domingo, 28 de novembro de 2010

Lost and Found 7: Hunting High and Low

Hoje eu acordei com uma sensação estranha, como se alguém tivesse passado a noite inteira me observando. Sei lá, talvez seja uma maldita paranoia. Quando você faz inimigos diariamente e amigos uma vez por década, é comum perder um pouco da sensação de segurança.

Enfim, levantei da cama achando meu dia meio esquisito. Mexi no meu baú de armas, peguei meia dúzia de livros de magia e comecei a recitar uns versos, só por precaução. Hoje eu ia tirar o dia de folga, estava decidido. Era tão melhor antes de minha esposa morrer. Agora, minha folga resumia-se a encher a cara o dia inteiro, me sentir na fossa e torcer para que algum demônio revoltado estourasse a porta da minha casa e tentasse me matar.

Passei o dia inteiro com a sensação desgraçada que tinha algo me observando. Inferno, eu odeio meu trabalho. Meu dia foi uma bosta, como todos os outros, mas sem previsão de ação durante a noite. A maldita TV não tinha um programa que prestasse e, na minha última folga, eu dei com um taco de beisebol no meu rádio, então ele estava estragado. Era somente tédio, hoje.

Anoiteceu depois de uma eternidade, e eu fiquei com fome. Decidi comprar alguma coisa para comer e, porra, lá vinha eu sentindo que alguém 'tava me seguindo. Eu não sobrevivi tanto tempo sem dar bola pros meus instintos, mas não tinha ninguém mesmo e eu estava armado. Isso é paranoia, loucura...

... ou algum filho da puta realmente esquivo.

Comi uns dois cheeseburgers e voltei pr'aquela espelunca que eu chamo de casa. Abri a porta e entrei.

E tinha um desgraçado de pé no meio da minha maldita sala.

Não quis saber de palhaçada. Saquei as duas pistolas com silenciador e enfiei bala no desgraçado antes mesmo de ligar a luz.

-Impressionante.-respondeu ele.-Você não achou que fosse me ferir realmente, achou?

Otário. Puxei a faca e fui pra cima dele, mas o infeliz me deu um soco e me atirou do outro lado da sala.

-Senhor Stride.-disse ele.-Creio que esse seja seu nome, não?

-É, isso mesmo. Quem diabos é tu, porque tu tá me seguindo e, mais importante: como tu não tá morto?-retruquei.

-Eu sou mais do que você caça normalmente, humano. Não sou vampiro, lobisomem, anjo ou demônio. Eu sou um Eterno.

Caralho, eu tô fodido. Eu sempre achei que eles fossem lendas (todo mundo acha, na realidade). Só conheço de nome e sei que anjos e demônios MORREM de medo deles.

-Qual é seu nome, Eterno?-perguntei.

-Orgulho.-respondeu ele.

Maravilha, me sinto como se estivesse falando com um espelho megalomaníaco.

-Considerando que eu ainda estou vivo, você quer minha ajuda. O que eu posso fazer que o grande Orgulho não pode?

-Oneiros.

-Ah, o mundo dos sonhos. Porque diabos você quer ir lá?

-Não é pra lá que quero ir e não é da sua conta.

-Bom, vai ter que procurar outro idiota, eu não vou...

Um tentáculo de sombras surgiu do nada e me levantou pelo pescoço. Filho da puta, eu achei que ele só pudesse fazer coisas relativas ao Orgulho.

-Talvez eu tenha esquecido de citar que também sou conhecido como Senhor das Sombras. Agora ouça bem, mortal: eu não preciso matá-lo, mas não vai mudar nada na minha vida fazer isso, invadir o céu, pegar sua alma e entregar pro Lucifer. Por outro lado, se você for bonzinho comigo, eu posso deixá-lo vivo.

Maldito.

-Acordo feito.

-Ótimo. Agora vá dormir.

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