quarta-feira, 5 de junho de 2013

The last tale.

Ah, as histórias.

Eu, pessoalmente, sempre fui fascinado por histórias. Os poucos que leram essas "páginas" puderam perceber, talvez sutilmente, o quanto eu gosto delas. E escrever uma história é uma sensação fantástica... o apego por alguns personagens, o profundo ódio por outros (o que torna tudo ainda melhor)...

E não só as histórias fictícias, mas as minhas histórias pessoais também estão aqui (às vezes, misturadas com as histórias fictícias). Quase tudo que eu passei nos últimos... 4 anos. Foi muita coisa, e isso aqui segurou a barra.

O que torna uma extrema injustiça eu não ter escrito nada em quase um ano.

Portanto, essa é a última postagem que faço.

Uma forma de honrar apropriadamente esse espaço.

Primeiro de tudo, obrigado à vocês (que são, basicamente, os mesmos que leram isso aqui nos últimos anos).

Segundo, fechar essas "portas" me traz emoções confusas. A primeira delas é um pouco de alívio por eu finalmente acreditar que, talvez nunca mais, precisarei vir aqui de novo, com uma mente cheia de dúvidas atrozes e péssimas certezas. Mas também vem um pouco de nostalgia... talvez o fato de que eu aprendi a me sentir "em casa no desespero" me fez alguém muito mais capaz de enfrentar o que quer que eu precise enfrentar, e isso se deve parcialmente a esse "lugar".

Terceiro, é a hora perfeita.

À noite, como sempre me pareceu melhor para escrever.
Sozinho, como tantas me vezes me senti.
Isolado, como muitas vezes precisei estar.
E feliz, como provavelmente nunca estive.

Uma última página.
Uma última despedida.

O último dos contos de um Harlequin que, talvez, esteja dando lugar a alguém melhor.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

To the Ravenlord

‎"O corvo abriu as asas e voou, enquanto seu irmão adotivo, o lobo, observava.

 Um uivo sonoro e confuso ecoou do focinho do lobo. Ele sabia que, para onde seu irmão ia, era melhor do que onde ele estava. Mas também sabia que os dias não seriam mais os mesmos sem as penas esvoaçantes e os grasnados de escárnio de seu irmão.

 Aquele uivo carregava não um adeus, e nem um até logo. Aquele uivo carregava um 'estaremos diferentes quando nos encontrarmos de novo, mas reconheceremos um ao outro como se o tempo tivesse parado'.

Voe, corvo, voe muito alto.

E que as tuas asas te levem aonde as patas de muitos nunca os levariam."

domingo, 12 de agosto de 2012

EPÍLOGO - The Morning Star's Pride

Lucifer e Miguel pasmaram com a ideia infeliz de seu irmão, que agora tinha condenado ambos a conviverem para sempre. Eles poderiam ter lutado entre si, mas, naquele momento, existiam coisas mais importantes a serem feitas.

A Estrela da Manhã tentou reorganizar suas tropas, mas em vão. A carnificina tomou o campo de batalha, e o chão empapou-se com sangue. Sangue de anjos, de demônios, de titãs, de eternos, de humanos... Muito sangue.

Lucifer sentiu uma conhecida presença pegá-lo pelo pé e arremessá-lo em direção ao chão.

-Ora, ora... Você reapareceu, Orgulho. Seu irmão o procurou em minhas terras.

-Antigas terras, você quis dizer? Deve doer em você ver que agora tudo que você tem são essas míseras terras que vai ter que dividir com seu irmãozinho.

-Seu irmão não está muito melhor. Revés foi morto. Eu o matei.

-Você mente, Estrela da Manhã.-respondi, furioso.-Mas o seu tempo chegou ao fim.

-Eu esperei tanto tempo por isso, Orgulho. Tanto tempo...

Era chegada a hora. A hora em que eu, Orgulho, antigo portador da Lança do Destino, executor dos Cavaleiros do Apocalipse, iria enfrentar o mais antigo de meus rivais.

Lucifer, a Estrela da Manhã.

Nossa luta foi intensa. A cada golpe defendido, ambos sorríamos: nossa vontade era que durasse para sempre. A sede de sangue, a cólera por trás de cada golpe, o desejo de vingar-se de cada uma das vezes que nós humilhamos um ao outro. Aquela fúria, tudo que girava ao redor e que fez com que até mortais inimigos como anjos e demônios parassem para assistir, era o que realmente fazia valer a pena eu ter interferido no Apocalipse.

Éramos inimigos, mas éramos também muito semelhantes. Ambos somos conhecidos como "assassinos de seu próprio povo", "traidores", "escória". Mas ambos surgimos, crescemos e nos dedicamos a fazer o que achávamos que tinha que ser feito. Lucifer se revoltou quando percebeu a cruel realidade por trás da existência dos anjos. Eu me revoltei quando soube que a história de minha própria raça tinha sido selada por outros que não nós. A Estrela da Manhã era, sim, uma criatura temível e de comportamento cruel, mas também era admirável; e eu sabia que ele pensava o mesmo de mim.

Durante o tempo que eu estive isolado, eu percebi que, no fim das contas, meu caminho me levaria de volta à frente de Lucifer.

Foi sempre Lucifer.

Lucifer sempre foi meu objetivo final.

Lucifer foi, de fato, o meu final.

Pois nossa luta durou muito, mas não para sempre. E, no fim de tudo, eu percebi que ele, realmente, era mais poderoso que eu. Um sorriso de triunfo percorreu os lábios dele quando suas garras atravessaram, e obliteraram, minha essência. Senti meu corpo esvaindo-se enquanto uma jatos de energia emanavam de mim e destruíam anjos, demônios e eternos no campo de batalha.

-Fiquei curioso com uma coisa, Orgulho... você morre como um Eterno... ou como um Deus?-perguntou ele, gargalhando.

-Acho que teremos que descobrir.-respondi, também sorrindo.

-Ah, Orgulho... finalmente, eu me vinguei de você.-disse Lucifer.-Esse foi o fim de toda sua história.

-Sim... mas ainda assim, eu o venci, pois você só está preso aqui porque eu eliminei os Cavaleiros. Você pode ter destruído o Orgulho... mas eu destruí o SEU orgulho. Viva com isso.

Essa foi minha luta.

Esse foi o meu final.

The long coming end is near...

Estranho.

Eu sacrifiquei muita coisa para eliminar os Quatro Cavaleiros. Arrisquei minha existência, a de Revés, perambulei por caminhos que pouquíssimas entidades puseram os pés em toda a existência. E agora, quando eu estava tão perto de  meu objetivo, eu não vi mais motivo para fazê-lo. Morte não é e nem nunca foi o problema.

O que significa que os Cavaleiros também não eram e que minha missão foi em vão.

E isso requer algumas respostas.

Minha lembrança era clara: os Cavaleiros eram os responsáveis por liderar os exércitos que destruiriam a tudo e a todos. Pude ver os rostos de Eternos, anjos e demônios sendo esmagados sob seus cascos. Matá-los traria paz ao mundo... Morte não estava blefando, eu pude sentir. Os outros três me desafiaram, mas Morte simplesmente se entregou. Era quase como se eu o estivesse libertando de seu propósito.

Minha mente voava, a dádiva de Loucura tentando formar uma linha de raciocínio por trás daquele oceano de informações que eu tinha acabado de receber. Não existia nenhum sentido naquilo, e o destino precisa de uma lógica. O destino é um curso, e todo curso é formado por infinitos pontos.

O Destino me devia respostas.

-Revés, existe algo que eu preciso fazer. Suponho que você também tenha seus afazeres.

-Sim, tenho. Nos veremos no futuro próximo?

-Provavelmente.

Revés desapareceu.

-Não posso vê-lo, mas sei que você está aqui. Não posso ouvi-lo, mas sinto a sua presença. Minha mente é capaz de percorrer caminhos absurdos, Destino, mas somente você pode me explicar o que aconteceu.-falei, em voz alta.

Passos.

-Sim, eu posso. A questão é: farei?-respondeu Destino.

-Não há mais nada em jogo. Se minhas ações não mudaram o curso do mundo, então o Mar do Destino não contém a verdade.

-O Mar do Destino contém muitas coisas, Orgulho, mas não tudo. As respostas que jazem lá não são absolutas. O destino não é um mar, o destino é uma descarga elétrica: pode-se estimar o ponto de partida e o ponto de chegada, mas não se pode prever o caminho. Os humanos perceberam algo que muitos de nós falham em perceber: segundo eles, você pode estimar a velocidade OU a posição de uma partícula, mas não ambos. Você pode conhecer o destino ou fazê-lo, mas você não pode tentar concretizar o Destino que viu.

-Então foi em vão, o que eu fiz? Tudo que eu dediquei, as entidades que destruí, as forças contra as quais me coloquei?

-Não, não foi em vão. Mas a verdade é que você não era uma peça do Apocalipse. Você interveio, e sua intervenção foi poderosíssima. Mas ela não foi derradeira. A grande guerra ainda irá acontecer.

Inacreditável. Eu já fui derrotado muitas vezes, mas nada poderia ser pior que aquilo. Nada feriu tanto o meu orgulho.

-Essa foi a última de suas perguntas?

-Não. A última é: porque você veio respondê-las?

-Porque o Destino sempre lhe dá as ferramentas que você precisa para tomar as suas decisões.

Minha decisão está tomada.

Eu não irei interferir de novo... até que chegue o fim dos dias.

You can't kill Death... or can you?

Quando reabri meus olhos, pude ver Revés se aproximando.

-Você conseguiu.-disse ele.

-Você parece chateado.- respondi, enquanto me esforçava para ficar de pé.

-Você me mandou embora de lá para que eu sobrevivesse ou porque você quer a glória toda para você, Orgulho?

-Me ofende ver que você pensa isso de mim, Revés. A verdade é que eu preciso que alguém esteja pronto para nadar contra a corrente se eu morrer. E você é o único em quem eu confio para isso. Se eu morrer, preciso que alguém continue, e termine, o que eu comecei. Quem mais faria isso?

-Ainda falta um Cavaleiro, Orgulho. Vamos.

Voamos até uma cidade. Morte foi inteligente, pelo menos. Não se escondeu em mais um deserto. Embora nós pudéssemos perceber as pessoas, elas não nos percebiam. Estávamos entre os mundos, e somente os humanos mais sensíveis poderiam perceber a nossa presença. Eu, sinceramente, não estava preocupado.

-Tem algo estranho aqui. O portal de Morte não está bloqueado.

-Como assim?

-Os outros dois portais estavam selados, mas esse não está. Morte poderia sair daqui a qualquer momento... se é que já não o fez.

Revés fez um corte em sua mão e deixou o sangue pingar. Um vórtice surgiu e nos tragou para dentro. O plano de Morte, sem dúvida, deveria ser o mais assustador de todos.

Mas não era.

Não havia nada no Plano de Morte além de um nephilim, que era o próprio Cavaleiro. Sua arma e sua armadura estavam no chão, e o monstro contemplava o mundo através de uma pequena fenda no seu plano.

-Morte... chegou a sua vez.

-Ah, sim. Você veio, finalmente. Eu estava esperando-o.

Olhei para Revés. Ele estava entendendo tão pouco quanto eu.

-Você veio me matar, não veio?

-Sim...

O gigante encarou-me.

-Pois bem... mate-me.

Caminhei em sua direção, mas Revés me conteve.

-Espere...-disse ele.-Você é o único que não ofereceu resistência ou exigiu sacrifício. Você poderia ter saído daqui a qualquer momento, mas não o fez. O que houve com você, Morte, que o fez tão diferente?

Morte sorriu.

-Você vê, Orgulho? Seu ódio o cegou, mas ainda existem alguns que conseguem ver. Seu irmão, por exemplo. A verdade é que eu desisti do Apocalipse. Eu desisti de me vingar do mundo, porque eu vi esse mundo crescer. Eu vi tudo que surgiu e vi o quanto meu povo cresceu. Meu pai é um louco cujo ódio supera o seu, mas eu não. Meus irmãos puxaram a ele, mas eu nasci e cresci com os humanos.

Aquilo só podia ser uma piada... mas não era.

-Então você simplesmente vai se recusar a ser invocado?

-Não. Eu simplesmente vou me recusar a obedecer meu pai. Eu não quero o Apocalipse, e não quero fazer parte dele. Se você planeja me matar, faça-o, mas a verdade é que você não precisa de mim e sabe disso. Eu sou Morte, o cavaleiro. Morte pode ser o meu destino, mas não será o meu legado.

-Você não pode mudar o seu propósito, Morte.

-Não, mas posso desistir dele.

-Como posso acreditar em você? A Morte é traiçoeira.

-É. Mas ela também é imparcial.

Diabos, ele é esperto.

-Vamos, Revés.

-Você não vai matá-lo?

-Não.

sábado, 11 de agosto de 2012

There will always be blood... my blood...

A terra moveu-se, e então uma enorme boca surgiu. Aquela enorme boca foi seguida por muitas outras bocas ligadas entre si por diversos músculos e ossos. As bocas secretavam um ácido que derretia a própria areia e, em segundos, já não existia sequer o corpo de Augustus.

-Você...-sussurraram as bocas.-Você matou...

-Olhe pelo lado bom, Fome.-respondi.-Você vai poder encontrá-los de novo.

Conforme o chão sumia abaixo de nossos pés, sendo substituído por mais bocas, eu e Revés voamos.

-Você tem certeza que quer lutar junto, Revés? Eu não esperava que as coisas fossem ser assim...

-Esse é seu problema, Orgulho. Você nunca espera.-disse ele, sorrindo.

Um círculo de eletricidade formou-se em volta de Revés e então transformou-se em um raio, que acertou o amontoado de bocas. Várias das bocas contraíram-se, mas outras moveram-se como uma gigantesca onda na direção de Revés. Diversos tentáculos com bocas nas extremidades formaram-se e atacaram Revés, mas eu cortei cada um deles antes que eles chegassem ao alvo. Os tentáculos foram comidos pelas outras bocas e então novos tentáculos se formaram.

De repente, diversos jorros de ácido foram cuspidos sobre nós. Pude sentir meu corpo sendo corroído, mesmo que eu não tivesse propriamente matéria. Isso sim era inesperado. Mas eu sabia o que tinha que fazer.

-Revés, rápido! Abra um portal para sairmos daqui!- berrei.

Quase que instantaneamente, um círculo surgiu ao lado dele. Movi-me na direção do portal e encarei-o.

-Vejo você mais tarde.

Peguei-o pelo braço, arremessei-o para dentro do portal e então usei minha magia precária para fechá-lo.

Revés era poderoso, mas eu não queria arriscar matá-lo. Era meio lógico, para mim, que essa batalha duraria muito mais do que eu planejava. Eu podia dar conta de mim mesmo... eu podia até morrer, mas eu não iria arrastar ninguém para meu túmulo.

Saquei a espada que peguei do corpo de Guerra e então comecei a golpear. Eu não tinha a menor ideia do que eu queria acertar, mas eu queria acertar alguma coisa. O ácido começou a corroer-me, e então novamente utilizei minha magia.

-Soberbia aegis est! (O orgulho é um escudo)

Pude sentir a dor diminuir, mas não parar. Lembro-me de golpear até não aguentar mais e então a Terra tremeu. Ele estava enfraquecendo...

Esperei até que aquela massa disforme de bocas me cercasse e então fiz o que eu achei que poderia funcionar.

A Fome só morre quando é saciada.

Fiz inúmeros cortes em mim mesmo e então deixei meu sangue verter, até que cobrisse a espada inteira. E então eu golpeei.

Mais um uivo, mas, dessa vez, de dor.

Senti o mundo despencando em minhas costas enquanto o peso daquele deserto inteiro desabava sobre mim. Meus olhos fecharam-se.

Meu corpo não sentia mais nada.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Feed my Hunger... feed Famine...

Eu, Revés e Augustus caminhamos durante um bom tempo até encontrarmos a entrada para o plano de Fome. Era um deserto do pior tipo possível, e eu percebi que Augustus estava visivelmente desgastado. Revés proferiu algumas palavras e então o humano recuperou-se.

-Agora você consegue curá-los?-perguntei, espantado.

-Curar... é, vamos dizer que sim.

Pude ver, no entanto, alguns ferimentos se fechando no próprio Revés. Interessante, ele agora consegue fazer alterações nos destinos dos indivíduos. Meu irmão tinha tornado-se imensamente poderoso e eu sequer tinha percebido. Talvez eu devesse ser ainda mais grato por tê-lo ao meu lado, mas agora não era hora para sentimentalismos.

Agora era de encerrar a influência de mais um dos Quatro.

As mãos de Revés fizeram alguns desenhos no ar enquanto o sol do deserto castigava Augustus. O Senhor dos Corvos terminou sua magia, mas nada aconteceu. De súbito, pudemos ouvir um uivo. Lembrei-me da invocação que usávamos para convocar os cavaleiros:

"E no leste, ecoa e some
O uivo mórbido da Fome"

Ele estava aqui.

Então eu finalmente percebi o que se passava. Fome nunca foi preso em outro plano, ele simplesmente disfarçou-se nesse. E o disfarce foi tão perfeito que ninguém percebeu. Fome não estava no deserto.

Ele era o deserto.

-FOME! TRAGO-LHE SEU SACRIFÍCIO!-berrei. Então olhei para Augustus.-É chegada a hora.

Minha Lâmina cravou-se no peito do mortal, e então seu sangue verteu. No entanto, tão logo ele encostava na areia, ele desaparecia.

Fome estava faminta.

E pelo visto, aquilo era só um aperitivo.