sábado, 27 de novembro de 2010

Pesquisas com animais

Ok.

Acho que tá na hora de por lenha na fogueira.

Acabei de ler um texto sobre testes e pesquisas em animais. O cara, que tava defendendo as pesquisas em animais, falou alguns absurdos como "produção de novos DNAs". Acredito que ele quis se referir à transgenia, uma outra situação passível de discussão. Não vem ao caso.

Eu vim aqui falar sobre pesquisas em animais, evidenciar os prós e contras... e dizer porque eu sou a favor.

Primeiramente, as pesquisas com animais são utilizadas há muito tempo. Segundo esse texto (http://www.ufrgs.br/bioetica/animhist.htm), escrito por um membro da UFRGS que trabalha com éticas em pesquisa animal, são utilizadas desde a antiguidade. Atualmente, existem numerosos estágios de pesquisa antes da pesquisa com animais: ninguém desenvolve uma droga nova e sai injetando ela em filhotes de coelhinhos branquinhos indefesos. Isso é recente: provavelmente, as drogas antigamente fossem testadas em loucos ou coisas assim. Considerando que o inventor da Lobotomia ganhou um prêmio Nobel pela ideia imbecil, eu não duvido de nada.

Droga é qualquer substância que induza mudanças somáticas ou funcionais. Medicamento é qualquer substância que, administrado no organismo vivo, tenha efeitos benéficos.

A questão do sofrimento dos animais é abordada há muito tempo dentro da própria ciência, mas ganhou força na população ultimamente com o crescimento do vegetarianismo. De fato, animais sentem dor, todos sabem disso. Pise no rabo do gato e ele mia, dê com uma cadeira no cachorro e ele late. Não é coincidência, ele não gostou disso. A ideia de "animais sofrem e plantas não" já não pode mais ser considerada válida: não se pode usar o termo "dor", mas as plantas tem formas de se comunicar umas com as outras e, principalmente, de avisar que "tem um desgraçado me mordendo e eu não estou me divertindo com isso". Nós não percebemos... mas as outras plantas da mesma espécie, percebem. Segundo um professor meu de Bioquímica, "se as pessoas pudessem ouvir os sinais químicos que uma folha de alface libera quando você atira vinagre nela, ninguém comeria alface".

Existe um grande princípio envolvido que é o bom e velho "a natureza NÃO EXISTE para nos servir". Isso é correto. Aliás, não acho que haja um "motivo" para a existência da natureza. Ela simplesmente surgiu. O ser humano é um animal como os outros, com a capacidade social e intelectual adaptada para um conjunto de situações. A criação de sociedades, a vida em grandes grupos e o uso de ferramentas. Até agora, nada novo para a natureza. Agrupamento de indivíduos existe desde as bactérias, sociedade com divisão de tarefas existe desde os Hymenoptera (ordem a que pertencem as vespas, formigas, abelhas e marimbondos), talvez até antes (quem souber, corrija-me), uso de ferramentas existe em outros primatas, mas as represas dos castores podem ser consideradas "ferramentas". O "raciocínio lógico", que a ciência não sabe definir muito bem, talvez seja uma das nossas características mais próxima de "exclusiva". A defesa dos animais é uma causa válida: existe muita tortura, justamente porque acreditamos que somos superiores. Não é idiotice ou "falso altruísmo": é algo sério e deve ser respeitado mesmo por aqueles que não se envolvem com o ativismo ambiental.

Voltando para o tema da postagem: pesquisas com animais. Sim, os animais sofrem. Sim, várias pesquisas machucam os animais. Não, a ciência não gosta disso. Um cientista não é alguém que estuda a vida inteira formas diferentes de torturar ratinhos, coelhos, macacos... não, definitivamente não. Pelo menos, não todos. Existem laranjas podres em todos os cestos, a ciência não seria diferente. Pesquisas com animais são situações complicadíssimas, especialmente quando se lida com os ditos "animais superiores": vertebrados, especialmente mamíferos. Ninguém nunca reclamou de pesquisas com moluscos ou do desenvolvimento de inseticidas. Isso é porque eles não sentem dor? Ops, não... porque eles sentem. Isso provavelmente se deve ao fato de que eles não GRITAM.

O grande problema das pesquisas com animais é o grito. Se você vê uma foto onde tem um caracol recebendo uma microinjeção ou uma lula dissecada, dane-se. Olhe a expressão dela: ela nem sabe o que está acontecendo. Isso é mentira.

Os animais que gritam, que fazem barulho. Esses são os coitadinhos.

As pesquisas com animais são IMPORTANTÍSSIMAS para a ciência. Podemos ser diferentes do rato morfologicamente, mas temos uma proximidade relativa com ele no quesito evolutivo. A existência dos mamíferos é relativamente nova, do ponto de vista geológico. Muitas drogas funcionam no corpo desses animais de forma muito semelhante a como funcionam no nosso. Não é exatamente igual, mas algumas vezes pode-se prever os resultados.

Praticamente TODOS os remédios desenvolvidos passaram por uma fase de triagem com animais, talvez até não haja exceção. Os Comitês que coordenam o desenvolvimento de novas drogas com o intuito de preservar a saúde humana são rígidos nesse aspecto. O teste com animais NUNCA é a primeira parte: na realidade, começa-se com culturas de células, ou seja: amostras de tecidos crescem em plaquinhas e então você aplica a substância nelas. Sem animaizinhos sofrendo.

Porque então não se usa somente isso?

Pelo mesmo motivo que impede as pessoas de viver tendo SÓ o cérebro ou SÓ os rins ou SÓ o fígado. Existe integração entre sistemas do organismo e, já que ainda não se pode simular isso in vitro, passa-se para a próxima fase do teste: pesquisas em animais.

Porque não se passa direto para humanos? Porque, bom, você dificilmente vai ver um leão caçando outro leão se tiver uma zebra por perto. Chama-se "instinto de presevarção". Se você fosse ser atropelado e tivesse um rinoceronte do seu lado, você provavelmente colocaria ele na frente, se conseguisse. É o instinto humano preservar o humano.

Mas a pesquisa é de humanos. Porque não usar humanos? Bom, a fome era do leão e quem se ferrou foi a zebra.

Meu exemplo foi infeliz, mas o que eu quis dizer é que a humanidade tende a se proteger. Existe um princípio na pesquisa chamado de 3 R's: Replace, Refine, Reduce. Replace significa substituir: ou seja, as pesquisas por animais DEVEM ser substituídas, sempre que possível, por outro modelo capaz de dar o mesmo resultado. Refine significa refinar, ou seja, a pesquisa não deve ser conduzida a menos que os dados provem que vale a pena seguir a pesquisa (sem consequências drásticas para o organismo). Reduce significa reduzir: o número de animais deve ser o menor necessário para provar a eficiência da droga ou medicamento.

A pesquisa com animais é importantíssima para evitar que drogas não-funcionais ou maléficas caiam no mercado, e MESMO ASSIM, com todo o rigor envolvido, nem sempre funciona. A talidomida é um exemplo: mesmo o teste com animais não indicou consequências. Imagine que SEM os testes com animais, um número ainda maior de mulheres teria tido seus filhos prejudicados pela droga.

Os métodos substitutivos que existem atualmente não são capazes de substituir a fisiologia, e é por isso que as pesquisas com animais persistem. Medicamentos não são substâncias boazinhas: a diferença entre cura e veneno está na dose. No caso de alguns antibióticos, a diferença pode chegar ao nível de 18 (não lembro a unidade) ser uma concentração de tratamento e 20 ser tóxica. Quase ninguém GOSTA de ferir animais para pesquisas, mas é um mal necessário até que se desenvolva outra forma. Sem a medicina e a farmácia, a humanidade está fadada a uma série de epidemias em larga escala: nosso sistema imunológico não conseguiria lidar com as diversas patologias que foram "globalizadas".

Ufa, cansei.

Se você leu até aqui, faça um comentário (provavelmente vai ser me xingando, mas dane-se).

Qualquer um que queira conversar mais sobre o assunto, sinta-se à vontade para fazê-lo.

3 comentários: