domingo, 30 de maio de 2010

The Devil we all know...

É tão impressionante ver o quão anátemas de nós mesmos conseguimos ser. Olhar para trás e ver como se fosse a imagem invertida. Me faz pensar em quanto eu abominava a coisa que eu me tornei; e o quanto eu me divirto sendo quem eu sou agora.

A verdade é que toda mudança ocorre porque temos que deixar uma parte de nós para trás. Sempre é assim, ninguém muda porque tem algo faltando. Não, nós mudamos porque temos coisas em excesso: princípios, dilemas, dúvidas, medos. Conforme caminhamos, não podemos carregar todas essas coisas em frente porque precisamos pegar coisas que aparecem em nosso caminho. E assim, vamos largando-as, deixando um rastro de pedaços de nós mesmos que leva qualquer um que esteja no início da estrada até nós, o que somos hoje. É por isso que somos nossos próprios demônios, e podemos encontrá-los em tudo que vemos.

A verdade é que os acontecimentos recentes dispararam gatilhos que estavam há muito tempo prontos. Foi simplesmente a ocasião, o casus belli que iniciou isso tudo. E tempos de guerra exigem mudanças.

Drásticas.

Desde que eu me encontrei de novo, soube automaticamente que tinha mudado para algo tão novo para mim que tomaria muito tempo até eu me conhecer de novo. Hoje vejo que estava errado, pois para ver quem sou, é simples.

Eu sou o oposto do que eu era antes, em vários aspectos.

E coisas EXATAMENTE opostas, são iguais em módulo.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O Sorriso do Harlequin

As sombras cobrem o mundo
E a lua brilha, esplendorosa
Uma melodia fúnebre ao fundo
Bela e cruel, como o espinho de uma rosa

E o fim traz medo e solidão
E destroi o fio da esperança
Como o pesadelo da destruição
Assola uma inocente criança

E essa aurora negra do fim
Que avassala o brilho da alegria
Também traz a cor do sangue: carmesim

E essa aurora negra do fim
Na qual brilha, triunfante, a apatia
Apagou o sorriso do Harlequin.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Décimo quarto dia: A luta selvagem e brutal consumiu tudo que tínhamos. Energias, suprimentos, força de vontade. Tudo. O sangue escorre de nossos corpos e nossos primeiros socorros já acabaram. Estamos longe de nosso bastião e o caminho é longo. Rastejando, encontro alguma coisa na lama. Parecem alguns papeis. Um deles envolto em plástico. Em um deles tem uma foto de alguém. Cabelo cacheado, olho claro. Um rosto quase infantil e com olhar inocente me contempla. Um nome assinado em uma letra desenhada, quase bonita.

Eu, antes disso tudo.

Finalmente, depois de duas semanas de absoluto inferno, eu encontrei a mim mesmo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Décimo primeiro dia: Começou a tempestade. Os uivos ficaram ainda mais intensos, e é possível ouvir gritos fantasmagóricos daqui de onde estamos. Avançamos em meio à chuva, com a impressão de que jamais voltaríamos. A fumaça começa a cobrir o céu e o verde das árvores já não é tão viçoso. A noite traz um frio cortante e podemos ouvir sussurros ao redor de nosso bastião. É como se eles soubessem onde estamos, mas se alimentassem do nosso desespero. Como se cada lágrima de tristeza fosse a fonte da juventude para essas bestas amaldiçoadas. Os farrapos de roupas são inúteis contra as garras deles, mas nos protegem um pouco do frio e nos separa da selvageria completa. O sol parece não nascer nunca e já são 11 horas da manhã. Mas é sempre noite e escuridão.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Décimo dia: Os uivos estão mais intensos. Éramos muitos e agora somos apenas três. Cada uma de nossas investidas nos custou alguém importante. A esperança se foi, completamente. Continuar lutando é a nossa única opção, mas queremos desistir. Alguns demônios aproximaram-se de nossa casa, mas, a muito custo, conseguimos matá-los antes que a nossa localização fosse dita. Olhamos uns para os outros e vemos apenas medo e desolação. Erguemos um ao outro quando sequer poderíamos nos erguer sozinhos, porque a nossa única esperança jaz nos dois outros guerreiros ao lado. A solidão se abate sobre cada um de nós, mesmo sabendo que há pessoas ao redor. A insanidade é a única companheira em tempo integral e o medo nos ronda como uma besta.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

É o nono dia desde que os portões do Inferno se abriram e vomitaram demônios sobre nós. Reunimos o que conseguimos e fugimos, rumo ao nada e a lugar nenhum. Nos escondemos em uma casa distante, longe da visão deles. Mas eles veem quase tudo e, em pouco tempo, virão atormentar-nos. Temos poucas armas, e as feras do Inferno uivam e rugem ao longe, festejando o banquete de carne. Nosso desespero supera nossa força de vontade e nos faz reagir insanamente. Em meu bolso, apenas minha carteira que foi esvaziada de moedas para ficar leve. Documentos são inúteis agora, assim como números de telefone. Ninguém, ou quase ninguém, está vivo. No entanto, o risco de perdermos nossos valores e nossa essência é grande quando o mundo não nos lembra quem somos. Portanto, em minha carteira, tenho somente 7 objetos.

7 curingas.

7 curingas pretos.

O resto não interessa.

E enquanto engatilho as armas, para mais uma batalha encarniçada ao amanhecer, sorrio em deleite de minha própria maldição e insanidade.