segunda-feira, 10 de setembro de 2012

To the Ravenlord

‎"O corvo abriu as asas e voou, enquanto seu irmão adotivo, o lobo, observava.

 Um uivo sonoro e confuso ecoou do focinho do lobo. Ele sabia que, para onde seu irmão ia, era melhor do que onde ele estava. Mas também sabia que os dias não seriam mais os mesmos sem as penas esvoaçantes e os grasnados de escárnio de seu irmão.

 Aquele uivo carregava não um adeus, e nem um até logo. Aquele uivo carregava um 'estaremos diferentes quando nos encontrarmos de novo, mas reconheceremos um ao outro como se o tempo tivesse parado'.

Voe, corvo, voe muito alto.

E que as tuas asas te levem aonde as patas de muitos nunca os levariam."

domingo, 12 de agosto de 2012

EPÍLOGO - The Morning Star's Pride

Lucifer e Miguel pasmaram com a ideia infeliz de seu irmão, que agora tinha condenado ambos a conviverem para sempre. Eles poderiam ter lutado entre si, mas, naquele momento, existiam coisas mais importantes a serem feitas.

A Estrela da Manhã tentou reorganizar suas tropas, mas em vão. A carnificina tomou o campo de batalha, e o chão empapou-se com sangue. Sangue de anjos, de demônios, de titãs, de eternos, de humanos... Muito sangue.

Lucifer sentiu uma conhecida presença pegá-lo pelo pé e arremessá-lo em direção ao chão.

-Ora, ora... Você reapareceu, Orgulho. Seu irmão o procurou em minhas terras.

-Antigas terras, você quis dizer? Deve doer em você ver que agora tudo que você tem são essas míseras terras que vai ter que dividir com seu irmãozinho.

-Seu irmão não está muito melhor. Revés foi morto. Eu o matei.

-Você mente, Estrela da Manhã.-respondi, furioso.-Mas o seu tempo chegou ao fim.

-Eu esperei tanto tempo por isso, Orgulho. Tanto tempo...

Era chegada a hora. A hora em que eu, Orgulho, antigo portador da Lança do Destino, executor dos Cavaleiros do Apocalipse, iria enfrentar o mais antigo de meus rivais.

Lucifer, a Estrela da Manhã.

Nossa luta foi intensa. A cada golpe defendido, ambos sorríamos: nossa vontade era que durasse para sempre. A sede de sangue, a cólera por trás de cada golpe, o desejo de vingar-se de cada uma das vezes que nós humilhamos um ao outro. Aquela fúria, tudo que girava ao redor e que fez com que até mortais inimigos como anjos e demônios parassem para assistir, era o que realmente fazia valer a pena eu ter interferido no Apocalipse.

Éramos inimigos, mas éramos também muito semelhantes. Ambos somos conhecidos como "assassinos de seu próprio povo", "traidores", "escória". Mas ambos surgimos, crescemos e nos dedicamos a fazer o que achávamos que tinha que ser feito. Lucifer se revoltou quando percebeu a cruel realidade por trás da existência dos anjos. Eu me revoltei quando soube que a história de minha própria raça tinha sido selada por outros que não nós. A Estrela da Manhã era, sim, uma criatura temível e de comportamento cruel, mas também era admirável; e eu sabia que ele pensava o mesmo de mim.

Durante o tempo que eu estive isolado, eu percebi que, no fim das contas, meu caminho me levaria de volta à frente de Lucifer.

Foi sempre Lucifer.

Lucifer sempre foi meu objetivo final.

Lucifer foi, de fato, o meu final.

Pois nossa luta durou muito, mas não para sempre. E, no fim de tudo, eu percebi que ele, realmente, era mais poderoso que eu. Um sorriso de triunfo percorreu os lábios dele quando suas garras atravessaram, e obliteraram, minha essência. Senti meu corpo esvaindo-se enquanto uma jatos de energia emanavam de mim e destruíam anjos, demônios e eternos no campo de batalha.

-Fiquei curioso com uma coisa, Orgulho... você morre como um Eterno... ou como um Deus?-perguntou ele, gargalhando.

-Acho que teremos que descobrir.-respondi, também sorrindo.

-Ah, Orgulho... finalmente, eu me vinguei de você.-disse Lucifer.-Esse foi o fim de toda sua história.

-Sim... mas ainda assim, eu o venci, pois você só está preso aqui porque eu eliminei os Cavaleiros. Você pode ter destruído o Orgulho... mas eu destruí o SEU orgulho. Viva com isso.

Essa foi minha luta.

Esse foi o meu final.

The long coming end is near...

Estranho.

Eu sacrifiquei muita coisa para eliminar os Quatro Cavaleiros. Arrisquei minha existência, a de Revés, perambulei por caminhos que pouquíssimas entidades puseram os pés em toda a existência. E agora, quando eu estava tão perto de  meu objetivo, eu não vi mais motivo para fazê-lo. Morte não é e nem nunca foi o problema.

O que significa que os Cavaleiros também não eram e que minha missão foi em vão.

E isso requer algumas respostas.

Minha lembrança era clara: os Cavaleiros eram os responsáveis por liderar os exércitos que destruiriam a tudo e a todos. Pude ver os rostos de Eternos, anjos e demônios sendo esmagados sob seus cascos. Matá-los traria paz ao mundo... Morte não estava blefando, eu pude sentir. Os outros três me desafiaram, mas Morte simplesmente se entregou. Era quase como se eu o estivesse libertando de seu propósito.

Minha mente voava, a dádiva de Loucura tentando formar uma linha de raciocínio por trás daquele oceano de informações que eu tinha acabado de receber. Não existia nenhum sentido naquilo, e o destino precisa de uma lógica. O destino é um curso, e todo curso é formado por infinitos pontos.

O Destino me devia respostas.

-Revés, existe algo que eu preciso fazer. Suponho que você também tenha seus afazeres.

-Sim, tenho. Nos veremos no futuro próximo?

-Provavelmente.

Revés desapareceu.

-Não posso vê-lo, mas sei que você está aqui. Não posso ouvi-lo, mas sinto a sua presença. Minha mente é capaz de percorrer caminhos absurdos, Destino, mas somente você pode me explicar o que aconteceu.-falei, em voz alta.

Passos.

-Sim, eu posso. A questão é: farei?-respondeu Destino.

-Não há mais nada em jogo. Se minhas ações não mudaram o curso do mundo, então o Mar do Destino não contém a verdade.

-O Mar do Destino contém muitas coisas, Orgulho, mas não tudo. As respostas que jazem lá não são absolutas. O destino não é um mar, o destino é uma descarga elétrica: pode-se estimar o ponto de partida e o ponto de chegada, mas não se pode prever o caminho. Os humanos perceberam algo que muitos de nós falham em perceber: segundo eles, você pode estimar a velocidade OU a posição de uma partícula, mas não ambos. Você pode conhecer o destino ou fazê-lo, mas você não pode tentar concretizar o Destino que viu.

-Então foi em vão, o que eu fiz? Tudo que eu dediquei, as entidades que destruí, as forças contra as quais me coloquei?

-Não, não foi em vão. Mas a verdade é que você não era uma peça do Apocalipse. Você interveio, e sua intervenção foi poderosíssima. Mas ela não foi derradeira. A grande guerra ainda irá acontecer.

Inacreditável. Eu já fui derrotado muitas vezes, mas nada poderia ser pior que aquilo. Nada feriu tanto o meu orgulho.

-Essa foi a última de suas perguntas?

-Não. A última é: porque você veio respondê-las?

-Porque o Destino sempre lhe dá as ferramentas que você precisa para tomar as suas decisões.

Minha decisão está tomada.

Eu não irei interferir de novo... até que chegue o fim dos dias.

You can't kill Death... or can you?

Quando reabri meus olhos, pude ver Revés se aproximando.

-Você conseguiu.-disse ele.

-Você parece chateado.- respondi, enquanto me esforçava para ficar de pé.

-Você me mandou embora de lá para que eu sobrevivesse ou porque você quer a glória toda para você, Orgulho?

-Me ofende ver que você pensa isso de mim, Revés. A verdade é que eu preciso que alguém esteja pronto para nadar contra a corrente se eu morrer. E você é o único em quem eu confio para isso. Se eu morrer, preciso que alguém continue, e termine, o que eu comecei. Quem mais faria isso?

-Ainda falta um Cavaleiro, Orgulho. Vamos.

Voamos até uma cidade. Morte foi inteligente, pelo menos. Não se escondeu em mais um deserto. Embora nós pudéssemos perceber as pessoas, elas não nos percebiam. Estávamos entre os mundos, e somente os humanos mais sensíveis poderiam perceber a nossa presença. Eu, sinceramente, não estava preocupado.

-Tem algo estranho aqui. O portal de Morte não está bloqueado.

-Como assim?

-Os outros dois portais estavam selados, mas esse não está. Morte poderia sair daqui a qualquer momento... se é que já não o fez.

Revés fez um corte em sua mão e deixou o sangue pingar. Um vórtice surgiu e nos tragou para dentro. O plano de Morte, sem dúvida, deveria ser o mais assustador de todos.

Mas não era.

Não havia nada no Plano de Morte além de um nephilim, que era o próprio Cavaleiro. Sua arma e sua armadura estavam no chão, e o monstro contemplava o mundo através de uma pequena fenda no seu plano.

-Morte... chegou a sua vez.

-Ah, sim. Você veio, finalmente. Eu estava esperando-o.

Olhei para Revés. Ele estava entendendo tão pouco quanto eu.

-Você veio me matar, não veio?

-Sim...

O gigante encarou-me.

-Pois bem... mate-me.

Caminhei em sua direção, mas Revés me conteve.

-Espere...-disse ele.-Você é o único que não ofereceu resistência ou exigiu sacrifício. Você poderia ter saído daqui a qualquer momento, mas não o fez. O que houve com você, Morte, que o fez tão diferente?

Morte sorriu.

-Você vê, Orgulho? Seu ódio o cegou, mas ainda existem alguns que conseguem ver. Seu irmão, por exemplo. A verdade é que eu desisti do Apocalipse. Eu desisti de me vingar do mundo, porque eu vi esse mundo crescer. Eu vi tudo que surgiu e vi o quanto meu povo cresceu. Meu pai é um louco cujo ódio supera o seu, mas eu não. Meus irmãos puxaram a ele, mas eu nasci e cresci com os humanos.

Aquilo só podia ser uma piada... mas não era.

-Então você simplesmente vai se recusar a ser invocado?

-Não. Eu simplesmente vou me recusar a obedecer meu pai. Eu não quero o Apocalipse, e não quero fazer parte dele. Se você planeja me matar, faça-o, mas a verdade é que você não precisa de mim e sabe disso. Eu sou Morte, o cavaleiro. Morte pode ser o meu destino, mas não será o meu legado.

-Você não pode mudar o seu propósito, Morte.

-Não, mas posso desistir dele.

-Como posso acreditar em você? A Morte é traiçoeira.

-É. Mas ela também é imparcial.

Diabos, ele é esperto.

-Vamos, Revés.

-Você não vai matá-lo?

-Não.

sábado, 11 de agosto de 2012

There will always be blood... my blood...

A terra moveu-se, e então uma enorme boca surgiu. Aquela enorme boca foi seguida por muitas outras bocas ligadas entre si por diversos músculos e ossos. As bocas secretavam um ácido que derretia a própria areia e, em segundos, já não existia sequer o corpo de Augustus.

-Você...-sussurraram as bocas.-Você matou...

-Olhe pelo lado bom, Fome.-respondi.-Você vai poder encontrá-los de novo.

Conforme o chão sumia abaixo de nossos pés, sendo substituído por mais bocas, eu e Revés voamos.

-Você tem certeza que quer lutar junto, Revés? Eu não esperava que as coisas fossem ser assim...

-Esse é seu problema, Orgulho. Você nunca espera.-disse ele, sorrindo.

Um círculo de eletricidade formou-se em volta de Revés e então transformou-se em um raio, que acertou o amontoado de bocas. Várias das bocas contraíram-se, mas outras moveram-se como uma gigantesca onda na direção de Revés. Diversos tentáculos com bocas nas extremidades formaram-se e atacaram Revés, mas eu cortei cada um deles antes que eles chegassem ao alvo. Os tentáculos foram comidos pelas outras bocas e então novos tentáculos se formaram.

De repente, diversos jorros de ácido foram cuspidos sobre nós. Pude sentir meu corpo sendo corroído, mesmo que eu não tivesse propriamente matéria. Isso sim era inesperado. Mas eu sabia o que tinha que fazer.

-Revés, rápido! Abra um portal para sairmos daqui!- berrei.

Quase que instantaneamente, um círculo surgiu ao lado dele. Movi-me na direção do portal e encarei-o.

-Vejo você mais tarde.

Peguei-o pelo braço, arremessei-o para dentro do portal e então usei minha magia precária para fechá-lo.

Revés era poderoso, mas eu não queria arriscar matá-lo. Era meio lógico, para mim, que essa batalha duraria muito mais do que eu planejava. Eu podia dar conta de mim mesmo... eu podia até morrer, mas eu não iria arrastar ninguém para meu túmulo.

Saquei a espada que peguei do corpo de Guerra e então comecei a golpear. Eu não tinha a menor ideia do que eu queria acertar, mas eu queria acertar alguma coisa. O ácido começou a corroer-me, e então novamente utilizei minha magia.

-Soberbia aegis est! (O orgulho é um escudo)

Pude sentir a dor diminuir, mas não parar. Lembro-me de golpear até não aguentar mais e então a Terra tremeu. Ele estava enfraquecendo...

Esperei até que aquela massa disforme de bocas me cercasse e então fiz o que eu achei que poderia funcionar.

A Fome só morre quando é saciada.

Fiz inúmeros cortes em mim mesmo e então deixei meu sangue verter, até que cobrisse a espada inteira. E então eu golpeei.

Mais um uivo, mas, dessa vez, de dor.

Senti o mundo despencando em minhas costas enquanto o peso daquele deserto inteiro desabava sobre mim. Meus olhos fecharam-se.

Meu corpo não sentia mais nada.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Feed my Hunger... feed Famine...

Eu, Revés e Augustus caminhamos durante um bom tempo até encontrarmos a entrada para o plano de Fome. Era um deserto do pior tipo possível, e eu percebi que Augustus estava visivelmente desgastado. Revés proferiu algumas palavras e então o humano recuperou-se.

-Agora você consegue curá-los?-perguntei, espantado.

-Curar... é, vamos dizer que sim.

Pude ver, no entanto, alguns ferimentos se fechando no próprio Revés. Interessante, ele agora consegue fazer alterações nos destinos dos indivíduos. Meu irmão tinha tornado-se imensamente poderoso e eu sequer tinha percebido. Talvez eu devesse ser ainda mais grato por tê-lo ao meu lado, mas agora não era hora para sentimentalismos.

Agora era de encerrar a influência de mais um dos Quatro.

As mãos de Revés fizeram alguns desenhos no ar enquanto o sol do deserto castigava Augustus. O Senhor dos Corvos terminou sua magia, mas nada aconteceu. De súbito, pudemos ouvir um uivo. Lembrei-me da invocação que usávamos para convocar os cavaleiros:

"E no leste, ecoa e some
O uivo mórbido da Fome"

Ele estava aqui.

Então eu finalmente percebi o que se passava. Fome nunca foi preso em outro plano, ele simplesmente disfarçou-se nesse. E o disfarce foi tão perfeito que ninguém percebeu. Fome não estava no deserto.

Ele era o deserto.

-FOME! TRAGO-LHE SEU SACRIFÍCIO!-berrei. Então olhei para Augustus.-É chegada a hora.

Minha Lâmina cravou-se no peito do mortal, e então seu sangue verteu. No entanto, tão logo ele encostava na areia, ele desaparecia.

Fome estava faminta.

E pelo visto, aquilo era só um aperitivo.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

It's your Destiny, not your choice... live, or die, with it...

Caminhamos até Revés, minhas asas formando uma barreira ao redor de Augustus. Quem quisesse recapturá-lo, teria que me enfrentar.

Não me espanta que ninguém tenha tentado.

-Revés... quando você quiser, podemos ir embora.

O Senhor dos Corvos arremessou o anjo que espancava e então cravou sua própria Lâmina no chão. Uma enorme fenda formou-se. Atirei Augustus dentro dela e pulei para dentro. Revés me seguiu.

Foi um bom tempo em queda livre até que finalmente pudéssemos ver o chão. Rapidamente, segurei Augustus. Aterrissamos calmamente e então olhei para Augustus.

-Você precisa de alguma coisa?

-Esclarecimento, talvez... porque você invadiu o céu para me libertar.

-Porque eu preciso de um sacrifício.

-Você poderia sacrificar qualquer mortal, e eu não me sinto tentado a supor que você realmente dá bola para os humanos que vivem e morrem.

-Um humano comum é um sacrifício ínfimo. Eles mal valem a presença não-corpórea de um demônio patético. Não, eu preciso de um sacrifício grande. E uma cria profana que estava presa nos Céus me parece o suficiente.

-Como posso valer tanto, se eu vou reencarnar?

-Não tenho certeza se você vai reencarnar.

-WOW! Espere aí, preciso reavaliar nosso acordo.

Não tenho paciência pra isso. Peguei-o pelo pescoço e então saquei minha Lâmina.

-Você não entende muito bem o que eu falo, não é, mortal? Eu não invadi uma das prisões mais bem guardadas do universo para ter que contar com a sua boa vontade. Se você quiser, eu o entrego pessoalmente para o primeiro arcanjo que eu encontrar e me certifico de que você vai ter a pior eternidade possível. E você já está se aproximando disso... tanto por ter sido resgatado do céu, quanto por estar tentando tornar-me seu inimigo. Eu e Revés invadimos o Céu para buscá-lo. Eu posso jogá-lo nas Areias dos Esquecidos, se você assim preferir. Ouvi dizer que Lucifer não trata bem seus prisioneiros.

-Você é bastante persuasivo.-disse Augustus.

-Você não viu nem a metade.-respondi, e soltei-o no chão.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Freedom to live, freedom to die...

Não que ele fosse um duelista ruim, mas aquela luta estava perdida antes de começar.

A batalha foi curta e brutal. Por respeito, matei-o com um único golpe; não tinha motivos para humilhá-lo. Quando aquele paredão de terra veio abaixo, Revés já tinha dado conta de mais da metade das pombas.

-Revés... vou buscá-lo, me dê cobertura!- berrei.

-Certo.

Um enorme furacão formou-se ao meu redor. Era um pouco perturbador, mas funcionava. Diversos foram os anjos que tentaram atacar-me, mas a magia de Revés era poderosa e antiga. Eles estavam certos em temê-lo. Estavam certos em temer-nos.

Caminhei tranquilamente por entre as celas até encontrar a que eu procurava. Lá dentro, estava uma criatura perfeitamente humanoide, mas que eu sabia que tinha muito a me oferecer. Destruí a porta de sua cela e então peguei-o pelo pescoço.

-Augustus?-perguntei.

-Sim... - disse ele.-E quem raios é você?

-Digamos que eu posso ajudá-lo ou castigá-lo. Eu posso simplesmente levá-lo daqui ou então largá-lo e ir embora. Tudo vai depender da sua boa vontade.

-O que você quer que eu faça?

-Eu preciso que você morra.

Augustus pensou um pouco. Aquela cela era horrível demais, e ele era impedido de se matar a todo custo. Ninguém queria que ele voltasse para a terra. Ele sabia que fazer um acordo com uma criatura que invadiu o Céu para libertá-lo poderia se provar muito pior do que ficar preso pela eternidade, mas talvez valesse a pena arriscar. Ele sabia que iria reencarnar, e que se lembraria de toda a sua vida. Como raios isso poderia ser pior que ficar preso?

-Ok... temos um acordo.-disse Augustus.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Botando ordem na bagaça

Depois de inúmeros (dois) pedidos, resolvi separar todas as histórias do Orgulho. Para aqueles que não sabem, ou esqueceram a ordem cronológica:

In The Beginning - Leaves' Symphony - Deathmarks - Lost and Found - Words before the end - O Tomo Desconhecido de Fúria - Pride The Fall - Rise of The Fallen  - Epílogo da Pride the Fall.

Espero que fique claro/compreensível/don't care.

Abraços a TODOS (os três) leitores que eu tenho!


A Slaughter in the Heavens

Eu confesso que achei um pouco engraçado.

Eu e Revés caminhávamos tranquilamente enquanto uma falange com dúzias de anjos vinha em nossa direção. Saquei minha Lâmina com um sorriso. Ela já sentia saudades do gosto de sangue. Revés também sorriu, enquanto suas mãos acendiam em chamas. Coitados.

Eles não tinham a menor chance.

O líder da falange fez soar a trombeta de novo. Pelo que eu entendi, aquilo era um aviso: mais alguns passos e eles investiriam. Parei e olhei para Revés, cujos olhos estavam fixos naqueles idiotas.

E então segui caminhando.

Pelo menos uns dez anjos mergulharam diretamente em nossa direção. Abri minhas asas, mas Revés foi mais  rápido. Suas mãos ergueram-se e então verteram jatos de fogo. Os gritos encheram o ar, mas aquilo era só o começo. Os ventos uivaram. Pelo visto, fazia tempo desde a última luta decente de Revés.

Os anjos que estavam em terra avançaram em nossa direção. Deixei que eles se aproximassem e então desapareci, ressurgindo entre eles todos e quebrando a formação. Pude ver o desespero nos olhos dos mais novos e aquilo, de certa forma, me foi revigorante. Minha Lâmina começou a cobrar seu imposto de sangue, colhendo um por um.

E foi nesse momento que o líder da falange interveio.

Quando ele veio em minha direção, confesso que me impressionei. Ele parecia ser bem antigo, mas eu sequer sabia seu nome. De suas mãos, pendiam um machado e um escudo. Ele golpeou o chão, como se desse uma ordem.

E a terra lhe obedeceu.

Uma cratera formou-se ao nosso redor, como uma arena para que duelássemos.

-Quem é você, anjo?- perguntei, sorridente.

-Phael... e devo supôr que você seja o Senhor das Sombras.

-Orgulho, por favor.

O anjo posicionou-se para o combate.

Finalmente, era hora de me divertir.




Where monsters fear to tread...

Alguns desejam viver para sempre, mas a verdade é que isso pode ser bem tedioso. Veja o caso do anjo Phael, por exemplo.

Phael é um anjo antigo, líder da falange responsável por guardar a Prisão dos Céus. Ali, ficavam as criaturas que eram profanas, e perigosas, demais para continuarem livres. Phael era um anjo rígido e muito respeitado, e muito prestativo. Sempre recebia com um sorriso os novatos da falange e cuidava para que os prisioneiros não fossem (muito) maltratados. Ele tem um ofício, que durará a eternidade. Ele é um bom anjo, e vai ficar para sempre no seu cargo.

Agora veja, por exemplo, um de seus presidiários. Ele era culpado por... ter nascido. Era essa sua sentença: ele era uma cria proibida e, portanto, deveria ser punido. Ele não escolheu nascer daquele jeito, mas alguém tinha que pagar e seus pais já tinham sido colhidos pelo tempo. Então, sobrava pra ele. Ele nunca foi problemático, e Phael esforçava-se para reconhecer isso: por mais que aquela aberração não merecesse viver, ele não tinha culpa. Phael e seu prisioneiro passariam a eternidade juntos, assim como vários dos outros prisioneiros.

Isso parece uma vida bem tediosa.

A verdade é que já estavam todos de saco cheio, incluindo a própria falange. Volta e meia uma incursão mal-sucedida de demônios trazia alegria para aqueles guerreiros, que podiam sentir o gosto da batalha para fazer desaparecer o tédio de suas existências. Fora isso, era uma vida pacata.

Quando as trombetas soaram, vários anjos sorriram. Eles correram para seus postos, empunharam suas armas e então entraram em suas formações de combate. Alguns voaram, outros se mantiveram em terra. Suas armas ansiavam por aquele sangue.

Mas havia alguém que ansiava mais.

A eternidade era tediosa.

A eternidade ia acabar.

domingo, 5 de agosto de 2012

You called me Shadowlord, but that never was my name...

-Dois caíram... faltam dois.-disse Revés.

-Sim...- respondi.

Guardei minha recém-adquirida arma e então Revés abriu um novo portal. A mesma sensação desagradável me dominou de novo, e fui tragado de volta para o mundo físico.

-O próximo cavaleiro é Fome. Pretendo deixar Morte por último. Vamos.

Revés e eu nos encaramos. Aquela era mais uma de nossas missões praticamente suicidas que terminavam por dar certo.

-Eu confesso que você me assustou por um momento, Orgulho.-disse ele.

-Eu já lhe feri muito mais do que eu gostaria, Revés. Não tenho planos de fazê-lo de novo.

-Não era disso que eu estava falando.

-Então eu realmente não o entendo.

Revés suspirou.

-Você está disposto a destruir a tudo e a todos. E o pior é que isso inclui você mesmo. O Senhor das Sombras era o mais antigo de seus aspectos. E você simplesmente entregou-o, como se ele não fosse nada para você. Até que ponto a dádiva de Loucura lhe é saudável? Você confia tanto assim no seu sucesso que está disposto a correr o risco de se destruir em vão?

Parei e então olhei para ele.

"Senhor das Sombras era o nome que vocês me davam. Ele só passou a fazer parte de mim quando vocês começaram a esquecer quem eu realmente era. E isso é algo que eu não quero. Aquelas sombras sempre foram a minha maldição. Eu me livrei dele, recuperei-o e então o destruí. Minha Lâmina Eterna nunca fez referência ao Senhor das Sombras.

A verdade é que eu não sou, e nem nunca fui, o Senhor das Sombras.

Para mim, eu sempre fui o Orgulho."

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Every Single War Needs Pride...

Guerra não estava nem um pouco satisfeito. Ele queria me ver morrer, mas não estava disposto a tentar fazer isso com as próprias mãos.

-Você trapaceou, Orgulho.-disse ele, sacando a espada.

-Em momento nenhum. Eu deveria sacrificar aquilo que me fosse mais valioso... e o fiz. Sacrifiquei o mais antigo e renomado de meus títulos, aquele do qual eu - com certeza - era mais orgulhoso. O sacrifício foi válido. E agora... você vai morrer.

-A Guerra é eterna, Orgulho.

-Eterno eu também sou.

Saquei minha Lâmina. Ela não teria utilidade nenhuma, nenhuma arma além da Lança do Destino poderia matar Guerra... a não ser por sua própria espada.

Guerra investiu contra mim. Minha última luta contra ele tinha sido uma surra inesquecível, mas eu estava muito mais poderoso agora. O primeiro golpe dele não cortou nada além de ar, pois eu desapareci e apareci em suas costas. Minha Lâmina cortou-o, e seu sangue sujou meu rosto. Chutei-o para longe de mim e então ataquei de novo. Ele bloqueou meu golpe com sua espada e então novamente, brandiu a arma contra mim. Dessa vez, a esquiva não foi tão fácil. O golpe passou perto de meu rosto e forçou-me a abrir as asas para manter me equilibrado.

Saltei para longe e então voei.

Guerra então invocou uma criatura feita de ossos para que pudesse alçar voo também. Ele era um Cavaleiro, sim, mas a verdade é que não estava tão acostumado assim a lutar montado. Certamente, eu poderia tirar vantagem.

Manobrei agilmente enquanto ele me perseguia, e várias estacas feitas de osso passaram por mim. Fechei as asas e então entrei em queda livre. O cavaleiro fez o mesmo, erro pelo qual ele pagou caríssimo.

Tão logo cheguei a poucos metros do chão, desapareci e reapareci atrás dele. A força que adquiri devido à velocidade somou-se à minha própria força, e foi o suficiente para arrancá-lo do que que quer que fosse aquele bicho que ele montava e arremessá-lo ao chão.

Sem hesitar, arranquei a espada de suas mãos e então decepei-lhe os braços.

-Você pode me dizer que a Guerra é eterna, Cavaleiro... Mas a verdade é que nunca existiu Guerra sem Orgulho.

E então cortei-lhe a cabeça.

domingo, 29 de julho de 2012

The death of the Shadowlord

-Do que você está falando, Senhor das Sombras?- perguntou Revés.

-A verdade é que eu não posso levar meu plano adiante, Revés.-respondi a ele.-É simples. Sem a Lança do Destino, a verdade é que eu estou dividido, e a dúvida me consome. Não posso continuar enquanto eu estiver dividido.

-Então você veio até aqui  para MORRER?- disse ele, incrédulo.

-Eu vim aqui para realizar um último sacrifício, meu irmão. Você, melhor que qualquer um, sabe que eu preciso de convicção para fazer o que devo fazer. E essa convicção está oculta, agora, sombreada por outras ideias. Guerra, se meu sacrifício for aceito...

-Eu serei libertado.

-Revés... detenha-o se isso acontecer.

-QUE?-perguntou meu irmão.

Ajoelhei-me, com os olhos fixos em Guerra. Ele sorria. Saquei minha Lâmina e então enterrei-a em meu peito. Senti dor, muita dor. Senti minha essência se partindo, senti o mundo desvanecendo ao meu redor. Meu poder se esvaía, lentamente. Ouvi Guerra gargalhar e também vi Revés desesperado. Sim, o que eu fiz foi errado. Mas era necessário.

Era a única forma.

Um jorro de energia emanou de meu corpo enquanto minha essência era partida.

Tão logo a luz cessou, pude ver expressões de espanto no rosto de Revés e de Guerra.

-Eu, Orgulho, liberto o Cavaleiro do Apocalipse, Guerra, com o sacrifício do Senhor das Sombras. Que ele seja, para sempre, levado de mim.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

War always costs the highest of all prices...

-Então, qual é o seu plano?-perguntou Revés, enquanto íamos até o próximo Cavaleiro.

-Matar todos eles. Um por um.-respondi.

-Simples assim?

-Sim.

Caminhar entre os mundos é interessante. O tempo não passa da mesma forma, pois tudo varia de acordo com a força de vontade de quem perambula pelo Véu. Revés é um dos mais talentosos, poderosos - e insano - magos de minha raça. Eu, por outro lado, sou uma das criaturas mais resilientes que já pôs os pés no Mundo dos Espíritos. O tempo ao nosso redor se distorcia quase que à nossa vontade, e nós sabíamos disso. Cruzamos centenas de quilômetros em questão de minutos, sob os olhares de espíritos menores ou de mercadores de almas. Algumas almas particularmente perturbadas tentaram aproximar-se de nós, mas Revés espantou-as com um mero olhar.

Revés tinha uma fascinação esquisita por almas.

Eu, sinceramente, não.

Foi somente quando nos aproximamos da entrada do Plano onde Guerra estava preso que a paisagem mudou. O deserto tornou-se planície e as almas e espíritos deram lugar aos cadáveres. Milhares deles, espalhados por todo lugar. Inúmeras lanças e espadas partidas estavam no chão, e dizem que muitos ocultistas se aventuram por essas proximidades procurando artefatos, sem jamais sequer desconfiar que estavam próximos a uma das mais poderosas entidades do planeta.

-Então... esse deve ser o plano onde Guerra está preso.-disse Revés.

-Você tem alguma ideia de como eu posso abrir o portal?- perguntei.

-Deixe-me tentar uma coisa...-disse ele.

Percebi uma certa incerteza na voz dele... basicamente, era a única coisa que havia na voz dele.

Revés murmurou algumas palavras e então tirou uma chave de seu bolso. Ele encostou-a na testa... e então quebrou-a.

Um enorme buraco negro se formou, do mais absoluto nada, e irresistivelmente tragou-nos para dentro. Eu tive a sensação de que eu estava sendo engolido por um behemoth gigante que estava sendo predado por um dragão marinho, a mais de onze mil metros de profundidade.

Foi extremamente desagradável.

Quando aquilo tudo terminou, nós estávamos perante o Cavaleiro.

-Senhor das Sombras... que bom vê-lo. Antes que possamos acertar nossas contas, você deve fazer um sacrifício em minha homenagem... sacrifique aquilo que lhe é mais precioso.

Olhei para Revés.

-Foi pra isso que você me trouxe?-disse ele, desconfiado.

-Sim... para que você seja a testemunha de meu próprio sacrifício.-respondi

sexta-feira, 20 de julho de 2012

When the brothers ride together again...

-Como posso saber que você não vai ordenar que suas formigas tentem me morder depois de eu lhe entregar a Lança?-perguntei.

-Porque, ao contrário de você, eu sou honrado.

-Se tem algo que descobri em minha vida, foi que anjos honrados tem dois fins: ou caem, ou morrem. Se você ainda é celestial, é porque põe sua honra abaixo de seu dever. Eu não vou arriscar tanto em nome da sua honra.

Aquilo irritou Gabriel profundamente, mas vi que ele se conteve. Aquilo era um jogo de xadrez com peças capazes de matar umas às outras mais rápido do que seria saudável. Eu estava muito mais poderoso do que eu era quando me deparei com ele pela primeira vez, mas Gabriel tinha a vantagem diplomática de estar com Revés. Um erro dele e eu acharia um jeito de salvar Revés e então chaciná-los. Um erro meu e ele mataria Revés.

-Façamos assim. Você crava a Lança na exata metade do caminho e então eu liberto Revés.-disse Gabriel.

-Se você hesitar, que seja por um segundo... eu juro...

Fiz o que ele disse, percorri metade do caminho e cravei a ponta de lança no chão. Aquilo era exatamente como lidar com os explosivos que os humanos faziam. Um erro, por mais banal que fosse, e estava tudo destruído.  E não iria ser nem um pouco agradável.

Recuei pacientemente, e então ouvi Gabriel dizer alguma coisa na direção de Revés. As correntes se soltaram e então meu irmão esticou as mãos. O anjo caminhou até a Lança e então tirou-a do chão.

-Foi um prazer negociar com você, Orgulho.

-Desapareça.

Gabriel, bem como seu séquito de idiotas, sumiu.

-Orgulho.

-Revés.

Por um momento, rimos. De novo, como já era de costume, o destino nos trazia de volta para o campo de batalha.

-Será que haverá um dia em que finalmente teremos paz, irmão?-perguntei.

-Talvez... mas acho que você não vai aguentar muito tempo sem estragar tudo.-disse ele, ainda rindo.

domingo, 15 de julho de 2012

A trick of Fate, about Misfortune and Destiny

Terminou, mas é uma sensação estranha.

Quase como se eu tivesse perdido uma parte de mim.

A parte que desejava vingança.

Abri minhas asas e então esperei enquanto abria meu portal para fora daquela dimensão tenebrosa. A morte de Peste significava um cavaleiro a menos em meu objetivo, mas eu ainda teria que enfrentar outros três. Fome, Guerra e Morte. Talvez eu devesse começar por Guerra... seria o inimigo mais óbvio.

Meu plano era simples: se eu matasse os Cavaleiros, eu cessaria a sua influência sobre a Terra. Eles surgiram como ferramentas para o fim do mundo, mas seu poder cresceu e eles decidiram tramá-lo. Existem muitas coisas que eu odeio na existência, mas eu quero poder continuar odiando-as. O fim do mundo não era uma perspectiva agradável, e, aparentemente, eram poucos os que sabiam que estávamos nos aproximando dele.

Ouvi um farfalhar de asas tão logo eu voltei para o mundo físico. Sorri.

Anjos. Eu adoro anjos. Especialmente quando mortos.

-O que você fez, Eterno?-perguntou o líder da falange, Gabriel.

-Não é da sua conta, pomba.-respondi.-Desapareça do meu caminho.

-Ah, certamente é da minha conta. Sabe, eu não costumo me irritar com as suas atitudes, Senhor das Sombras. Pelo contrário, acho engraçada a forma como você lida com seus problemas. Você tornou-se uma besta completamente incapaz de prever suas consequências...

-Se eu ouvir mais uma nota em sua voz que me desagrade, terão sido as suas últimas palavras. Eu não preciso ouvir absurdos de uma criatura cuja única função é ser enchimento de travesseiro. Lucifer não me enfrentou: não me faça rir de você.

-Se eu estalar meus dedos, uma falange inteira estará aqui antes de você piscar.

-Se eu estalar os meus, sua falange inteira estará morta antes de pisar no chão.

Ele estalou os dedos. Eu saquei minha arma.

Mas ao invés de uma falange inteira aparecer, somente uma criatura apareceu. Uma criatura corvídea que eu instantaneamente reconheci como meu irmão. Revés. Seus braços estavam presos por uma corrente de aspecto antigo, mas eu sabia o que ela realmente era. As Correntes de Asmodeus só podem ser soltas por quem as prendeu.

-REVÉS!-berrei.-Eu espero que você tenha um plano de escape, porque...

E então apareceu a tal falange. Desgraçado.

-Sim, você talvez consiga me matar e matar todos nós, mas... esses anjos estão dispostos a ignorá-lo para matar Revés. Então, eu sugiro que você pense bem nas suas atitudes.

Olhei ao redor. Eram trinta ou quarenta... talvez levasse uns três minutos. Droga, não é suficiente.

-O que você quer?

-O que mais seria, Senhor das Sombras... nós trocaremos seu irmão pela Lança do Destino.



terça-feira, 10 de julho de 2012

Pandora's Box and the End of the Eternity

-Você não ousaria, Esperança.- vociferei.

-Eu não ousaria? Você enlouqueceu, Orgulho! O que você se tornou?-disse ela.

-EU ERA UM GUERREIRO, ESPERANÇA! A SUA TRAIÇÃO FEZ DE MIM UM ASSASSINO!

-Eu não lhe forcei a nada, Orgulho.

-Mentira. Você me forçou, sim. Você me forçou a matar para viver. Você era quem eu tinha, Esperança, era em você que eu confiava! Mas você optou por se vender para Fanatismo...

-Não ouse falar comigo desse jeito, Senhor das Sombras. Eu já ouvi o suficiente de você.

-Ah, não. Você não ouviu nem metade... Você é a mais podre dentre todos os Eternos, Esperança. Você é a representação de tudo que nós não deveríamos ser... o que você trouxe para a nossa raça?

-E o que VOCÊ trouxe, Orgulho? Morte, destruição?

-Eu trouxe ordem. Eu nos juntei no momento em que era necessário e nos separei quando era o que tinha que ser feito. Eu fiz mais pelos Eternos do que você fez por qualquer entidade nesse planeta. Você nunca deveria ter saído dessa caixa.

-Eu trouxe luz pra esse mundo, Orgulho. Os deuses quiseram que eu fosse liberta.

-Sim, você trouxe luz para o mundo. Mas você sempre se esqueceu que não existem sombras quando não existe a luz. Você pode ter trazido um pouco de luz... mas só o que fez foi trazer à tona as trevas.

Esperança largou a Caixa de Pandora. Ela puxou seu sabre, e minha Lâmina desapareceu da bainha para aparecer em minhas mãos.

-Lutaremos de novo? Você sabe como isso acabou da última vez.

- Dessa vez, será diferente. Aquele que for derrotado, volta para a Caixa. Você concorda?

-Sim.

Esperei Esperança atacar. Não vou correr riscos: cheguei longe demais para jogar limpo contra uma entidade como ela. Ela teve inúmeras chances de se redimir, e tudo que fez foi afundar mais. Era a hora de dar um fim nela.

Tão logo ela me atacou, eu fui em direção à Caixa. Minhas mãos fecharam-se sobre ela e então eu abri a tampa. Proferi o encantamento tão rápido quanto pude, e nunca esquecerei a expressão de Esperança quando ela foi presa de novo:

"Pelo sol que brilha acima de nós
E como guardião do artefato de Elêusis
Eu, Orgulho, declaro que sou
Capaz de desfazer a vontade dos Deuses

Se, no mundo, há de haver a justiça
Que seja, sua arma, a vingança
E por meu poder, sob os olhos do universo,
Declaro aqui o fim da Eterna, Esperança."

Explosão.

Senti o universo tremer aos meus pés e minhas mãos queimaram. O que eu tinha feito era mais do que simplesmente matá-la. A caixa de Pandora era o único artefato conhecido até hoje que era capaz de destruir plenamente um Eterno. Ela foi criada para conter-nos, e os deuses levaram milhares de anos para prender cada um dos Eternos que estiveram naquela caixa. Quando Pandora abriu a caixa, ela os libertou no mundo, e eles queriam vingança. Esperança, no entanto, só foi libertada muito depois... e sua libertação teve consequências que fizeram os Mares do Destino correrem no sentido contrário.

Mas agora não mudava mais nada.

Ela estava destruída.

Para sempre.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Cross my Heart... and Hope to Die!


Eu vi civilizações surgirem e desaparecerem quando aquela lâmina fez verter o sangue de uma divindade.

O primeiro, dentre os quatro, tinha me custado muito. Recuperar a Lança do Destino tinha sido arriscado, e eu certamente não teria conseguido sem ela. Ainda não entendo como consegui pegá-la de seu antigo dono...

-Sabe o que é mais engraçado nisso tudo, Peste? Eu conheci inúmeras entidades que nasceram como mortais e se eternizaram como deuses... Mas você é o primeiro que eu vejo nascer eterno... e agora morrer como um simples mortal.

-Ah, Orgulho... A minha morte trará um futuro mais sombrio do que a mais sombria de suas perspectivas.- respondeu o Cavaleiro moribundo.

-Eu bebi a água do Mar do Destino. Eu conheço o futuro.

Ele gargalhou.

-Nossa, nunca pensei em fazer isso. Eu seria imortal se fizesse... você é mais tolo do que parecia, Orgulho. Você matou uma divindade, uma entidade que faz parte do equilíbrio desse mundo... e a partir de agora, você colherá o que está semeando.

-Suas ameaças são vazias, Peste.

-Não... vazias são as suas esperanças.

Desgraçado. Esperança, como eu pude esquecer dela?

-E por falar nela...-riu Peste.

-Eu já vi você fazer coisas idiotas, Orgulho... mas talvez eu não tenha usado força o suficiente.-disse Esperança.

Matar Peste utilizando a arma mais poderosa que existe foi difícil. Está certo... eu absorvi Lil'Siztah e tenho praticamente os poderes de uma divindade. Mas eu nunca gostei de enfrentar Esperança.

-Você ousa me enfrentar, mesmo sabendo que o poder de um deus agora me pertence?

E foi somente quando eu olhei para Esperança que entendi o quão ferrado eu estava... nas mãos dela, não tinha arma nenhuma. Ela não estava ali para me matar.

Nas mãos dela, somente um pequeno baú.
No rosto, um largo sorriso.

A Caixa de Pandora... diabos, como eu esqueci disso?

quinta-feira, 24 de maio de 2012

"Quando eu percebi, eu estava coberto de sangue..."

Não me recordo exatamente como tudo se sucedeu. Lembro que eles apareceram e me cercaram... deveriam ser uns cinquenta ou sessenta. Apontavam para mim, parte me acusando, parte zombando de mim. Eu não nasci para aguentar isso.

As emoções toscas e sem contrapontos rodopiavam dentro de mim, urrando para serem liberadas. Mas não, não era isso que eu queria. Minha vida inteira eu fui preparado para enfrentar situações como essa... entretanto, teoria é teoria e prática é prática. E, na prática, tudo é bem mais complicado.

Meu sangue fervia de raiva, toda a raiva do mundo. A primeira pedra que me acertou foi um incentivo a jogarem outras. Os bastardos riam de mim. Eu era uma aberração, um monstro. Adultos, velhos, crianças: eu era uma piada universal. Meu espírito sussurrava docemente "libere suas emoções, somente por um segundo...". Não, não, não...

Antigamente, eram multidões enlouquecidas com tochas e foices. Agora, são pessoas com as câmeras de seus celulares e seus olhares maldosos. Sempre foi assim: nunca tive um amigo de verdade. Tive algumas pessoas que tinham pena de mim, mas ninguém nunca sentiu compaixão. Tudo é muito intenso e eu resolvi deixar a fúria escoar, só por um segundo...

Quando eu percebi, eu já estava coberto de sangue.

Mas daí eu não podia mais parar."

terça-feira, 24 de abril de 2012

These are the wizard's last holy sights... The Wizard's Last Rhymes!


“Se você encontrou essas páginas e não fui eu que lhe entreguei-as, então eu recomendo que você não as leia. Se você encontrou correntes com elas, então leia e saiba que você já está amaldiçoado.
  E eu já estou morto.
Enquanto as escrevo, vomito sangue pelo menos duas vezes por hora. Minha pele enche-se de marcas, símbolos, estigmas. A íris de meus olhos já tornou-se vermelha e a esclerótica, que os leigos chamam de “branco do olho”, já está preta. Meu corpo entra em colapso pelo uso extremo de magia, e meus sucessivos cortes para transformar meu sangue no combustível de minhas magias só aceleraram esse processo.
Morro carregando o legado dos Della Rey. E por mais debilitado que eu esteja, tenho certeza que ninguém virá me matar. Esses são meus únicos momentos de paz. Um whiskey barato e uma carteira de cigarro estão em minha mesa enquanto escrevo. No momento de minha morte, é que minha mente nubla. Faltam palavras pra descrever o que sinto...
... porque eu falhei.
Sim, falhei. Ninguém pôs as mãos nessas correntes, e muitos tentaram. Mas meu corpo apodrecerá e não poderei mais defendê-las. Irônico como eu literalmente dei a vida para protegê-las.
Sobre minha irmã... eu cometi um erro atrás do outro até que, finalmente, um dos dois teve que pagar. E foi ela. Não estava na minha capacidade evitar, era lógico. Era tão lógico que eu, sinceramente, não acredito que não percebi antes. Minha irmã pagou com a vida.
Sobre Augustus... ele foi um idiota. Eu jamais poderia ter protegido-o, mas eu poderia ter tentado se ele tivesse sido honesto sobre suas origens. Talvez um dia, se eu conseguir resolver minha situação como alma, eu tente resgatá-lo... quem sabe para matá-lo por sua estupidez.
Sobre o diácono... sim, talvez eu tenha traído-o. Mas ele arriscou minha vida ao invadir minha casa e fazer dela sua base de operações. Ele me devia, e eu devia para Smaphael. O protocolo era óbvio.
Sobre Deborah... talvez a única coisa que eu realmente pudesse ter mudado, mas ela cavou a sua própria cova. Tudo que eu fiz foi empurrá-la pra dentro.
Meus dias como humano na Terra terminam e, sinceramente, eu sequer irei sentir falta. Os dias tormentosos e as noites mal dormidas. As batalhas contra demônios tão profanos que a própria Terra urrava de dor com sua presença.

Nenhuma história de amor com uma anja.

Nenhum anjo rebelde que caiu para me ajudar.

Nenhum irmão que esteve comigo incondicionalmente.

Essa é a história de um verdadeiro caçador de demônios.
           
E, agora, ela termina.”

-Encontrado, transcrito e publicado por Stride Sinkiller.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Let the Rain

Bom, tem várias pessoas pra quem eu disse que ia escrever e, recentemente, os pedidos de algumas se mostraram mais viáveis do que os de outras. O pedido de minha mais recentemente adquirida irmã, por exemplo, foi quase visionário. Nada mais justo, então, do que escrever a postagem à pedido de minha nee-chan, Sarah.

"As lágrimas vieram aos meus olhos como uma chuva violentíssima quando o coração de minha irmã deu sua última batida.

O céus se fecham e então eu sinto que os portões vão se abrir.

E a voz de minha irmã ressoa em minha cabeça dizendo: "deixe a chuva".

Mas não.

A morte de minha irmã foi um golpe baixíssimo do Destino em minha vida. Injusto com ela, talvez merecido por mim. Mas ela definitivamente não merecia morrer, não daquele jeito, depois de horas de tortura. Quantas vezes ela gritou por meu nome? Talvez nenhuma, talvez inúmeras. Quantas vezes ela desejou nunca ter me chamado de volta em sua vida? E o filho dela, que desapareceu? A captura de Augustus, a única pessoa em quem ela confiava? Seria isso tudo minha culpa?

E novamente, à chuva vem. Eu senti, algumas vezes na minha vida, que existia mais no mundo do que minha alma, agora afogada, percebia.

Eu estava errado.

Não existe mais nada. Não existe mais Helena, não existe mais Augustus, não existe mais um possível Della Rey. Não existe mais ninguém em quem eu possa confiar, salvo talvez aquele mago patético que se esconde em minha casa com medo de sair na rua. O mundo torna-se um lugar mais sombrio e terrível a cada segundo, e a maldição dos Della Rey segue implacável, retirando de minha vida todos aqueles que ousam lutar ao meu lado. E agora planos ainda mais profundos que o Inferno espalham seus tentáculos na Terra e, para variar, eu estou no centro do furacão.

E para piorar, é tudo culpa minha

Os céus escurecem. Não mais em minha alma... mas no mundo real.

Eu gostaria de deixar a chuva vir essa noite.

Mas as sombras de minha vida jamais me deixariam fazer isso."

domingo, 25 de março de 2012

Lost and Damned

Eu sabia, desde que comecei a escrever essa série de postagens com base em músicas, que eventualmente eu iria acabar escrevendo sobre essa música. Sem um pingo de modéstia, dedico essa postagem com uma de minhas músicas favoritas a mim mesmo.

"Cara irmã,

Escrevo-lhe essa carta porque não irei vê-la de novo. Helena, não chore... acredite em mim, eu faço isso por você.

Helena, eu lembro de você ter aparecido em minha vida quando ela tinha apenas começado. E mal sabia eu aonde isso tudo iria parar quando começou...

Eu era uma criança quando você nasceu e, mesmo naquela época, eu senti medo. Medo porque eu sabia como seria a sua vida - com sorte, menos pior que a minha. Sem sorte, você provavelmente não duraria dez anos. E foi com essa idade que eu deixei-a, pois eu sempre fui mais uma ameaça do que uma salvaguarda. Toda vida morre, especialmente ao meu redor. São as correntes da condenação que me amarram à essa tragédia que vivo. É a minha maldição.

A nossa maldição.

Não existe final feliz para nós, minha irmã. Mas seu filho... talvez ele não seja um Della Rey. Talvez ele tenha a sorte de nunca ouvir falar dessa família maldita, talvez ele tenha uma vida... normal. Eu farei o possível pra isso. Eu daria minha vida por isso. Mas não consegui salvá-los, e você sabia que eu não conseguiria. Quando você me chamou, você sabia que eu não conseguiria.

E mesmo assim, quando eu a vi de novo, você me abraçou forte. E, naquele momento, eu senti receio. Uma pequena pontada de medo, como nuvens discretas no céu limpo. E naquela noite, tudo veio abaixo e você sumiu. Portanto, tão logo eu resgate-a... eu quero que você faça o que já deveria ter feito.

Não pergunte porque.
Não se entristeça.
Às vezes temos que mudar os planos que fizemos.
Deixe-me para trás.
Não se arrependa.
Porque no fundo, você sabe...

E eu sei que você sabe...

Eu já estou perdido e condenado."

sexta-feira, 2 de março de 2012

Runaway Train

"Quando saí de minha casa, dei um adeus e parti com um bolso cheio de sonhos.

Sonhos horríveis e deturpados.

Mas, quando saí, pensei: 'essa estrada escura que eu trilho não me traz escapatória alguma'.

E diabos, eu estava certo. Mesmo com a presença de minha irmã, agora talvez ainda mais intensa do que nunca tinha sido, eu tenho certeza que escolhi o veneno errado. Essa vida não é para mim, ou para qualquer mortal. É dura demais, tem perdas demais e, principalmente, não traz recompensa alguma. Tolos são aqueles entre nós com a mente nobre e que, enquanto acham que fazem um trabalho comunitário, erguem suas barrigas obesas para a pobreza, achando que são reis em um mundo de diamantes.

Idiotas.

Como, COMO alguém pode justificar sua escolha quando acorda gritando? Como alguém pode fingir ser cego quando está enxergando toda a podridão que nos circunda?

Não. Não fazemos nada de bom. Perdemos tudo em nossa vida sem sequer termos um motivo, e para que? Para fingir que estamos cavalgando para um mundo de flores engraçadas? Eu já não aguento mais essa minha vida, sequer aguento minha dor. Faço de tudo para ficar longe de todos. Para não ter ninguém a minha volta.

É apenas uma parte da natureza humana tentar nos manter longe da dor.

Diabos, tudo que eu quero é um trem para fugir daqui."

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Fear of the Dark

Parando um pouco com as homenagens, decidi partir pra um clássico. Espero que eu não destrua a música ou desonre-a de qualquer forma.

"Eu sou um homem que caminha sozinho... e, diabos, se eu caminho por uma estrada escura.

E na verdade, essa foi a minha opção e o meu destino. O destino me forçou a caminhar por uma estrada escura, e eu optei por fazê-lo sozinho. Não é saudável ter gente perto de mim, ainda mais agora com todos esses anjos e demônios atrás de mim. A solidão doi, de vez em quando... mas a perda sempre doi muito mais.

Eu estou acorrentado ao meu destino, literalmente.

Pior que a perda em si, talvez, seja o medo de senti-la quando tenho alguém comigo. Como aconteceu com ela, como aconteceu com a minha irmã recentemente... Eu tenho medo de muitas coisas. Eu tenho medo constante de que tem algo próximo de mim, algo que eu não vejo, mas sinto, que eu não ouço, mas posso quase farejar... O medo de que minha hora solene esteja chegando. Meus medos são quase maiores do que minha dor e meu tormento.

Quase.

Depois de minha irmã, de quem a completa ausência de notícias me é tranquilizante, eu percebi que estou condenado de vez a viver sozinho. Ela fez muito por mim, mesmo em pouco tempo: as informações que tive a partir dos estudos dela me guiaram a uma compreensão maior de como usar minha maldição em favor próprio. As Correntes de Halzazee cobram o preço de seu poder em sangue... e, pelo visto, eu estou pagando muito bem. Temo pelo dia que talvez eu não consiga pagá-lo...

Tenho medo de muitas coisas. De como tudo pode terminar, de como talvez eu não descanse nem depois de morto. De como a posse contratual de minha própria alma pode trazer um final ainda mais escuro à estrada que sigo...

Posso ter medo do fim da minha estrada.

Mas, diabos, eu não tenho medo do escuro."

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

The Haunting (Somewhere in Time)

Amizades antigas são difíceis de explicar. Sem muitas delongas, entrego o texto que escrevi com a música escolhida por um de meus grandes amigos, em quem muito confio e a quem muito devo.

Essa é a tua, Lucas.

"O mero som da voz de sua voz me fez acreditar que você era ela.

E que felicidade isso me trouxe ao ouvir sua voz, minha irmã. O fato de eu ainda ter uma família foi o maior consolo que tive nos últimos vinte anos, desde que deixei tudo para trás para viver uma vida de paranoia e fuga. Quando eu disse que para você me deixar enquanto ainda podia.

Mas você não me ouviu e me procurou, e me levou de volta para a sua vida.

E as coisas pioraram, rápido. Tudo piorou e então você foi tragada de volta no redemoinho que corre em nosso sangue. Você foi atacada por meus inimigos até sua mente estar em pedaços. E quando não há mais virtudes para defender, você cai.

Fundo.

Eu sinto muito. Muito mesmo. Eu não pude fazer nada para protegê-la... eu sequer pude me proteger quando me dispus a dar tempo para que você fugisse. Mas sim, eu derrotei aquela criatura. Se isso lhe servir de consolo, eu a derrotei. Eu nunca vou me orgulhar tanto de alguma coisa quanto me orgulhei daquilo: de quando olhei para você e disse 'vá embora essa noite, eu fui longe demais para poder começar tudo de novo...

... com alguém como você.'

Eu posso não saber onde você está, sequer saber se você está viva. Mas uma coisa eu prometo, do fundo de minha alma, minha irmã...

... Em algum momento do tempo, eu irei encontrá-la e assombrá-la de novo.

Obrigado por tudo."

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Homenagem à Porto Alegre

Tá foda,
Cidade do diabo
Tá quente pra caralho
Não tem ar condicionado

E é sinistro
Parece ferro fundido
Trinta graus já é batido
O bagulho aqui é fodido

É assustador
O calor aqui é constante
Não tem brisa refrescante
Parece o inferno de Dante

Mas não esqueça
Que é o pior lugar do mundo
Se o Inferno é na Terra
Porto Alegre tá no fundo...

(2x)
Pra te enlouquecer
Pra te enlouquecer
No verão de Porto Alegre
O calor é de foder

(2x)
É quente, é quente, é quente, é quente
É quente, é quente, é quente, é quente
O verão nessa cidade
É pra ferrar com o vivente.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

The Mercenary

"A vida de um caçador de demônios não é nada fácil. Você perde sua pele... perde sua cabeça, algumas vezes.

O pior de tudo é ver que os programas de TV acham 'bonito' ter caçadores de demônios. Isso me irrita profundamente, porque é sempre algo muito bonito ou muito glorioso. Não é. Tu mata gente, pessoas que não tinham nada a ver com essa merda toda porque... bom, porque os demônios e o resto da corja sobrenatural botam elas no meio.

O pior é que nunca realmente termina. Você mata um e vem outro se vingar. Ou então aquele que você matou da um jeito de voltar e tenta matar você. A minha vida consiste basicamente em fugir de alguns e enfrentar os outros, mas na realidade...

Eu não tenho para onde fugir.
Eu não tenho onde me esconder.
E eu preciso matar pra poder viver.

Não é bonito e nem glorioso. É uma merda tão fodida e que fode tanto com a tua cabeça que a maioria dos meus sonhos são piores que a realidade. A maioria das minhas boas memórias envolvem 'sair vivo' ou então uma cicatriz particularmente marcante. As pessoas que eu amei ou foram embora ou morreram... às vezes, ambos. Mas agora não tem volta, eu já comecei e vou ter que ir até o fim. É o peso, literal e figurativo, das minhas correntes que me mantém nisso tudo.

Eu odeio ver pessoas vangloriando caçadores de demônios ou se sentindo emocionadas pelo sacrifício que eles fazem em nome da humanidade. NÃO! Nós não somos dignos de honra...

Somos dignos de pena.

Porque toda vez que entramos em um combate com um demônio, não pensamos 'eu estou salvando milhares de pessoas' ou 'meu trabalho é importante'. As únicas coisas que passam na cabeça de um caçador de demônios são as seguintes frases:

Não demonstre sentir medo.
E não demonstre sentir dor."


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Wasting Love

Bom, na mesma linha do que eu escrevi pro André (Farewell), o Bruno Paini foi outra pessoa que deu uma mão no ano passado. Além disso, a gente jogou League of Legends o ano inteiro e ele me deu uma mão pra sair do Elo Hell. Como meu presente de formatura, o máximo que eu posso fazer é o que vem a seguir.

“Eu fico pensando: como minha vida seria se eu fosse normal?

Quero dizer, talvez um dia eu seja um homem honesto. Por ‘honesto’, eu quero dizer “alguém que faz o que diz e que pode ser digno de confiança”. Mas eu não sou, porque eu tenho que ser tão insidioso quanto os demônios que eu caço... e que me caçam. Então eu vivo assim, com uma paranóia interminável, sempre observando, sempre de olhos abertos, do nascer do sol ao por do sol e assim sucessivamente.

Eu também penso se as coisas seriam melhores se eu tivesse alguém que caçasse junto comigo... mas eles normalmente morrem, ou fogem. Os mais sortudos fogem. Eu sou obrigado a viver sozinho, porque qualquer um que se aproxima de mim é um alvo em potencial. Eu passo meus dias completamente sozinho porque já tive aliados o suficiente pra saber que não é saudável pra eles. Talvez seja meu destino, viver sozinho. Eu já tentei aceitar isso, especialmente depois da morte dela, mas é tão difícil...

Mas não. Eu tenho um motivo para fazer isso. Eu tenho as minhas correntes, e elas são o suficiente. Nas mãos erradas, elas seriam muito problemáticas. Eu tenho que defendê-las e, até agora, eu estou fazendo o melhor que posso.

E quanto aos amigos que perdi...

Eu garanto que irei lembrar deles... e evitarei que suas vidas sejam cobertas pelas areias do tempo.”

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sympathy for the Devil

A gente adquire um monte de coisas quando começa a faculdade. Conhecimento, dores de cabeça, dúvidas, frustrações, alegrias. Sim, muitas dessas coisas. Mas de todas as coisas que eu conquistei no curso de biologia, talvez nenhuma tenha sido tão importante quanto essa. Nenhuma outra coisa esteve comigo SEMPRE que eu precisei. Nenhuma outra coisa me disse a verdade quando ela tinha que ser dita e, na biologia, nenhuma coisa me deixou tão claro o quanto o vínculo de “sangue” é pequeno perante a infinidade de possibilidades que é uma amizade.

Ivi, essa é pra ti.

E a música que ela escolheu já está no título.

“Decidi começar a escrever as catástrofes que acontecem comigo pra quando algum idiota me matar por causa dessas malditas correntes, eu pelo menos tenha feito algo produtivo em vida... talvez produtivo o suficiente pra limpar a minha vergonha por ter falhado.

Então, por favor, permita que eu me apresente. Eu não sou um cara de riquezas e bom gosto. Não. Eu tenho um Del Rey velho e um apartamento caindo aos pedaços que mal cabe metade da minha mobília. Eu fumo charutos vagabundos, cigarros baratos e a minha coleção inteira de whiskeys não soma trinta dólares. Eu tenho tatuagens, incluindo uma corrente, a corrente pela qual provavelmente me mataram. Eu sou paranóico e fiz um sistema de vigilância com minha câmera fotográfica que ficou tão precário que não durou um dia. Eu tenho um monte de armas velhas e livros com tanta poeira que seria considerado homicídio doloso se eu abrisse um deles na frente de alguém alérgico a pó.

Mas eu não cheguei tão longe assim sendo um fracassado. Eu passei por cima de muita coisa. Eu lutei com cultistas tão velhos que fariam o atraso no lançamento do ‘Chinese Democracy’ parecer uma semana. Eu enfrentei demônios tão horríveis que muitos iriam preferir assistir o filme do Justin Bieber durante dias a sequer ter que olhar para eles. E sim, eu vi gente morta. Com que freqüência? Maior do que eu gostaria. Muitas vezes, gente de quem eu gostava. E foi isso tudo, e o diabo do legado das correntes, que me fez seguir adiante. Isso e, algumas vezes, vingança. Eu já passei por tanta merda que nem sei se a coisa pode piorar.

Não sou conhecido. Não espero que você adivinhe meu nome.

Meu nome é Ivan Della Rey.

E, como você provavelmente percebeu (e se não percebeu, como diabos eu morri contra alguém burro que nem você?), eu não tenho a menor simpatia pelo Diabo.”

domingo, 15 de janeiro de 2012

Amigo Nenhum

Bom, eu não vou me delongar muito. A gente entra em alguns grupos conhecendo apenas uma pessoa e, de repente, em questão de meses... aquele grupo te faz se sentir em casa. As pessoas desse grupo te entendem, se divertem contigo... mas quando a coisa fica séria, eles mostram pro que vieram. No exato momento em que a minha turma da faculdade se dispersou, eu fui agraciado com um grupo assim. E a música dessa postagem foi escolhida por uma pessoa desse grupo.
A Alícia.
Então, aqui está:

“Eu realmente cometi alguns erros grotescos. Sim, acontece com todo mundo, especialmente com gente fodida na vida que nem eu. Mas acho que das idiotices que eu fiz na minha vida, nenhuma foi mais estúpida do que quando eu me mudei pra essa cidade.

Eu lembro que quando entrei com meu Del Rey nas primeiras ruas do centro, tive uma sensação filha da puta. Olhei para o espelho e disse ‘caralho, eu acabei de chegar e já me arrependi’. Sim, foi uma merda. E o pior não é isso: é a imundície disso tudo. Eu moro aqui há vinte anos... essa cidade cresceu que nem tênia em barriga de gordo. E continua TUDO sujo, continua tudo realmente MUITO feio. Eu ando por essas ruas e o cheiro me dá náuseas. Eu já estive em necrotérios abandonados e nunca sequer tive vontade de vomitar, e ainda assim o cheiro de esgoto do centro disso aqui me derruba. E isso não é o pior.
As pessoas são desagradáveis. Eu entendo perfeitamente porque isso aqui é cheio de demônios: todo mundo é tão podre que eles devem se sentir em casa. E não para por aí: não são só as pessoas que são horríveis. Eu sou uma pessoa que gosta de frio, sim. Mas aqui, o inverno é foda... a neve faz com que seja complicado até pra caminhar e o vento é tão gelado que é difícil respirar. É tudo ruim, com escalas ocasionais em ‘muito ruim’ e paradas mais longas do que devia em ‘uma merda’. E ainda assim, eu tô preso pelo dever nesse rincão desolado da fazenda do demônio que alguns insistem em chamar de ‘cidade’.
Diabos, eu odeio isso aqui... até falar daqui me irrita.
Nas poucas vezes que eu viajo, a única coisa que eu penso quando chego nessa desgraça de novo é...
... mil vezes maldita cidade.”

sábado, 14 de janeiro de 2012

Farewell

Essa música foi escolhida por um amigo meu de curta data que eu sequer conheço pessoalmente mas que, sim, eu já considero como um amigo. Passei grande parte do ano conversando e rindo e falando merda com o pessoal no skype e, sinceramente, foi uma das coisas que me fez segurar as pontas durante o ano passado inteiro. Pra iniciar as homenagens e agradecimentos aos meus amigos, começo com a música escolhida pelo André de Peder... Farewell, do Kamelot. Um abração André e obrigado por ter participado.

“Se eu apenas tivesse tido a chance de dizer adeus a algumas pessoas durante a minha vida.
Pra ser sincero, eu me arrependo de muita coisa. De ter seguido o meu legado de família, de ter arrastado algumas pessoas pra isso comigo. Não há nada, talvez, de que eu me arrependa mais do que dessas duas coisas. Não foi fácil, pra mim, entrar num mundo cheio de demônios e, sinceramente, eu tenho tantas marcas (físicas e mentais) devido a essa escolha que talvez nem Deus conseguiria curar a minha alma se ele tentasse.
Mas eu rezo por aqueles que eu amei.
Todos os dias, e é só por eles que eu rezo. Todas as pessoas que, indiretamente, entraram nesse buraco e não saíram. Todas as vezes que eu me deparei com os corpos sem vida daqueles que confiaram em mim. Não foram muitas, mas certamente não foram poucas: a culpa, no entanto, é infinita. E ela marca, como ferro quente. Se todas as vezes que eu tive “certeza do que estava fazendo”, eu parasse e percebesse que ninguém segura a verdade absoluta em suas mãos...
Eu não posso dizer que eu teria feito tudo diferente. Não, talvez eu não tivesse. Talvez eu tivesse cometido o mesmo erro, seguido a mesma linha de raciocínio. Mas se, de todas as vezes que isso aconteceu, eu tive conseguido mudar apenas uma delas... qualquer uma delas. Se em um momento eu percebesse que eu não sou a prova de falhas na hora de envolver os outros e que, por mais que meus planos me parecessem perfeitos, alguém acharia uma falha neles...
Se eu tivesse tido a chance de dizer adeus.”

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Warrior's Pride

Eu não sei COMO e nem QUEM fez isso, mas, de alguma forma, eu fui capturado.

Eu pensei em me destruir, confesso. Realmente pensei... até perceber que não mudaria nada. Eu li aqueles selos, cada um dos malditos milhares que colocaram na minha maldita "prisão". Eu não sei quem teria acesso à magia tão antiga a não ser Revés. Mas eu sei que não foi Revés quem fez isso, pelo menos não voluntariamente. Eu vou achar o infeliz que fez isso. E vou condenar ele pra toda a eternidade. Eu não tenho dúvidas disso.

Mas, antes, eu quero entender o que foi isso.

Uma entidade vestida com um manto caminha em minha direção. É um humano. Isso é inacreditável. Eu tenho milhares de anos de idade e ainda assim esse desgraçado me prendeu.

-Orgulho.- diz ele.

-Você mexeu com o Eterno errado.-respondi.

-Certamente, não. Teriam outros muito piores. Mas eu não pretendo mantê-lo preso para sempre.

-Você não conseguiria. Eu vou sair daqui.

-Não, não vai. Eu estudei esses selos durante centenas de anos. Você está preso.

-Centenas?

-Sim, centenas. Eu fui humano um dia: hoje sou muito mais que isso. Mas, Orgulho, o motivo pelo qual eu fui atrás de você é porque você me fascina. É um excelente combatente. Eu quero testar isso.

-O que diabos...

-Uma arena. Gladiadores. Você e outras entidades de igual poder. É pra isso que você está aqui. E é só assim que você vai sair.

Não gostei da ideia.

Realmente não gostei da ideia.

Blizzard on a Broken Mirror

Eu decidi que vou tentar uma coisa nova no blog. A partir de agora, eu vou escolher uma música não só como título da postagem, mas também como tema, e vou tentar usar frases da música quando for possível, sempre tentando manter a história com sentido. A música estará no título da postagem.

"O espelho quebrado na minha frente me relembra da minha infância. Eu costumava olhar pro espelho que tinha no meu quarto e fingir que existia um reino atrás, um reino meu. Era meu mecanismo de escape quando eu era novo, pra fugir de todo o horror que cercava a minha família. Era a forma de eu manter a minha inocência.

Inocência essa que eu perdi. Agora, eu olho pra esse espelho e tento enxergar meu reino... tento ver um reino em um espelho quebrado. Mas que coisa idiota: é lógico que não tem como.

Eu vou até a janela da casa que eu tô e olho pra baixo. É alto aqui, deve ser o nono ou décimo andar. O demônio que eu acabei de exorcizar tinha escolhido uma bela moradia. Não posso ficar muito tempo, mas tudo isso é tão reconfortante. E o espelho quebrado... tantas memórias...

A nevasca lá fora intensifica. Eu enxergo cada vez menos daquelas ruas. Olho de novo pro espelho e agora ele reflete a nevasca. Nevasca naquele espelho quebrado, nevasca no reino dos meus sonhos... É tão triste. A neve dá uma impressão de isolamento. Saio daquela casa, sigo meu caminho.

E como se nunca tivesse vindo aqui, vou-me embora... ninguém nunca se importará, porque ninguém nunca vai saber o que ninguém nunca viu.


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

End of the Road

"Está chegando. Todos podem sentir.

Pelo menos aqueles que conhecem um pouco. Aqueles que falam a língua dos espíritos, ou dos demônios. É dito em sussurros, ninguém realmente quer chamar a atenção. Mas é dito, e o vento carrega essas palavras. "O fim".

Encho meu copo de whiskey. Tomo um gole, talvez dois. Um cigarro percorre meus dedos como se eu brincasse com uma moeda. Nunca é tarde para mudar de vida: eu posso me mudar pro Alaska e esquecer disso tudo. Logicamente eu posso.

Mas eu não vou.

A espingarda calibre 12 em meu colo não é um brinquedo: é a minha vida, é dela que eu dependo. Dela, de meus dois revólveres, minhas quatro pistolas, minha coleção de facas, as duas espadas e o resto de minhas armas. E as correntes. Ah, as correntes. Malditas correntes.

Meu apartamento de um quarto mal localizado e meu Del Rey velho e podre, mantido funcionando mal e porcamente pelo vínculo quase sobrenatural que eu tenho com aquela porcaria, são as únicas coisas que eu tenho além do meu emprego fajuto que eu uso como desculpa pra ter acesso a todo o tipo de quinquilharia que eu preciso pra manter os demônios longe de mim. Nem sempre funciona, mas foda-se. Eu tenho que carregar o fardo da minha família. Às vezes eu penso em mandar tudo se foder, mas daí eu vejo que se tudo se foder, eu me fodo junto. E isso não me agrada.

Sei lá, isso tudo é uma merda. Merda de cidade.

Merda de mundo.

E merda de corrente."

-Do diário de Ivan Della Rey.