Ela simplesmente surgiu. O ser humano é um animal como os outros, com a capacidade social e intelectual adaptada para um conjunto de situações. A criação de sociedades, a vida em grandes grupos e o uso de ferramentas. Até agora, nada novo para a natureza. Agrupamento de indivíduos existe desde as bactérias, sociedade com divisão de tarefas existe desde os Hymenoptera (ordem a que pertencem as vespas, formigas, abelhas e marimbondos), talvez até antes (quem souber, corrija-me), uso de ferramentas existe em outros primatas, mas as represas dos castores podem ser consideradas "ferramentas". O "raciocínio lógico", que a ciência não sabe definir muito bem, talvez seja uma das nossas características mais próxima de "exclusiva". A defesa dos animais é uma causa válida: existe muita tortura, justamente porque acreditamos que somos superiores. Não é idiotice ou "falso altruísmo": é algo sério e deve ser respeitado mesmo por aqueles que não se envolvem com o ativismo ambiental.

Voltando para o tema da postagem: pesquisas com animais. Sim, os animais sofrem. Sim, várias pesquisas machucam os animais. Não, a ciência não gosta disso. Um cientista não é alguém que estuda a vida inteira formas diferentes de torturar ratinhos, coelhos, macacos... não, definitivamente não. Pelo menos, não todos. Existem laranjas podres em todos os cestos, a ciência não seria diferente. Pesquisas com animais são situações complicadíssimas, especialmente quando se lida com os ditos "animais superiores": vertebrados, especialmente mamíferos. Ninguém nunca reclamou de pesquisas com moluscos ou do desenvolvimento de inseticidas. Isso é porque eles não sentem dor? Ops, não... porque eles sentem. Isso provavelmente se deve ao fato de que eles não GRITAM.

O grande problema das pesquisas com animais é o grito. Se você vê uma foto onde tem um caracol recebendo uma microinjeção ou uma lula dissecada, dane-se. Olhe a expressão dela: ela nem sabe o que está acontecendo. Isso é mentira.

Os animais que gritam, que fazem barulho. Esses são os coitadinhos.

As pesquisas com animais são IMPORTANTÍSSIMAS para a ciência. Podemos ser diferentes do rato morfologicamente, mas temos uma proximidade relativa com ele no quesito evolutivo. A existência dos mamíferos é relativamente nova, do ponto de vista geológico. Muitas drogas funcionam no corpo desses animais de forma muito semelhante a como funcionam no nosso. Não é exatamente igual, mas algumas vezes pode-se prever os resultados.

Praticamente TODOS os remédios desenvolvidos passaram por uma fase de triagem com animais, talvez até não haja exceção. Os Comitês que coordenam o desenvolvimento de novas drogas com o intuito de preservar a saúde humana são rígidos nesse aspecto. O teste com animais NUNCA é a primeira parte: na realidade, começa-se com culturas de células, ou seja: amostras de tecidos crescem em plaquinhas e então você aplica a substância nelas. Sem animaizinhos sofrendo.

Porque então não se usa somente isso?

Pelo mesmo motivo que impede as pessoas de viver tendo SÓ o cérebro ou SÓ os rins ou SÓ o fígado. Existe integração entre sistemas do organismo e, já que ainda não se pode simular isso in vitro, passa-se para a próxima fase do teste: pesquisas em animais.

Porque não se passa direto para humanos? Porque, bom, você dificilmente vai ver um leão caçando outro leão se tiver uma zebra por perto. Chama-se "instinto de presevarção". Se você fosse ser atropelado e tivesse um rinoceronte do seu lado, você provavelmente colocaria ele na frente, se conseguisse. É o instinto humano preservar o humano.

Mas a pesquisa é de humanos. Porque não usar humanos? Bom, a fome era do leão e quem se ferrou foi a zebra.

Meu exemplo foi infeliz, mas o que eu quis dizer é que a humanidade tende a se proteger. Existe um princípio na pesquisa chamado de 3 R's: Replace, Refine, Reduce. Replace significa substituir: ou seja, as pesquisas por animais DEVEM ser substituídas, sempre que possível, por outro modelo capaz de dar o mesmo resultado. Refine significa refinar, ou seja, a pesquisa não deve ser conduzida a menos que os dados provem que vale a pena seguir a pesquisa (sem consequências drásticas para o organismo). Reduce significa reduzir: o número de animais deve ser o menor necessário para provar a eficiência da droga ou medicamento.

A pesquisa com animais é importantíssima para evitar que drogas não-funcionais ou maléficas caiam no mercado, e MESMO ASSIM, com todo o rigor envolvido, nem sempre funciona. A talidomida é um exemplo: mesmo o teste com animais não indicou consequências. Imagine que SEM os testes com animais, um número ainda maior de mulheres teria tido seus filhos prejudicados pela droga.

Os métodos substitutivos que existem atualmente não são capazes de substituir a fisiologia, e é por isso que as pesquisas com animais persistem. Medicamentos não são substâncias boazinhas: a diferença entre cura e veneno está na dose. No caso de alguns antibióticos, a diferença pode chegar ao nível de 18 (não lembro a unidade) ser uma concentração de tratamento e 20 ser tóxica. Quase ninguém GOSTA de ferir animais para pesquisas, mas é um mal necessário até que se desenvolva outra forma. Sem a medicina e a farmácia, a humanidade está fadada a uma série de epidemias em larga escala: nosso sistema imunológico não conseguiria lidar com as diversas patologias que foram "globalizadas".

Ufa, cansei.

Se você leu até aqui, faça um comentário (provavelmente vai ser me xingando, mas dane-se).

Qualquer um que queira conversar mais sobre o assunto, sinta-se à vontade para fazê-lo.

Lost and Found 6: Different Worlds

Meus passos eram o único som além do vento do deserto. Até Loucura tinha me deixado. Eu tinha, em meu rastro, um Eterno fortíssimo, plenamente capaz de me derrotar. Eu precisaria de ferramentas se quisesse ter qualquer chance de derrotar Justiça. Mas as ferramentas em questão estavam acima do que eu poderia conseguir sozinho. O pacto com Lil'Siztah tinha sido um golpe de sorte, seria impossível derrotar o "anátema" sem a ajuda dela. Eu poderia tentar outro pacto, mas não teria o que oferecer.

Vou ter que pensar em algo diferente.

A morte de Conhecimento era novidade para mim. Eu não a senti. Meu vínculo com a Legião realmente estava diminuindo: eu sequer consegui sentir o desaparecimento de Mágoa. Eu ainda sentia Revés em algum lugar distante. Fúria também. Mas era isso.

Os seis pecados estavam juntos, eu também podia sentí-los. Mas nesse momento, eles poderiam fazer muito pouco por mim. Eu precisava de algo ancestral. Normalmente, eu iria atrás de Conhecimento para isso. Mas desde que brigamos, e agora que ele está morto, isso não era mais uma opção. Revés poderia prover-me com isso, mas ele tem seus próprios problemas agora: eu adoraria poder ajudá-lo, mas não posso fazer muito. Além disso, minha vida está em jogo e eu nem sequer sei como me defender. Minha mente trabalhava com diversas opções em paralelo, mas nenhuma delas tinha futuro. Inferno, Céu, Terra, nenhum mundo tinha para me oferecer o poder que eu precisava. Quando eu finalmente achei que ia viver o sonho, mergulhei em meus...

Como eu sou tolo. Como que pude não pensar nisso antes?

Eu tinha uma chance. Uma única chance. Uma lenda muito antiga, até mesmo para nós. Diz-se que quando a humanidade surgiu, criaram-se o mundo dos espíritos e o mundo dos sonhos. Animus e Oneiros, como nós chamamos. No entanto, como consequência do livre-arbítrio, também surgiu o mal, e com o mal surgiu um terceiro mundo. Algumas vezes, durante a viagem dos humanos para Oneiros, eles se perdem no caminho. Muitos o encontram de novo, mas alguns seguem a trilha errada. Eles entram em um mundo de dor, desgraça e perversão. Um mundo que surgiu das trevas e somente a elas pertence, um plano tão desolante que nem mesmo anjos, demônios ou Eternos entram lá sem ter um EXCELENTE motivo. O mal não vem de lá, mas serve de alimento para as criaturas sem sentido que lá existem. A própria Loucura evita aquele lugar.

Pestifera.

Ou, como nós conhecemos, o Mundo dos Pesadelos.

Eu posso não saber o que eu procuro.

Mas tenho certeza que, seja o que for, eu posso encontrar lá.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Lost and Found 5: Still Walk Alone

-Fúria, você está bem?-perguntei.

-Sim, estou... obrigado por salvar-me. Conhecimento foi capturado e morto. Eu fui capturado também. Mágoa está desaparecido. Inconsequência está sumido, também. E Revés... você deve saber dele mais que eu.-disse Fúria, cansado.

-Sim, Fúria. Felizmente, consegui alguns aliados...-respondi, com um sorriso.-Estamos em solo alto agora, meu amigo.

-Não "estamos", Orgulho. Você está.-disse ele.

-O que você quer dizer?-questionei, com um certo desespero na voz.

-Eu sinto muito, meu velho amigo, mas você não está sendo punido por nada que não tenha feito. Eu agradeço que tenhas me salvado, e minha lealdade por você jamais me deixaria atacá-lo de qualquer forma. Mas essa batalha não é minha, Orgulho.-disse Fúria.-Eu realmente sinto muito.

Fúria ergueu-se, abriu as asas e foi embora.

Então era isso. Sozinho. Salvei Fúria, salvei Revés, ajudei Conhecimento. Fiz tudo por todos os meus aliados. E, no entanto, no momento em que precisei, cá estava eu. Eu, uma Lâmina e Loucura. As três únicas coisas que nunca me abandonaram.

-Você não previu isso, Orgulho. Mesmo com a clareza que lhe dei. Sabe o que é isso? Chama-se confiança. Você contava com Fúria. Espera ainda ajuda de Revés. A culpa não é deles, Orgulho. Nunca foi e nem nunca será. Você não pode esperar que todos estejam sempre prontos para estender-lhe a mão.-disse Loucura.

-Você conviveu no isolamento por tempo demais, Eterna. Não venha me falar sobre companhia... seria o mesmo que eu falar com você sobre resignação.-respondi, com aspereza.

-Orgulho. As palavras lhe ferem mais do que qualquer Lâmina. Essa é sua fraqueza, meu querido. Você está afundando em um poço. Por vontade própria. Você está cavando sua sepultura, meu bom Orgulho, e não está dando motivos para ninguém visitá-la.

Aquietei-me. Loucura estava certa. Meus aliados afastavam-se de mim, por vontade própria. Conhecimento me deixou, Revés tentou me matar, Fúria deu-me as costas, Mágoa e Inconsequência sumiram, Esperança me traiu... Todos aqueles com quem contei deixaram-me. O motivo era um, somente: eu. O Orgulho não foi feito para contar com os outros ou para deixar-se dissuadir.

-Sua clareza trouxe-me uma nova visão, Loucura. O Orgulho sempre...

... há de caminhar sozinho.-disse a ela, e saí andando.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Lost and Found 4: Wrap Your Troubles in Dreams

-Orgulho, o que você fez?-perguntou Luxúria.

-O que eu tinha que fazer. Loucura pode salvar Fúria e isso é o que importa. Se eu detiver o Behemoth e salvar Fúria, meus problemas estão terminados.-respondi.-Saiam daqui, agora. Vocês não tem o poder para enfrentar essa criatura e ela com certeza está próxima de mim. Posso sentí-la. Posso sentir Fúria.

Os seis deixaram o local. Somente Loucura me fez companhia naquele deserto. O tempo passava e eu sentia a presença de Fúria. Minha mente funcionava ao mesmo tempo em várias instâncias: salvar Fúria, escapar dos olhos de Justiça, encontrar Revés, reunir-me com os pecados. Inúmeros planos desenrolavam-se ao mesmo tempo. Capacidade fascinante.

-Ele está perto, Orgulho. Detenha-o, mas não o destrua.-disse Loucura.

-Sim, minha cara.-respondi.

Pude ver a criatura aproximando-se, mas não pude ouví-la. A criatura caminhou até mim.

-Orgulho?-disse ela, com uma voz grave e monstruosa.

-Eu.-respondi.

-Você tem uma sentença de morte. Eu farei isso de forma rápida se você colaborar.-disse o monstro.

-Então receio que você vá demorar, Behemoth.-respondi.-Você me deve um aliado.

-Fúria. Sim, posso sentí-lo lutando. Mas a luta dele é inútil. Assim como a sua.-disse a criatura.

As enormes mãos do monstro voaram em minha direção, mas encontraram somente fumaça e sombras. Apareci nas costas da criatura, mas ela estava alerta. Uma de suas patas traseiras acertou-me um chute brutal no tórax. Fui atirado longe, mas abri minhas asas para encurtar a distância. Voei na direção da criatura, que correu na minha direção. Mas ele atravessou somente sombras.

Esse mesmo velho truque, que eu usei contra Scarecrow, nunca falhava. Apareci em cima da criatura e então cravei minha Lâmina em suas costas com cuidado. Não queria matá-lo, apenas enfraquecê-lo. O monstro moveu seu corpo forte para cima e arremessou-me de novo, mas dessa vez eu estava no controle. Lentamente planei até o chão.

-Maldito. Eu sou um Primordial. Tenho poderes que você nem sonha.-disse ele.

-Eu não sonho, Behemoth. Eu faço.-respondi.

Corri na direção do monstro, Lâmina Eterna em punho. Minha mente calculou, ao mesmo tempo, inúmeros pontos diferentes para acertá-lo. Seus braços ergueram-se para esmagar-me, mas fui mais rápido. Minha Lâmina percorreu o caminho até o peito da criatura, que tentou me segurar com um de seus braços. Ledo engano.

Teletransportei-me para trás da criatura nesse exato instante e então atravessei seu peito com minha mão. Um uivo de raiva ecoou de sua garganta. Não acertei seu coração, mas a enfraqueci.

-LOUCURA, AGORA!-gritei.

A belíssima dama andou até o monstro e então tocou sua testa. A criatura instaneamente aquietou-se. Loucura então recitou algumas palavras, enquanto eu tirava meu braço de dentro do monstro. Quando Loucura terminou de recitar, a criatura brilhou. Quando o brilho cessou, um Eterno encontrava-se caído ao lado do Behemoth.

-Fúria.-disse eu.

-Orgulho.-disse ele, fraco.-Você estava errado. Seus problemas não estão sequer perto do fim, meu amigo. Os seus problemas, de verdade...

...começam agora.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Lost and Found 3: Madness Caught Another Victim

-Permita-me fazer uma intervenção.-disse uma voz, razoavelmente próxima de mim.

Os seis outros pecados deram um passo para trás, mas um sorriso perpassou meu rosto. Aquela voz. Doce, suave, sedutora. Somente uma criatura no mundo tinha um chamado tão atraente.

Loucura.

-Sempre, minha "velha amiga". Fale suas palavras.-respondi.

-Orgulho, você não está pensando em...

-Cale a boca, Avareza. Você não sabe com quem está lidando.-respondi, rispidamente.

Loucura era uma mulher belíssima, com cabelos verdes e olhos de um profundo azul. Mesmo as asas e tentáculos não abalavam sua estonteante presença. Um toque dela era capaz de arrebatar até o mais poderoso dentre nós. Se essa fosse a vontade dela, logicamente.

-Orgulho.-disse ela, com um sorriso.-Você tem algo que eu quero.

-Tenho? E o que seria, minha doce companheira?

-Um behemoth.-disse ela.

Olhei com estranheza.

-Não, não tenho.

-Sim, meu querido, tem.-disse ela.-Ele está vindo encontrá-lo. Justiça colocou-o atrás de você. Ele é muito poderoso. Eu quero ele para mim. Preciso dele para minha coleção.

-Você não nos disse que tinha um Primordial caçando você, Orgulho.-disse Luxúria, em pânico.

-Eu não sabia, sua estúpida. Ou você acha que eu estaria aqui perdendo meu tempo.-respondi para ela.-Loucura, essa criatura não vai parar até um de nós estar morto. Não posso dá-lo para você. Eu preciso detê-lo.

-Uma pena. Fúria ficará realmente triste com você.

-Fúria? Onde ele está?

-Dentro do Behemoth.-disse ela, com um sorriso. Naquele momento, pude ver toda a insanidade fluir de seu corpo. Era uma força avassaladora. Todos caíram.

Menos eu.

-Salve Fúria e fique com o resto da criatura.-eu disse.

-Você tem um acordo, Orgulho.

Merda. Fazer um acordo com Lucifer era uma coisa, com Lil'siztah era outra coisa. Mas com Loucura, era demais. Ela poderia simplesmente decidir que não iria mais me ajudar. Mas eu não tinha outra escolha.

-Preciso de sua ajuda, Loucura.-disse eu.-Não posso fazer isso sozinho.

-Aproxime-se, querido.-disse ela.

Relutante, dei um passo em frente.

Rápida como um raio, Loucura segurou-me com seus tentáculos e então tocou minha testa com a sua mão. Gritei, me debati, mas nada fez ela me soltar. Senti minha mente sendo despedaçada em milhares de fragmentos menores, cada um deles auto-suficiente. Ouvi o Senhor das Sombras gritar quando ele próprio foi destruído. Senti infinitas coisas ao mesmo tempo.

Caí de joelhos no chão, com as duas mãos na cabeça. Nada fazia sentido, por enquanto. Eu pensava em inúmeras coisas e minha mente parecia incapaz de compreendê-las, mas aos poucos tudo começou a fazer sentido.

-A sanidade é boa, Orgulho, mas a loucura é uma bênção. Loucura é você pensar em tantas coisas ao mesmo tempo que nenhuma delas faz sentido em conjunto com as outras. Eu dou-lhe um presente: sua mente conseguirá pensar em inúmeras coisas ao mesmo tempo. Serás capaz de mergulhar no meio do absurdo e tirar dele tuas respostas. Pensarás no Universo todo ao mesmo tempo, compreenderá níveis de complexidade impossíveis para os outros. Dou-lhe essa clareza, mas levo, comigo, parte de tua mente.

Meus olhos abriram-se de novo e eu podia perceber tudo ao mesmo tempo. Sorri.

-Obrigado, Loucura.-disse eu.-O melhor dos presentes que já ganhei.

sábado, 20 de novembro de 2010

Lost and Found 2: Seven Deadly Sins

Eu realmente fui surpreendido, dessa vez.

Eu sabia que estava sendo perseguido. Na realidade, um dia isso iria acontecer. Quando você começa a matar aqueles que fazem parte da sua espécie, eles começam a ter medo. E quando um grupo tem medo, ele reage de forma desesperada. Assim, quando a matança de Eternos virou parte da minha rotina desgraçada, era lógico que, em algum momento, eles iriam perder a paciência comigo.

Eu esperava que fosse mais tarde, logicamente. Mas essa não era minha surpresa.

Seis Eternos estavam em minha frente. Um deles eu conhecia de épocas anteriores. Minha Lâmina, então, o conhecia muito bem e de forma profunda. Perfurantemente profunda.

Inveja, Ira, Preguiça, Gula, Luxúria e Avareza.

-Orgulho.-disse Luxúria, com um sorriso malicioso.-Confesso que você nunca foi dos meus favoritos, mas sua performance matando os nossos tem me estimulado a pensar muito em você...

-Poupe-me, Luxúria, você pensaria em um cachorro se ele estivesse próximo o suficiente.-respondi.

-Se fosse um cachorro atraente...-ela disse, mas parou.

-Então... vocês querem formar os Sete Pecados Capitais, é isso? E, logicamente, PRECISAM de mim.-disse eu.

Gula tomou a dianteira na resposta.

-Você sabe que queremos consumir a todos. E nosso objetivo condiz com o seu, Orgulho. Você não tem mais sua Legião: ela foi deliciosamente consumida pelo tempo. Já deve estar sendo digerida.

-Revés ainda me acompanha.

-E onde está ele agora?-disse Avareza.-Quero saber onde ele está, quero vê-lo, quero trazê-lo para nosso lado.

-Você quer coisas demais, idiota.-disse eu.

-Nós sabemos que você é poderoso e fatal, Orgulho. Quem dera um dia eu pudesse desfrutar dos poderes que você porta...

-O assunto não chegou a você, Inveja. Fique na sua.-respondi.

-Porque nós não paramos de discutir e esperamos para ver o que acontece?

-Porque, se fizermos isso, vocês vão todos morrer, Preguiça.-foi minha réplica.

-Orgulho, cale sua boca. Eu simplesmente não o aguento mais. Porque eu e você não resolvemos isso como Eternos?

-Porque, se fizéssemos isso, teriam que retirar você daqui com um espanador, Ira. Porque eu deveria me juntar a vocês?

-Porque nós somos tudo que você tem agora, Orgulho. Sozinho, você poderá atrasá-los... comigo, você pode fazer o que quiser.

-Luxúria, seja menos oferecida. Vocês pediram minha adesão, e não o contrário.

-Essa discussão vai muito longe se nós continuarmos com ela. Vamos deixar as coisas como estão.

De todos os seis, Preguiça era o que mais estava correto. E isso me irritava.

-A situação é a seguinte, Orgulho: você está sendo caçado. Nós queremos ajudá-lo. Queremos tê-lo ao nosso lado e conquistar o que é nosso por direito. O que nós merecemos como Eternos. Estamos cansados dessa situação desgraçada onde Céu e Inferno decidem as coisas. Queremos o poder. E você, por mais que lhe doa admitir que eu estou certo, também quer isso. No fim das contas, somos instintos presentes em tudo e em todos. Tudo que eu quero é que você admita isso.

-Vocês querem me ajudar para que eu os ajude a confrontar Céu e Inferno?-disse eu, rindo.- Insanidade é o nome disso, Avareza. Vocês são seis Eternos, dos quais um luta sem necessidade, o outro resolve seus problemas dormindo, um quarto comendo, um quinto se oferecendo, o penúltimo desejando e o último desmerecendo. A escolha de vocês é lógica: eu sou o único que faz algo que preste. Sejam realistas e me digam onde vocês acham que isso vai parar?

-Prefiro não me esforçar pensando nisso.

-Preguiça, aproveite que não gosta de fazer esforço e cale a boca.

-Chega dessa baboseira. Você vai juntar-se à nós ou não?

Se, por um lado, era uma grande idiotice, por outro eu iria ganhar seis imbecis pra morrer na minha frente. À exceção de Ira, nenhum deles era um guerreiro louvável, e essa situação só seria resolvida da forma antiga. Lâminas, punhos e mortes. Revés estava longe demais, mas eu sabia que podia contar com ele. Seria suficiente?

A quem eu estava tentando enganar.

-Considerem-me aliado. Vou dizer o que devem fazer.-disse eu, com convicção.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Lost and Found 1: Unleash the beast!

Quando você é fraco, você se esgueira.

Quando você é poderoso, você enfrenta.

Quando você é ridiculamente poderoso... você põe os outros para resolver os seus problemas.

Justiça moveu as mãos por cima de todos aqueles cadáveres. Lobo, coruja, gorila, serpente, morcego, águia, toupeira, gato... inúmeros animais. Cada um deles iria contribuir com alguma coisa para a sua criação que, no fim das contas, precisava de um último ingrediente. Esse estava separado.

Preso sob efeito de uma magia, encontrava-se uma montanha. Não era uma montanha normal, porém: era um Eterno. Um Eterno que completaria a receita: era forte, instável e, principalmente, íntimo daquele que Justiça queria caçar. O Eterno chamava-se Fúria.

-Foi difícil capturá-lo, Juiz.-disse Perversidade. -Por pouco não fomos abatidos.

-Eu não esperava tanta dificuldade de alguém como você, Fúria. Você me surpreende.-disse Justiça.

-Espere até eu sair daqui... e daí você vai ter problemas, seu burocrata de merda.-disse Fúria.

-Uma pena que isso não vá acontecer. O ritual está pronto. Matem-no.-disse Justiça.

Fúria lutou, mas a magia de Justiça era poderosa demais. A Lâmina de Perversidade entrou no "coração" de Fúria, que urrou de dor. Sua essência ficou presa na arma. Perversidade entregou o objeto ao ritualista, que proferiu uma única palavra antes de perfurar todos os corpos com a lâmina imbuída com a essência de Fúria.

-Behemoth.-disse Justiça.

A pilha de cadáveres brilhou quando uma criatura do tamanho aproximado de um elefante surgiu na frente do seu criador. O monstro ajoelhou-se.

-Invocaste-me, ser Eterno. O preço foi pago. Qual sua demanda?-disse o monstro.

-Preciso que me traga alguém que procuro. Tenho grupos procurando por ele, mas você é especial. Seus sentidos são excelentes, alguns dos melhores que encontrei em todo o mundo: trate de usá-los bem, fera.

-E qual o nome do pobre condenado, meu invocador?

Justiça sorriu.

-Seu nome é Orgulho. Agora vá... quanto mais cedo você chegar até ele, menos tempo ficará preso nesse corpo que limita seus poderes. Se você trouxer aquele Eterno, eu lhe libertarei.-disse ele.

-Você o terá muito antes do esperado, meu suserano. Vou-me.

E aquela criatura enorme correu em direção ao cheiro do Eterno que procurava, sem fazer sequer um som quando pisava no chão.

-Faro de lobo, olhos de águia, furtividade de coruja, tato de toupeira, audição de felino, sentido térmico de serpente, "radar" de morcego, força de gorila e descontrole de Fúria. Ah, Orgulho. Quero ver você sair dessa.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lost and Found: Intro

Dor, Esperança, Revés, Senhor das Sombras, Verdade, Inveja, Ciúmes, Fanatismo, Serenidade, Perseverança... a lista era extensa.

Eternos tão diferentes um do outro, com convicções diferentes, pensamentos diferentes e quase nada em comum. As duas únicas coisas em comum entre criaturas tão distintas eram: sua natureza Eterna... e seu carrasco.

Minha Lâmina já fez verter mais sangue eterno do que eu poderia estimar. Inegavelmente, minha existência foi conduzida por um caminho de sangue e destruição, guiada única e exclusivamente por minha arma. Eu me tornei um guerreiro, como muitos de nós, e assassino como poucos. Entre os Eternos poderosos, meu nome causava desconforto. Entre os fracos, desespero.

E, no entanto, eu era somente um Eterno de poder mediano com alguns bons aliados.

O problema disso tudo é que quando você mata Eternos, você cria inimizades. Tudo bem, matar um ou outro vai lhe render meia dúzia de desapegos... mas quando você tem isso quase como profissão, a situação fica bem diferente.

E foi por isso que, quando eu menos estava prestando atenção, minha própria espécie decidiu punir-me.

E foi assim que começou uma Inquisição entre os Eternos.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

DESCALABRO SPIN-OFF: "Crescendos e Diminuendos"

Revés e Felicidade deixaram o recinto. Era eu contra uma das piores coisas que eu iria enfrentar em minha existência. Mas tudo bem, era uma missão simples.

Sair vivo.

Meu poder divino estava ainda esvaindo. Decidi aproveitá-lo enquanto era possível. Investi contra a criatura, Lâmina em punho, e golpeei-a com violência. Meus braços, porém, encontraram apenas o ar. O monstro esquivou-se e direcionou sua lança ao meu peito, mas somente sombras foram acertadas. Eu já estava longe.

-Você não é meu alvo, Orgulho. Desapareça da minha frente ou eu farei você se arrepender.-disse Scarecrow, com uma voz rouca.

-O que você espera? Que eu limpe o caminho? Eu perdi tudo... tudo. Os resquícios da Legião são tudo que sobrou. E agora você ameaça eles. Eu posso não ser capaz de destruí-lo... mas talvez eu seja capaz de enfrentá-lo.-respondi.

-Sua divindade não irá durar para sempre... ela está se esvaindo.-respondeu o monstro.

-Eu, na realidade, estou contando com isso.-repliquei.

A lança sombria de Scarecrow deixou suas mãos e percorreu o ar quase tão rápido quanto eu poderia vê-la. Com um salto, deixei a trajetória da arma e então aterrisei com os dois pés na cara do monstro. Aproveitei o impacto para pegar impulso e saltar para longe.

Mas uma mão segurou minha perna.

A besta atirou-me do lado oposto ao que tinha arremessado a lança. Colidi fortemente com a parede e, por um momento, senti que o fluxo de energia estava diminuindo. Eu estava voltando ao normal, e rápido.

Hora de ser idiota.

Corri contra a criatura, que correu em minha direção. Exatamente como eu queria. No exato momento em que nossos corpos deveriam ter colidido, somente um manto de sombras entrou em contato com o monstro. Teletransportei-me para sua lança, arranquei-a da parede e então libertei uma última emanação grotesca de energia que derrubou o castelo de Felicidade sobre as nossas cabeças. Segurei firmemente a arma, enquanto a criatura tentava inverter sua investida.

Tentou em vão.

-Revés...-disse eu, engasgado com meu próprio sangue.-Essa dívida é maior do que eu imaginava.

-Talvez eu possa ajudá-lo com isso, Orgulho.-disse uma voz, surgindo do nada.-Afinal de contas, Revés pode ser seu irmão... mas também é meu filho. E eu agradeço o que fizeste por ele.

Ri enlouquecidamente quando ouvi aquela voz. A gargalhada de alguém que encontra consolo no desespero, triunfo na desgraça. Uma mão forte segurou meu braço e então puxou-me dos escombros.

-Vamos embora rápido, antes que ele levante. Deixe essa arma aí.-disse o dono da voz.-Você está um bagaço.

-Adoraria que sua intervenção tivesse vindo antes, meu bom e velho amigo Caos.-respondi, com um sorriso de incredulidade.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Deathmarks X (FINAL): Abandoned

-Você vai viver, Orgulho. Isso que eu quis dizer.-respondeu Guerra.

-É... vou ter tempo parar remoer minha derrota.-respondi.

-Muito bem, não é da minha conta. Nosso acordo foi cumprido, então... - começou Guerra, mas parou.-O que é isso?

Uma energia azul pálida começou a emanar de mim. Eu sentia meu poder diminuindo, mas aquilo não me preocupava.

-Poder.-respondi.

-Você está me desafiando, Orgulho?-disse Guerra, levando a mão à espada.

-Não. O poder que me foi dado está sendo tomado de volta. Lil'siztah.-expliquei.

-A dançarina dos túmulos. Bem pensado. Como você teve acesso aos Contos Esquecidos?

-Conhecimento. Ele é meu aliado. Ou melhor, era.

-Você realmente está perdido, não está?

-O universo vai parar de fazer piada com a minha desgraça? Nosso acordo está cumprido, Guerra. Deixe-me sozinho.

-Certo... só acho que você deve presenciar algo, antes.

Gritei de dor quando minha cabeça foi invadida por inúmeras imagens. Dezenas de sombras escuras enormes e, silhuetas brancas gigantescas e, no meio disso tudo, um vulto cinzento correndo e empunhando alguma coisa que brilhava sinistramente.

-O que diabos é isso?-perguntei.

-As sombras são demônios. As silhuetas brancas, anjos... e a sombra cinzenta... é Revés.-disse ele.

-O que ele está fazendo entre essas criaturas?-perguntei.

-Nada de bom, você deve imaginar. Eu lhe ofereci essa visão como recompensa: você tem a chance de seguir sozinho... ou de refazer a Legião. Vai fazer uma escolha?

Revés. Eu ainda quero algumas respostas dele e ainda quero tentar refazer a Legião. Por outro lado, eu estive em desgraça e ninguém de meus aliados tentou me ajudar. Eu fui para o Inferno sozinho, voltei sozinho e só consegui ajuda de Conhecimento a contragosto. Eu não desisti da Legião, mas ela desistiu de mim.

-Minha escolha já foi feita, Guerra.-disse eu.

domingo, 14 de novembro de 2010

Deathmarks IX: No Pain for the Dead

-Eu, Orgulho.-disse ele, com um sorriso irônico.

Inúmeras perguntas percorreram minha mente, todas querendo ser feitas de uma vez só. A única que saiu foi...

-Como?-perguntei.

Dor sorriu e ergueu-se.

-Você, Orgulho. Você me deu esse presente. Você criou esse reino ao matar Esperança... o Anátema que veio até aqui era poderoso, mas eu fui mais. Eu o prendi. Metade de seu poder ficou comigo e a outra metade ficou na jaula. E então você me faz mais um favor.

Tremi de raiva.

-Perseverança. Você trancou o Anátema dentro dela e então soltou-a contra mim. Você sabia que eu iria matá-la.-respondi.

-Não. Eu achei que ela fosse matar você. Mas o fato de você estar matando todos esses Eternos trouxe mais alguém para meu lado. Você imagina quem.- disse Dor, com um sorriso cínico no rosto.-Quando eu soube que Guerra esteve atrás de você, foi como degustar a perda de um jovem promissor. Que sorvo! Alguém finalmente iria completar a lição que eu queria dar em você.

Ele estava revelando que, basicamente, tudo que fiz foi para levar-me até aquele ponto. O desgraçado, de alguma forma, conseguiu aproveitar-se das situações que eu criava de uma forma tão magistral que, mesmo agora, que eu sou um deus, ele me derrotou.

De novo.

-Ora, sorria Orgulho! Cadê suas palavras ásperas, suas ofensas ferinas? Você minguou perante tão sórdida obra minha? Será que eu toquei na ferida?-disse ele e, com um tom ainda maior de sadismo na voz, completou.- Será que eu feri o seu orgulho?

Sem reação. Minhas mão direita buscou minha Lâmina e então segurou-a com firmeza.

-Você perdeu, Orgulho. Você perdeu a Legião, você perdeu Perseverança... tudo que você perdeu: fui eu quem tirou de você. Xeque-mate.-disse ele.

Meus olhos o encararam.

-Dor. Sim, talvez você tenha vencido a guerra. Mas essa última batalha, ah... essa última será minha.-disse eu.-Eu não posso matá-lo, mas posso puni-lo.

A promessa. Eu não poderia matá-lo, ainda mais agora que minha culpa tinha atingido seu ápice.

-Você não pode me matar porque lhe falta o poder, Eterno. Eu transcendi a condição de Eterno, deixei essa situação amaldiçoada para trás e agora tornei-me acima disso. Eu não sou mais o mesmo que você.

Um sorriso correu meus lábios pela primeira vez.

-Agora eu posso matá-lo.

Corri em sua direção, com a Lâmina em punho. Dor espalhou seus tentáculos para pegar-me, mas arranquei-os impiedosamente. Não me importava com o fato de que eles voltariam: eu só queria a cabeça daquele desgraçado. Ele golpeou-me inúmeras vezes, com força capaz de matar um anjo. Mas eu era mais que isso.

Lutei como tinha lutado poucas vezes, com um poder que nunca tinha tido. A terra ao nosso redor tremia de agonia: o medo emanava de onde estávamos. Mais de uma vez, as inúmeras Lâminas de Dor tentaram terminar minha existência, mas eu as desviava com uma devoção fanática. E então, aconteceu: durante um golpe precipitado, as Lâminas encontraram um alvo.

Mas já era tarde.

Senti minha Lâmina vibrar intensamente quando ela perfurou o pescoço de Dor.

-Não há dor para os mortos, Dor.-disse eu.-Você imagina como isso dever ser?

-Deve ser como a paz que você nunca vai encontrar, Orgulho.-disse ele.

Um feixe de luz surgiu da Lâmina e então o corpo de Dor explodiu. A explosão atirou-me a uma distância considerável e abriu uma cratera gigantesca no lugar da antiga Terra Desolada. Meus olhos demoraram a abrir-se e então, quando eles abriram, sentei-me no chão.

-Você venceu, Orgulho.-disse Guerra, atrás de mim.

-Não, Guerra... eu perdi.-respondi.